A Surf monta uma nova operadora móvel em 60 dias, afirmam seus diretores

A Surf Telecom tem em carteira 105 grupos empresariais que usam o seu chip e os seus sistemas com marcas próprias. Lista que reúne grandes bancos, varejistas e muitos provedores regionais. Falar em MVNO é falar na Surf, que garante montar uma operação móvel em 60 dias, contam Alexandre Pieroni e Davi Fraga, diretores da empresa.

A Surf Telecom, dirigida por Yon Moreira, ingressou no mercado brasileiro de telecom com a marca da audácia. Em 2015, surpreende os competidores ao arrematar a frequência de 2,5 GHz de São Paulo com um ágio 30 vezes maior do que o preço mínimo definido no leilão de sobras da Anatel daquele ano. Depois, em disputa com a Claro, vence a licitação dos Correios para oferecer o celular em todo o país, consolidando-se como a empresa habilitadora de novas marcas (MVNE), com a rede da TIM.

Dobrando de tamanho todos os anos, a operadora contratou mais diretores no início de 2021 e redefiniu as funções de seus pioneiros. Davi Fraga, um dos sócios, passa a responder pelos sistemas e estrutura de rede, como CTIO, e Alexandre Pieroni passa a acumular o operacional, comercial e RH, como COO. Em entrevista ao Tele.Síntese, os dois diretores falam dos planos para este ano: a consolidação e ampliação do número dos clientes de seus clientes; o lançamento de IPO; e a manutenção da estratégia, também no segmento financeiro, de levar serviço, e agora, microcrédito, para a população de baixa renda.

O leilão do 5G?  A empresa prefere aguardar a publicação definitiva das regras do edital, anunciado na semana passada, para fazer as contas. Como afirma Fraga, “tudo vai depender do ticket de desembolso”. Mas uma certeza seus executivos têm, ” Pensar em MVNO no país, é falar na Surf. Nós montamos uma operação em 60 dias”, completa Pieroni. E é por isso que a empresa já tem 105 marcas com o  chip.

Tele.SínteseA Surf Telecom, com poucos anos atuando, começa a enveredar para o microcrédito. Quais os segmentos de telecom e bancário que está priorizando ?

COO da Surf Telecom
Alexandre Pieroni, COO da Surf Telecom

Alexandre Pieroni, COO Estamos também no mercado de whosale, retail, varejo, ISPs e agora bancos.

Tele.Síntese – Sempre na filosofia de White Label?

Pieroni – Sim. Já temos 105 marcas com o nosso chip. Estamos também em IoT, principalmente para as áreas de saúde e telemetria.

Tele.Síntese – Qual o número de clientes da base da Surf ?

Pieroni – Já temos cerca de 1,5 milhão de clientes através de nossos parceiros. Os ISPs, por sinal, também são parceiros importantes. Nós temos 35 deles em nossa base.

Tele.Síntese – Têm alguma meta de  empresas a serem conquistadas este ano?

Pieroni – Não negamos novas empresas que queiram ser MVNO (Operadoras Móveis Virtuais) conosco,  mas este ano vamos nos concentrar  em ampliar o potencial de nossa base de clientes

Tele.Síntese – Como assim?

Pieroni – Nós contamos com 105 empresas que são nossos MVNOs  e podemos gerar negócios e rentabilizar mais essa clientela.  Estaremos focados nessa questão este ano. A estratégica é fazer com que os clientes finais se relacionem mais com a marca.

Tele.Síntese – E como vocês estão avaliando o leilão da 5G? Já que a Surf Telecom surpreendeu na última venda, arrematando a frequência em São Paulo? 

Davi Fraga, CTIO  – Existe o interesse. Mas precisamos conhecer o formato final. No leilão que participamos, a venda foi por municípios, o que exigia “tickets” menores. A frequência que arrematamos em 2015 é compatível com o 5G – de 2,5 GHz- . Com nossa frequência a gente já está oferecendo o FWA (banda larga fixa baseada na rede 5G)

Tele.Síntese – Mas no caso do FWA, vocês estão atuando nas periferias, não?

