Pagotti anuncia a mega licitação de nuvem pública para o governo federal

O Ministério do Planejamento já definiu o modelo de contratação da nuvem pública do governo federal. Segundo o secretário de Tecnologia de Informação do ministério, Marcelo Pagotti, na próxima semana, será lançado o edital de licitação para a contratação de um broker. Esse broker terá que vir com dois fornecedores de nuvem diferenciados. E o governo busca com essa contratação, que, pelas suas projeções, deverá estar concluída até julho, ganhar em agilidade na oferta de serviços digitais ao cidadão. Prepara também uma nova contratação dos serviços de telecomunicações, para acabar com o pagamento por tipo de ligação pelo celular (local, VC1; longa distância interestadual VC2; e longa distância nacional VC3). Ele nega os rumores que circulam há dois dias de que estaria demissionário.

Foto: Gleice Mere/MPO Ministério do Planejamento já definiu o modelo de contratação da nuvem pública do governo federal. Segundo o secretário de Tecnologia de Informação do ministério, Marcelo Pagotti, na próxima semana, será lançado o edital de licitação para a contratação de um broker. Esse broker terá que vir com dois fornecedores de nuvem diferenciados. E o governo busca com essa contratação, que, pelas suas projeções, deverá estar concluída até julho, ganhar em agilidade na oferta de serviços digitais ao cidadão. Prepara também uma nova contratação dos serviços de telecomunicações, para acabar com o pagamento por tipo de ligação pelo celular (local, VC1; longa distância interestadual VC2; e longa distância nacional VC3).

Nessa entrevista, o Secretário fala também do blockchain e em como essa tecnologia precisará ser regulametnada pelos governos e bancos centrais do mundo. E provoca: ” o blockchain vai ser a maconha do mundo digital. Se não regulamentar, ela vai continuar a existir, mas no submundo”.

Pagotti tem resultados importantes a mostrar à frente da secretaria, como o pontapé para a digitalização, por biometria, do passaporte, a adoção da carteira de motorista pelo celular, o certificado digital de animais para viagens internacionais. E reconhece: “digitalizar o Estado brasileiro é levar serviço de uma maneira mais rápida, mais fácil, ligar ao que o mercado está oferecendo. Muita gente fala que “minha vó usa Facebook, minha vó pede comida, minha vó usa táxi” e quando tem que pedir um serviço do governo tem que entrar na fila”. Mudar essa agenda é a nossa prioridade”

A seguir os principais trechos da entrevista:

Tele.Síntese: A sua gestão implementou diversos projetos para melhorar a eficiência do serviço de e-gov ao cidadão, como a nova carteira de motorista e novas regras para o passaporte. Havia um estudo sobre a nuvem.  Vocês já definiram o que querem com a nuvem?

Marcelo Pagotti- Decidimos que a gente vai contratar um broker.

Tele.Síntese: Qual é o papel do broker na nuvem?

Pagotti: Fará todo o controle da nuvem, que é a  locação de recursos, contratual, SLA, SLN, toda a parte de getão.  O broker irá trazer também  dois fornecedores de nuvem. Por quê? Nós tínhamos a necessidade de dois provedores, não podíamos ficar na mão de um só.

Tele.Síntese: Por quê?

Pagotti: Por uma questão de competitividade e para o governo se  preservar o caso de qualquer problema financeiro, qualquer problema que apareça, contará  com  um backup.

Tele.Síntese: Já abriram a licitação?

Pagotti: Não. Está indo para o mercado agora. Na primeira semana depois o carnaval. Esperamos concluir o processo em 120 dias, até julho. Nós optamos, nessa primeira fase do piloto, contratar alguém do mercado para falar a mesma língua da nuvem. A  ideia é que a gente faça essa primeira fase, para aprender com esse broker e ele será o responsável de trazer os dois fornecedores e fazer toda a gestão.

Tele.Síntese: E o tamanho do contrato, você pode falar? Vocês estão contratando só para o Ministério do Planejamento?

Pagotti: Estamos contratando para o Planejamento e abrimos para mais dez ou doze órgãos, mas a nossa ideia é de que qualquer ministério que precise de serviço digital crie uma conta  e depois faça o repasse da verba que ele gastaria com TI para fazer o pagamento aqui.

Tele.Síntese: Na verdade então, o ministério vai ser um fornecedor de serviço?

Pagotti: Sim, vai ser um fornecedor de serviço. Exatamente. Tem muita ociosidade de nuvem no mercado, e a gente quer aproveitar.

Tele.Síntese: E porque essa ociosidade, é a crise ou excesso de investimento?

Pagotti: Acomodou uma boa parte. Os chineses estão investindo bastante com as operadoras, as operadoras estão se reinventando.

Tele.Síntese: Qual o perfil? São as teles, data centers?

