Telebras desiste do cabo submarino Brasil-Europa

Segundo a Telebras, mudanças na lei orçamentária de 2020 põe em xeque sua capacidade de financiar o direito "irrevogável" de uso de capacidade no novo cabo Ellalink

A Telebras avisou ao mercado que não irá mais acessar o cabo Ella Link, que liga o Brasil à Espanha. O presidente da estatal explicou, em comunicado enviado à CVM em 26 de dezembro, que a companhia não teve dinheiro para arcar com os compromissos de uso de conexão em 2019, e não terá em 2020.

Waldemar Ortunho Junior diz que a proposta de mudança na Lei de Orçamentária Anual (LOA) enviada pelo governo federal ao Congresso enquadra a Telebras no Orçamento Fiscal e da Seguridade Social como empresa dependente. A medida impedirá o repasse de montantes para investimentos por parte da estatal – além de abrir caminho para a privatização.

A novela em torno da construção do cabo não é recente. O cabo é fruto de um acordo entre a estatal e a companhia brasileira e a espanhola IslaLink, firmado em 2014. À época, criou-se uma joint venture para a construção de uma rota submarina ligando todos os países da América do Sul à Europa, sem que os dados precisassem transitar por servidores nos Estados Unidos. A conexão direta permitiria a troca de dados entre institutos de pesquisa da região para o velho continente.

Em 2014, calculava-se que seriam precisos R$ 185 milhões para atravessar o cabo de fibra através do Atlântico. Três anos mais tarde, em 2017, o cálculo já subira para 206 milhões… de dólares. Havia demanda, principalmente da rede acadêmica Bella (formada por institutos da América do Sul e Europa), para usar o cabo. Esta chegou a reservar recursos diante da expectativa, frustrada, de lançamento comercial da infraestrutura ainda naquele ano. Ao mesmo tempo, a empresa espanhola mudou de dono e nome ao menos três vezes: foi Islalink, Eulalink, atualmente é Ellalink.

Sem dinheiro, a Telebras trocou a fatia de 35% que detinha na joint-venture pelo compromisso firme de contratação de capacidade no cabo. É este compromisso que, avisa, agora não poderá atender por falta de recursos. Por enviou um pedido “amigável” de rescisão contratual.

“A Telebras aguardará a resposta da Ellalink acerca da proposta de rescisão amigável e manterá informados seus acionistas, o mercado e o público em geral acerca do fato acima relatado, em especial, na hipótese de extinção do contrato”, diz a Telebras.

Hoje, o cabo é administrado por uma holding situada na Irlanda. Segue em construção, e segundo a Ellalink, entrará em operação comercial ainda este ano. Entre os clientes, está a mesma rede Bella que havia reservado dinheiro para injetar na iniciativa no passado. No Brasil, o Ellalink usará estação de chegada da Telxius (Grupo Telefónica). A construção ficou à cargo da Alcatel Submarine Networks, prevê a instalação de 9 mil km de fibra no leito do oceano, e capacidade de 72 Tbps.

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Rafael Bucco

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