A tecnologia deve se adaptar ao produtor rural e não o contrário, defendem especialistas
Que o campo tem limitações causadas pela falta de conectividade não é novidade para ninguém, mas os obstáculos enfrentados pelo produtor rural não envolvem só isso. “Um problema que a gente percebe é que muitos aplicativos e soluções fazem com que o produtor tenha que se adaptar a elas e não o contrário”, destaca Sérgio Medeiros, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste.
Medeiros pontuou gargalos entre durante painel do AGROtic, evento realizado pelo Tele.Síntese em parceria com a ESALQTec, que reuniu representantes do setor para falar de rentabilidade, inovação e sustentabilidade na pecuária.
A Embrapa aposta em alternativas mais práticas para que a adoção seja mais efetiva. “A medida que a gente for evoluindo com a questão da inteligência artificial, a gente vai melhorando essa parte. Deve ser cada vez mais um uso intuitivo, sem que a pessoa tenha que sair menos da rotina para alimentar os aplicativos e ter as respostas”, afirmou o pesquisador.
Outras medidas de avanço destacadas são as capacitações, olhando para produtores que tem conectividade mas não conseguem usar todo o potencial das ferramentas. Medeiros afirma que já há iniciativas boas na própria Embrapa, só que precisam ser mais difundidas, como o aplicativo Pasto Certo.
“O Pasto Certo tem todo o portifólio de forrageiras da Embrapa e permite que a pessoa faça a escolha certa para seus objetivos. É um exemplo de algo que o investimento é praticamente zero e tem um efeito de longo prazo, de maneira positiva e forte para a fazenda”, afirmou Medeiros.
O pesquisador afirmou que a Embrapa deveria trabalhar mais com hubs, mas que não faz isso “por causa de amarras”. “Quando a gente tem uma oferta grande, de boas oportunidades e, por falta de gente, não conseguimos absorver, a gente fica muito frustrado”, afirmou.
A armadilha do ‘hype’
Maurício Palma Nogueira, Diretor da Athenagro e Coordenador do Rally da Pecuária, complementou o posicionamento de Medeiros. “Eu participei recentemente de uma iniciativa de empresa de tecnologia, que queria ouvir produtores para chegar a uma solução. Cada um queria colocar uma forma diferente de gerir o próprio negócio”.
Nogueira destaca que é um cenário desafiador e exige criatividade.
“Como é que você cria uma ferramenta que se adapta a uma atividade que tem inúmeras combinações de sistema de produção? A melhor forma que a gente tem é fazer com que o produtor, de forma voluntária, entre, veja benefício naquilo, consiga medir o que ele está fazendo. E essas ferramentas vão permitir medir, mas não vão fazer mágica…”, complementou Nogueira.
Marcos Iguma, Head da Unidade de Bovinos de Corte da Arroba Tech, pontuou as dificuldades do lado dos desenvolvedores.
“Não adianta eu pegar uma fazenda que tem séculos de história e querer que ela se adapte porque a tecnologia está em alta. Esse tipo de coisa não se desce goela abaixo. É um desafio dos dois lados: o investidor que está buscando uma empresa profissional e capaz de desenvolver uma tecnologia de ponta e uma empresa que está lutando pra sobreviver pra fazer uma tecnologia de ponta”, disse o executivo da Arroba Tech.
Iguma destaca que “o maior desafio para a agropecuária em termos de adoção de tecnologia é conhecer as tecnologias disponíveis”.
“Eu acredito fortemente que essa difusão é o que vai acelerar o processo nesse caso. Tecnologia tem, produtor de qualidade tem, produto de qualidade tem, proatividade o Brasil tem demais, levar essa informação pro campo é o nosso principal desafio”, concluiu Iguma.