Pagotti: Vamos falar da Embratel. Embratel teve um case maravilhoso no Copa do Mundo. Ela ganhou o edital do TCU com um preço muito competitivo. Acho que as operadoras serão grandes players e outros provedores de TI do governo federal estão se preparando para isso.

Tele.Síntese: Com essa licitação, o que migra para o serviço de nuvem? O que vocês estão imaginando?

Pagotti: A princípio, tudo que é dados abertos pode ir pra nuvem. Tudo aquilo que não é classificado como confidencial ou que tenha dados sensíveis do cidadão também pode ir. Se a gente falar um pouco de TI, para mim tudo que não tenha regras de negócios pode ir para a nuvem. Deixa o banco de dados para trás, Exchange, web service, toda aquela parte em si.

Tele.Síntese: Sua expectativa é reduzir custos e melhorar o serviço? Qual é a prioridade?

Pagotti: No primeiro momento, agilidade. Hoje, se chega o ministro de uma pasta e fala “quero lançar o programa X”, e  tiver que fazer investimento e infraestrutura, são seis meses. Com nuvem você faz o provisionamento e o servidor está pronto no outro dia. Primeiro ponto é esse. Segundo é desonerar os ministérios de fazerem toda aquela manutenção de contrato, de sala cofre, de servidor, de software, etc. E o terceiro, logicamente, é preço. Mas  em uma escala, agilidade e segurança são o fundamental em nuvem.

Tele.Síntese – A licitação vai estabelecer alguma condição para a manutenção da base de dados no Brasil?

Pagotti: Sim, a discussão continua. Dependendo da classificação da informação. Se forem dados abertos, tanto faz. Mas o controle do fluxo de dados entre os países não foi resolvido. Eu tenho minha opinião:  tem que fazer igual maleta de embaixador. Maleta de embaixador, é inviolável, você pode por o que quiser. Então a gente tem que respeitar que aquele espaço de dados que eu coloquei na Alemanha, por exemplo, e falei “isso é do cidadão brasileiro”, tinha que ser inviolável.

Tele.Síntese: Independentemente de quem guarde?

Pagotti: Exatamente. E se vazar e provar que ele vazou, vem  as sanções. Mas é muito complexo. Tem muita paranoia nessa questão toda ai. Nós, como guardiões dessas informações do cidadão vamos ter que nos preocupar, sim. Eu sei que atrapalha um pouco a indústria, a empresa americana fica brava, empresa chinesa fica brava, mas…

Tele.Síntese: Então, para você,  o nível de controle tem que ser fora dos dados abertos. Isso vai estar na descrição do edital?

Pagotti: Vamos seguir a normatização do GSI, que é a da classificação da informação e junto vamos fazer todo workshop com os ministérios, ajudar a definir o que vai para a nuvem primeiro, como vai para a nuvem.

Tele.Síntese: Essa licitação  não está entrando numa de incomodar o fornecedor privado? Porque o Planejamento vai ser fornecedor.

Pagotti: Para deixar bem claro, hoje um ministério vem aqui e  pede analista de tecnologia da informação para fazer gestão de contrato. Não vai mais precisar disso. Vai usa o serviço que eu contratei e o Planejamento fará o serviço de gestão de contrato.

Tele.Síntese: Mas você vai ter uma remuneração sobre isso?

Pagotti: Não! Eu quero que o cara use o serviço. Quero ganho de escala. Ao invés de cada um ir lá e contratar a mesma coisa pequena, nós contratamos uma grande e redistribui. Se eu não faço esse processo, cada um dos ministérios terá que fazer de novo, são 23 contratos, 23 fiscais, 23 pagamentos. Vai diminuir o custo. É isso que estou apostando. Se um for mais eficiente que eu, pode continuar fazendo o serviço, mas a gente sabe que tem muitos ministérios que não esta conseguindo fazer o acompanhamento decente da governança de TI. É isso que estou oferecendo.

Tele.Síntese: Em relação as redes de telecom, vocês continuam fazendo aquelas contas centralizadas? Vocês vão migrar para IP?

Pagotti: Vou investir esse ano em telefonia, sair desse modelo de PABX horrível. Estamos vendo com alguns fornecedores algumas soluções de entregar ponto em cima da mesa e pedir para revisar o edital de celular, porque a gente ainda contrata VC1, VC2, VC3.

Tele.Síntese: Só para o Planejamento ou para o  governo todo?

Pagotti: O governo todo. Isso esta ultrapassado. Fica até mais caro para as teles para manter o sistema antigo do que migrar para um pacote de dados.

Tele.Síntese: Em relação á lei de proteção de dados. Acredita que haverá uma posição este ano?

