Eurico Teles e Rodrigo Abreu: Oi vai gerar valor no médio e no longo prazos
*Entrevista a Miriam Aquino e Rafael Bucco
O presidente da Oi, Eurico Teles, e o COO, Rodrigo Abreu, responderam em conjunto a perguntas enviadas pelo Tele.Síntese nesta quarta-feira, 2. Nesta entrevista, ambos falam sobre o futuro da empresa, as perspectivas de capitalização, investimentos, crescimento, geração de valor e migração da concessão para o regime privado.
Teles defende que o PLC 79 seja sancionado rapidamente. Diz que tão logo aconteça, será preciso que TCU e Anatel concordem com qual modelo de valoração dos bens reversíveis será aplicado. Para ele, a proposta do TCU, de avaliação patrimonial, não é a ideal.
Rodrigo Abreu, focado nas operações, fala sobre os esforços da Oi em otimizar custos e investir corretamente. Ele ressalta que a tele tem como objetivo gerar valor social e apara acionistas, e que o foco atualmente para ampliar caixa recai sobre a venda de ativos não estratégicos – como Unitel, torres, data centers, fibra em mercados não prioritários. E diz que a operação móvel gera valor para a companhia, descartando sua venda. Confira, abaixo, a íntegra.
Em fevereiro de 2020 vence o prazo da RJ estabelecido pela 7ª Vara da Justiça. Vocês avaliam que já é possível deixar a Recuperação Judicial? Quais serão os impactos?
Eurico Teles – A Oi vem cumprindo rigorosamente suas obrigações previstas no Plano de Recuperação Judicial, dentro do cronograma estabelecido, e nesse sentido, existiria sim essa possibilidade. Uma vez que a companhia desenvolveu recentemente um novo plano estratégico visando a sua sustentabilidade de curto e médio prazo e a geração de valor no médio e longo prazo, analisaremos os impactos de uma decisão como essa à luz do novo plano e de todos os objetivos que temos desenhados. Temos que lembrar ainda que qualquer determinação passa também pelo juízo da recuperação judicial, que vem acompanhando de perto a execução bem sucedida do plano.
A Oi pretende participar do leilão de espectro da Anatel? Com que dinheiro?
Eurico Teles – Faz parte do nosso plano estratégico a consideração de participação nos leilões de espectro da Anatel tanto para as sobras quanto para as novas frequências 5G, como parte de uma estratégia de geração de valor para a companhia. O plano prevê os mecanismos de geração/captação de caixa que nos permitiriam considerar a participação, e temos que lembrar que uma das discussões atualmente em curso é a de mudar o caráter arrecadatório das licitações para um que privilegia a possibilidade de investimentos produtivos por parte das empresas.
A Oi está remodelando sua estratégia de atacado. Mas não está claro como ela pretende atuar, pois já vende capacidade para os outros players. O que muda?
Eurico Teles – A Oi tem vocação natural para uma atuação de muito destaque no atacado, justamente por sua imensa infraestrutura nacional de fibra e última milha, que inclui backbone, backhaul e capilaridade de acesso não replicáveis. Por isso, acreditamos que podemos nos tornar o provedor nacional de rede de transporte e viabilizador do 5G no Brasil, para todas as operadoras. Além disso, muda também a nossa estratégia para atender as mais diversas empresas, por exemplo até mesmo provedores regionais, principalmente nas áreas onde não atuaremos diretamente, ajudando a expandir a capacidade de banda larga em todo o país. Dessa maneira, expandiremos a nossa atuação acompanhando o crescimento da demanda por conexões de alta velocidade e por conexões de clientes de todos os tipos.
Por que o PLC 79 é tão importante para a Oi? Quais as primeiras medidas da operadora, se ele for sancionado? E se não for? A Oi entrega a concessão?