Fraga – Sim. Também sempre com parcerias. Nós já iluminamos toda a comunidade de Paraisópolis [ grande bairro favelizado  em São Paulo, na zona sul da cidade, com mais de 45 mil moradores], conectamos o Jardim Panorama [ favela no bairro do Morumbi}, iniciamos teste em Sapopemba, em São Paulo, e Rocinha no Rio de Janeiro.

Tele.Síntese – E qual é a avaliação de vocês em estar presente nessas localidades?

Fraga – A experiência é muito boa, pois são comunidades que não têm qualquer metro de fibra óptica. Elas não têm opção. E a entrada de uma banda larga sem fio faz muito mais sentido. E são os ISPs dessas comunidades que revendem os nossos serviços.

Tele.Síntese – A Surf  mantém a intenção de abrir o capital?

Fraga – Sim. Estamos estudando o lançamento de uma IPO (oferta inicial de ações) para este ano, para ampliarmos o nosso negócio. Esses recursos aceleram nosso crescimento tanto para a expansão da rede como ingresso de outros objetivos como M&A, onde houver oportunidade.

Tele.Síntese – E como ficou aquela questão do parceiro tecnológico da empresa?

Fraga – Ficou resolvido. O problema aconteceu em julho do ano passado, quando a empresa de tecnologia desligou os sistemas. Mas da noite para o dia conseguimos ligar todos os clientes, liberamos o consumo e fomos reconstruindo os sistemas de controle para que os clientes pudessem recarregar crédito, e assim por diante. A nossa principal preocupação era a de que não poderia haver descontinuidade do serviço.  Desenvolvemos, então, uma solução interna e acabamos criando mais features, criando mais flexibilidade de planos para os nossos 105 parceiros.

Tele.Síntese – E como a Surf Telecom está se posicionando rumo ao sistema financeiro?

Fraga – Não queremos ser bancos digitais. Aí já tem muita competição. Temos a nossa conta digital, que é o Surf Bank, mas estamos focados em empréstimos. E encontramos um novo segmento de atuação que é a parceria com as utilities.

Tele.Síntese – Como funciona essa parceria com as utilities?

Fraga – Algumas dessas empresas podem ter problemas com inadimplência, por exemplo, e a gente faz oferta de microcrédito – de R$ 300 a R$ 500 – que pode ajudar ao cliente da concessionária. Ele paga o empréstimo na própria conta de energia elétrica e com juros bem razoável. Outro benefício interessante é que o cliente pode sacar o dinheiro em qualquer agência dos Correios. O que significa que a gente tem uma capilaridade para todos os municípios do Brasil.

Tele.Síntese – Há atualmente dois movimentos no mercado: as telcos entrando no sistema financeiro e os bancos entrando no mundo de telecomunicações. Como a Surf Telecom se coloca?

Fraga – A gente oferece a conectividade para os bancos, em um time to marketing muito rápido.

Pieroni – Em 60 dias, a gente monta uma operadora móvel. Temos uma velocidade muito rápida para fazer acontecer. Somos um facilitador para qualquer empresa se tornar um MVNO rapidamente.

Fraga – Os bancos não querem ser só bancos. Querem oferecer outros serviços para seus clientes e o celular é uma opção para aumentar o relacionamento do cliente com o próprio banco.

Tele.Síntese – Mas, na hora em que a Furf Telecom também passa a oferecer crédito, não poderia esbarrar em seus clientes bancos MVNOs?

Fraga – Estamos atuando com microcrédito, onde os bancos não querem estar. Os bancos querem ticket maior, e assim não competimos com ele. Temos um mercado enorme

Tele.Sítese- E como vocês imaginam esse ano? Mais ou menos difícil?

Fraga– Desde que começamos, todos os anos a gente dobra de tamanho, em receitas, funcionários, base de clientes.

Pioeroni – Nós já mudamos do estágio do “difícil e o impossível” para o “trabalhoso e difícil”. Nós começamos a atuar em 2017 e já crescemos mais do que a antiga GVT. E ainda somos a terceira operadora mais bem avaliada, conforme os indicadores da Anatel.  Quem pensa em MVNO hoje no país, não pode deixar de pensar na Surf Telecom.

 

 

 

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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