Pagotti: Posição de governo, sim. Só não sei se vai ter  do Legislativo. E a posição de governo é:  uso para dentro do governo o máximo possível. Se você pega um programa social do governo, os dados tem que ser compartilhados entre o governo.

Tele.Síntese: Mas e a  privacidade dos dados.

Pagotti:  Estamos participando na comissão do senado. Estamos vendo com o CGI.br para proteção do cidadão como um todo, não só o governo. Balancear e ver as tendências, para não acontecer aquele abuso de que nenhuma informação pode passar, nem o seu nome, porque é protegido por algum sigilo. Então, a palavra chave  é balancear.

Tele.Síntese: O problema desse balanço é justamente ele….

Pagotti: Sabe o que eu acho? Que tinha que deixar o cidadão decidir o que quer. Ser desenvolvida uma experiência aonde se eu quisesse pegar um empréstimo financeiro eu tinha que abrir mão do meu dado. É justo isso? Será que para o banco me dar um juros mais barato ele tem que ver quanto eu ganhei de contra cheque? Então é isso, não deixar que as empresas ganhem em cima da minha informação. Eu escolho o que eu posto na minha informação para o meu beneficio. Tem métodos de você programar o seu compartilhamento por um tempo específico. Você pode fazer por tempo ou eu posso ser remunerado pela minha informação. São vários modelos que a privacidade não é só bloquear, privacidade é que eu tenho direito sobre aquela minha informação.

Tele.Síntese: A Europa começou com uma experiência interessante que é aquela de liberar a base financeira do cidadão para qualquer um. A empresa pode ter acesso para vender serviços financeiros.  O que você acha?

Pagotti: É complicado. Foi mais ou menos o que o Serasa está pressionando. É uma discussão que a gente tem que fazer. Eu sou totalmente favorável a abrir todos os meus dados, desde que não comprometa minha segurança física.

Tele.Síntese:  Por que a privacidade leva para o blockchain?

Pagotti: O blockchain, com uma identidade, te garante o relacionamento transacional entre pessoas-pessoas, pessoas-governo. Porque a gente tem cartório no país?

Tele.Síntese: Não deveria ter.

Pagotti: Esse é o potencial, é diminuir esses intermediários porque a própria tecnologia implementa essa intermediação. O contrato está implementado na tecnologia. Contrato ponto a ponto. Uma questão social: favela tem escritura? No blockchain poderia ter um registro. O próprio dinheiro que é investido em favela já é um blockchain formal, só não está implementado pela tecnologia.  Blokchain é uma tecnologia que  gente tem que vender para o Banco Central e ver qual a aplicação que isso pode dar. A tecnologia implementa a parte de compliance. Ao invés de eu ter que manter na minha empresa um compliance para garantir que aquela transação é válida, segura, imutável, a própria tecnologia viabiliza isso e eu tiro toda carga operacional.

Tele.Síntese: E aonde que começa o blockchain?

Pagotti: Por exemplo, controle de placa de carro. Tem tantas fraudes de circulação de veículos. Rastreabilidade de qualquer tipo de bens.

Tele.Síntese: Quanto tempo para o blockchain amadurecer?

Pagotti-  Mais uns três ou quatro anos.  Tem coisas acontecendo no mundo que a gente vai ter que prestar atenção nos próximos cinco anos. Blockchain é uma delas. Como vai ser por exemplo, nos EUS, a questão da liberação da maconha?

Tele.Síntese: Em Denver a maconha foi liberada também para entretenimento, não só para a saúde. Mas o que tem haver a liberação da maconha com o que a gente está falando? (risos)

Pagotti: A gente vai ter que enfrentar. Por exemplo, nos EUA você não pode movimentar dinheiro que provem de drogas. Então,  todo o dinheiro do vendedor, não pode colocar no banco. Voltamos ao passado porque a gente não enfrenta esse problema. O blockchain vai ser a maconha do mundo digital. Está ali, o cara pode fazer isso, mas se não regulamentar vai ficar como se fosse no submundo.

Tele.Síntese: Tem alguém discutindo a regulamentação de blockchain?

Pagotti: Alguns Bancos Centrais já estão pensando.

Tele.Síntese: Há algum risco de mudar a relação financeira do mundo com o blockchain? Por que?

Pagotti: Porque não precisa passar pelo Banco Central. Você tem o poder financeiro e o poder politico. Você tem o financeiro no seu controle. Vou dar um exemplo: porque que o dólar é tão usado nas transações comerciais?

Tele.Síntese: Porque centraliza tudo em Nova York, você não faz nada sem ser por lá.

Pagotti: E aonde esta o poder em cima disso ai? A taxa. Se hoje eu faço uma transação em Real para o Yen, não preciso mais do dólar. O blockchain vai permitir isso. Isso muda muito os poderes.

 

 

 

 

 

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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