Eurico Teles – A Lei Geral de Telecomunicações, quando sancionada inicialmente, era excelente, e muito adequada ao momento da privatização das telecomunicações. Porém, passados 20 anos, sem dúvida nenhuma a regulamentação se tornou não apenas obsoleta, mas um impedimento ao desenvolvimento do setor, para todas as empresas, ao não evoluir temas importantes como bens reversíveis de telefonia fixa, obrigações anacrônicas, serviços desatualizados tecnologicamente, entre outros problemas. A nova Lei, aprovada com o PLC79, é importante assim para todo o setor, não apenas para a Oi. É importante dizer que ela não foi feita para ajudar a companhia A ou B, mas sim para modernizar o setor e estimular o investimento em uma indústria que tem um ritmo de evolução tecnológica e de demandas de mercado muito acelerado. Acreditamos que o projeto de lei seja sim sancionada, e depois disso passe por um período de discussão da sua regulamentação detalhada, com a participação da Anatel e do TCU, que nos possibilite iniciar nossas análises de possível migração da concessão e também estratégias de investimento e possibilidades de otimização da operação.
A recente decisão do TCU sobre bens reversíveis inviabilizaria a adaptação das outorgas?
Eurico Teles – É necessária uma discussão e análise muito cuidadosas da Anatel e do TCU com relação aos bens reversíveis, pois os mesmos precisam ser entendidos e analisados como o que são: um instrumento de garantia da continuidade dos serviços, e não um modelo patrimonialista. Na privatização, as empresas foram adquiridas, e os bens reversíveis definidos como uma maneira de garantir a continuidade de um serviço que naquele momento era essencial. Temos que lembrar que, passados muitos anos da concessão, hoje o modelo de atendimento é muito diferente, que foram realizados muitos investimentos ao longo do caminho e que existem questões inclusive quanto à sustentabilidade da concessão.
A Oi não tem acesso a qualquer crédito financeiro e os atuais controladores não querem mais colocar dinheiro próprio. Como convencer o mercado a comprar as debentures a serem lançadas? Por que a alternativa da emissão de dívida garantida?
Rodrigo Abreu – É importante lembrar que o plano de recuperação da companhia aprovado já previa a necessidade de um período de investimentos sustentado por uma injeção de recursos proveniente seja da venda de ativos seja de captações adicionais de recursos. Uma vez que apresentamos ao mercado recentemente um plano estratégico de transformação bastante coerente, e com muita possibilidade de geração de valor no médio/longo prazo, eu diria que existe sim o apetite de investidores no mercado de dívida a financiar um plano de investimento e de crescimento da companhia. Temos que lembrar que o mercado de dívida é bastante amplo, e que mesmo alguns dos atuais investidores da empresa mencionaram publicamente o interesse em considerar injeção de recursos adicionais a partir de um plano sólido. Esse plano vem com os diferenciais competitivos de uma grande infraestrutura nacional, não replicável, e com a capacidade de reposicionar a companhia através de planos de execução bastante sólidos. Como alternativas de captação vêm sendo estudadas várias modalidades, incluindo aquela de dívida garantida, que tem o benefício de trazer mais conforto aos investidores, e também de proporcionar taxas mais favoráveis, uma vez que atreladas a instrumentos garantidores. Dessa maneira, busca-se um equilíbrio de geração de valor para a companhia e dos custos associados, em um momento onde a Oi ainda apresenta um grande potencial de crescimento e valorização.
A venda de ativos é prevista no plano estratégico divulgado pela companhia, cuja expectativa é de arrecadar R$ 8,5 bilhões até 2020. Quais ativos a empresa está se referindo? O que falta para a conclusão da venda da Unitel? Esse prazo tem alguma viabilidade?
Rodrigo Abreu – A companhia tem bastante confiança nos planos de venda de ativos, e tem trabalhado de maneira intensa para conduzir esses processos de venda de maneira diligente, rápida e com geração de resultados positivos. Fazem parte desses ativos a própria Unitel que, como destacada, representa uma parte significativa do valor a ser gerado, além de uma série de outros ativos non-core, incluindo torres, Data-Centers, participações em empresas com ativos de fibra em algumas regiões não estratégicas e diversos ativos imobiliários. Quanto ao processo de venda da Unitel, estamos trabalhando de maneira cuidadosa, e reafirmamos a confiança na execução nos prazos previstos.
