5G vai coexistir com parabólicas, apontará relatório da Anatel
A Anatel deverá concluir nesta quarta-feira, 31, relatório apontando que, após dois dias de reuniões, houve consenso entre operadoras de telecomunicações e fabricantes de celulares e retransmissores de TV de que será possível a coexistência técnica da tecnologia 5G com as antenas parabólicas residenciais que levam TV a 22 milhões de domicílios no país. As alternativas serão filtros melhores nas antenas para evitar interferências e antenas de 5G com maior distância e potência.
As reuniões foram convocadas pelo Comitê de Uso do Espectro e de Órbita da Anatel para avaliar os resultados dos testes de interferências conduzidos pela agência em relação às transmissões em tecnologias IMT-2020 (LTE e 5GNR) na faixa de 3,5 GHz. Os participantes da reunião trataram de alternativas para mitigar as interferências tanto nas parabólicas residenciais quanto nas profissionais, ligadas às emissoras de televisão.
Um dos participantes da reunião informou que não foram abordados questões fora do tema central sobre a mitigação das interferências. Daí não ter sido tratada a questão da eventual migração para outras alternativas de conexão, a exemplo da Banda C.
Há receio por parte de fabricantes de que a adoção de novos filtros poderá encarecer o valor das parabólicas prejudicando e até impedindo o acesso à TV por uma massa de consumidores de baixa renda conectados aos canais abertos por meio desses aparelhos. “Essa é uma questão de política pública que está fora do escopo do debate técnico”, afirmou um dos participantes.
Sem alternativas
Nas reuniões, houve preocupação do setor de emissoras de TV quanto à exclusão dos usuários que têm televisores conectados via antenas parabólicas. A gerente de Estratégia e Regulatório na área de Tecnologia da TV Globo, Ana Eliza Faria e Silva, disse que será possível ajustes técnicos para evitar que a tecnologia 5G prejudique as operações de transmissão das empresas. Acrescentou, porém, que não há alternativas para minimizar as interferências nas parabólicas domésticas. “Estamos buscando um consenso. Há alguns detalhes que precisam ser melhorados”, comentou.
A gerente da TV Globo participou da reunião representando a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), uma das entidades convidadas pela Anatel para discutir o estudo dos testes de interferências. Disse que caberá à Anatel encontrar alternativas para contornar o problemas principalmente nas parabólicas residenciais, destacando que os radiodifusores não irão participar do leilão da 5G, previsto para o primeiro semestre de 2020. Disse que não compete ao setor avaliar a exclusão da faixa de 3,5 GHz da disputa.
“A interferência acontece nos dois casos que interessam à radiodifusão: as operações profissionais e as operações domésticas, ou seja, interferem na recepção de parabólicas domésticas e de parabólicas profissionais”, disse a executiva. Ela citou que a 5G vai afetar 22 milhões de residências atendidas por parabólicas, com base em dados de 2017 da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).
Mas, conforme o presidente da Anatel, Leonardo de Morais, não se sabe quantas dessas residências pertencem apenas à população de baixa renda, visto que esses equipamentos também são muito usados em casas de praias luxuosas.