5G: As maiores mudanças virão para as corporações

A 5G será pouco conhecida do usuário final, aquele que quer mais banda e mais velocidade. Nos primeiros anos a nova tecnologia estará, no máximo, em alguns pontos das grandes cidades brasileiras. Mas ela estará muito presente em diferentes verticais produtivas, onde as operadoras de telecom estarão prestando o serviço que melhor sabem, em missões críticas.

A Anatel anunciou recentemente que irá realizar a venda das primeiras frequências da 5G – ou quinta geração da telefonia móvel – em março do próximo ano, para que o país não fique muito distante das iniciativas de fora. Mas, afinal, o que essa nova tecnologia tem de tão diferente,  que mobiliza a indústria dos países desenvolvidos há tantos anos? Qual será a sua contribuição para o Brasil?

Se há um consenso entre os fabricantes, é que a 5G não irá trazer apenas “mais do mesmo”, ou seja, não é uma mera agregação de mais velocidade e mais banda para o usuário final de telefonia móvel. Na verdade, concordam, os usuários finais de celular poderão até ter acesso ao “mais do mesmo”, ou seja, irão baixar vídeos ou mesmo trabalhar com realidades virtuais e realidades aumentadas. Mas isso ocorrerá por alguns bons anos  somente em pequenos pontos de grandes cidades, já que ninguém vislumbra, por um bom tempo, que a rede de 5G tenha alcance nacional.

” A 5G não está sendo construída para os heavy users da telefonia móvel, se não, não paga o investimento”, reconhece Hugo Baeta, diretor de operadoras da Cisco. ” A transição da 4G para a 5G é muito mais importante do que as mudanças que ocorreram nas gerações anteriores, porque as operadoras de telecomunicações vão deixar de prestar o serviço apenas para os usuários finais de celular e vão prestar serviço para os demais segmentos econômicos”, afirma Marcos Scheffer, vice-presidente de redes para a  Ericsson Latam Sul.

“A 5G vai demandar um grande volume de investimentos. Algumas operadoras podem até ficar no bê a bá, mas muitas vão querer partir para o B2B, que remunera mais e abre novas possibilidades de negócios”, diz Wilson Cardoso, CSO da Nokia.

Quais são essas novas oportunidades? Os fabricantes de tecnologia apontam que as operadoras de celular irão mudar radicalmente seu DNA, pois passarão a prestar serviços para os mais distintos segmentos da economia.

“A transformação digital da indústria, do transporte, da segurança pública, da saúde será orquestrada pelas operadoras de telecomunicações, que terão que se associar a diferentes entidades para prestar o serviço fim-a-fim”, completa Scheffer.

Novas redes

Não é só o cliente final que vai mudar. As próprias redes de telecomunicações terão formatos e arquiteturas muito diferentes. Esse novo formado,  aponta Roberto Murakami, diretor de carriers da NEC, baseado no OPEN Ran (ou Radio Acess Network aberta) irá permitir que novos players passem a fornecer seus produtos e tecnologias para as prestadoras de serviço.

” Com o Open Ran, a virtualização tomará conta de tudo e as empresas de software poderão ter um papel importante e viabilizar a 5G mais rapidamente”, afirmou o executivo da fabricante japonesa. A NEC não participou do desenvolvimento das tecnologias de 3G e 4G do celular, mas conta com a 5G para reingressar nesse mercado.

Para a Cisco, que também aposta no OPEN Ran, esse padrão significa dizer que uma operadora não precisará mais ficar presa a um ou poucos fornecedores. ” A flexibilidade é muito maior, pois vários pontos da tecnologia de virtualização e automação podem ser inseridos no mesmo modelo, otimizando investimentos e reduzindo custos de operação”, assinala Baeta.

“A 5G será a rede mais fixa que se conhecerá no universo”, brinca Cardoso. O que pode parecer um grande paradoxo. Mas, explica ele, essa rede, porque vai entrar em todas as verticais econômicas, a melhor alternativa para a sua rentabilização, dificilmente será trocada por um concorrente, como ocorre hoje com os consumidores finais de celular. “As empresas e as  máquinas, com a Internet das Coisas (IoT) não fazem churn [ termo usado para os desligamentos de linhas], aumentando bastante a rentabilidade do negócio”, afirma o executivo da Nokia.

Outra característica dessa nova tecnologia – e é por isso que a aposta é que a monetização do negócio, finalmente, vai ficar para as operadoras de telecomunicações, e não para as empresas de internet, conhecidas como OTTs empresas (Over The Top)- é que a 5G demandará uma rede muito mais inteligente, e, por isso mesmo, bem mais complexa.

” Quanto mais a inteligência chega perto da ponta, mais a equação se torna complexa e os investimentos mais pesados não irão para o core (ou o centro) da rede, e sim para o acesso. Esse tubo inteligente é que vai agregar valor”, afirma Hugo Baeta, da Cisco.

Para Wilson Cardoso, as operadoras de telecomunicações voltarão a ter o papel principal na monetização dessa tecnologia porque são elas que sabem lidar com missões críticas. “A internet funciona na base do “melhor esforço”, mas o core (centro) da rede de telecomunicações sempre foi o de missão crítica. O grande potencial das operadoras é levar essa missão crítica pra o acesso. Isso é o que e acontecerá com a 5G. As operadoras têm a possibilidade de vender a missão crítica para os clientes finais”, conclui.

 

 

 

 

 

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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