Quais são as prioridades operacionais no quarto trimestre de 2019 e primeiro de 2020? Manter o mesmo nível de Capex? Como?
Rodrigo Abreu – O plano estratégico de transformação da companhia, divulgado ao mercado recentemente, traz prioridades operacionais bastante claras para o curto e médio prazos, e a Oi tem dado sequência à execução dessas prioridades. O centro da estratégia de investimentos é a aceleração dos projetos de fibra ótica, que possibilitam um grande crescimento nas nossas operações de banda larga residencial, e que dão sustentação também para nossas atividades no mercado B2B, no atacado e na manutenção de nosso bom desempenho no mercado móvel, onde temos focado na reutilização de frequências e expansão da nossa capacidade em áreas prioritárias. A partir do plano, anunciamos a aceleração do ritmo de construção de fibra em número de “casas passadas” (“homes passed”), e aumentamos a nossa previsão de construção para 2019, que agora é a de terminar o ano com quase 5 milhões de casas passadas, o que por sua vez tem gerado excelentes resultados em relação ao número de “casas conectadas” com contratação dos serviços de banda larga de alta velocidade. Com isso, não apenas mantivemos o plano de Capex desse ano, mas tivemos também uma pequena antecipação, e prevemos uma manutenção dos níveis previstos de investimentos para 2020, que deverá ser da ordem de R$ 7 bilhões. Como já dissemos anteriormente, temos confiança na estratégia de vendas de ativos non-core e captação de recursos adicionais, além do foco na eficiência operacional, que podem garantir recursos suficientes para financiar nosso Capex como planejado.
O fatiamento da Oi está mesmo sendo considerado? Quando haverá a decisão?
Rodrigo Abreu – Não existe nenhuma discussão de “fatiamento” da companhia como chegou a ser aventado, de maneira superficial, e nosso grande foco é na execução de nosso plano estratégico de transformação, que como já mencionado traz prioridades de investimento bastante claras, e também define um caminho estratégico de crescimento que contempla várias possibilidades de geração de valor no longo prazo. Nesse sentido, não há que se considerar nenhuma “data de decisão”. Caso você esteja se referindo a uma possível venda das operações móveis, é importante mencionar que temos hoje uma operação móvel sustentável, que gera caixa e tem apresentado ótimos resultados operacionais, em particular com nosso crescimento nos últimos 12 meses na aquisição de clientes pós-pagos, onde apresentamos desempenho bastante destacado. Dessa maneira, vale enfatizar que nossas operações móveis sem dúvida nenhuma têm um papel importante na geração de valor para a companhia, e que protegeremos essa capacidade para que possam ser tomadas as melhores decisões de evolução futura.
Os últimos comunicados da empresa falam em cortes de custos. Quais áreas serão afetadas? De que forma? Haverá redução de headcount? De quantos empregados?
Rodrigo Abreu – O nosso plano estratégico de transformação prevê, além do foco em investimentos em fibra e no crescimento dos negócios core da companhia, também um foco na eficiência operacional e controle de custos como parte da estratégia de sustentabilidade de médio/longo prazo. Isso inclui ações em várias frentes da companhia e que já vêm sendo realizadas, como por exemplo um aumento significativo dos nossos níveis de digitalização, a contínua revisão e otimização de nossos processos e a readequação de foco operacional nas áreas que representam o futuro da Oi. Uma vez que temos um plano estratégico bem definido, é possível também passar a pensar em reduções de custo a partir de ações estruturais, que mudem a maneira com a qual atuamos, novamente em diversas frentes. Nesse sentido, não temos um foco em redução de profissionais como principal fator de redução de custos, e sim em uma transformação estrutural das nossas atividades para nos tornarmos mais eficientes. Eventuais ações, assim, seguirão o curso natural da dinâmica setorial, macroeconômica e da transformação do negócio, sem nunca deixar de lado os impactos positivos que esperamos ter na geração de valor para a sociedade.