Fronteiras são desafios para o D2D no Brasil, diz Coimbra

Em evento em Londres, conselheiro da Anatel indica que conexão direta entre celular e satélite precisa de “diplomacia regulatória” para funcionar plenamente nas divisas do País com seus dez vizinhos
D2D precisa de regulação para funcionar em áreas de fronteiras, diz Anatel
Arthur Coimbra alerta que D2D precisa de regulação para funcionar em áreas de fronteiras (crédito: Reprodução)

Regular as conexões diretas entre satélite e celular (D2D, ou direct to device) no Brasil vai exigir que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) exerça uma espécie de “diplomacia regulatória” com os países vizinhos, indicou Arthur Coimbra, conselheiro da agência, nesta quarta-feira, 22.

Em painel no evento 6G Global Summit, em Londres, o conselheiro destacou que o País faz fronteira com dez nações na América do Sul e que a tecnologia deve ser usada justamente em áreas mais distantes dos grandes centros, que costumam ser as mais carentes em infraestruturas de redes fixa e móvel.

Como o D2D também tem o apelo de funcionar como último recurso para comunicação em áreas remotas, Coimbra ressaltou que é importante pensar em formas para a conexão não ser bloqueada em áreas fronteiriças.

“Atualmente, estamos realizando testes de direct to device sob uma estrutura regulatória de sandbox no Brasil. Esperamos que prospere, mas também levanta muitas perguntas. Por exemplo, o Brasil tem fronteiras com dez países e cada um deles com suas próprias regulações. E, logo que se tenha uma integração de rede não terrestre, como isso se comporta ao atravessar a fronteira? Já temos que ter muita diplomacia regulatória no que diz respeito a interferências em frequências de rádio”, comentou o conselheiro.

No evento organizado pelo Ofcom, o regulador britânico de telecomunicações, Coimbra ainda demonstrou preocupações sobre como a conectividade via satélite em celulares poderá ser usada em um país vizinho e como a solução será controlada.

“Se outro país tiver uma restrição regulatória [para o D2D], ou [o serviço] não é regulado, como pode funcionar? Vai impedir o uso do serviço, que às vezes é o último recurso para ser usado, porque não é regulado no país vizinho? Muitas perguntas vêm a partir disso e estamos tentando resolvê-las com o sandbox regulatório e os testes”, acrescentou o representante brasileiro.

Há um mês, a Anatel publicou o ato regulatório que cria o ambiente experimental para a tecnologia D2D. Os testes ocorrem por meio de outorgas de uso temporário de radiofrequências por períodos de até 24 meses. No Brasil, Claro e TIM já fizeram pedidos para testar a solução com a operadora satelital AST SpaceMobile.

No evento no Reino Unido, Coimbra lembrou que a Anatel já tinha demonstrado interesse pela tecnologia durante as discussões sobre a padronização técnica do 5G, tanto no ambiente do 3GPP quanto da União Internacional de Telecomunicações (UIT). Contudo, à época, os avanços não foram significativos.

“Estamos vendo que agora está acontecendo com o 6G, o que para o Brasil é bem importante. É um país grande com uma densidade demográfica relativamente baixa”, afirmou o conselheiro da Anatel.

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Eduardo Vasconcelos

Jornalista e Economista

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