Vero busca crescer no B2B, escalar serviço móvel e entrar no ramo de casa conectada
Após ter concluído o processo de fusão com a Americanet, a Vero já definiu os próximos passos para manter a empresa em crescimento. A companhia planeja ampliar as receitas no segmento corporativo e levar o serviço móvel – um MVNO em cima da rede da TIM, herdado da Americanet e na atualidade restrito aos estados de São Paulo e Goiás – para todas as 425 cidades nas quais tem operações de banda larga fixa.
As aspirações da empresa foram compartilhadas pelo diretor executivo de Marketing e Vendas, José Carlos Rocha, em entrevista ao Tele.Síntese, realizada na quinta-feira, 13, durante o Encontro Nacional Abrint 2024, em São Paulo.
Segundo o executivo, a empresa vai explorar o B2B, segmento que era mais representativo na receita da Americanet do que da Vero, agregando produtos e serviços à oferta de banda larga, incluindo soluções na modalidade hardware e software as a service. “Entre essas 30 frentes de sinergia que temos, uma delas é a escalada do B2B para pequenas e médias empresas, grandes empresas e, principalmente, o atacado”, diz Rocha.
O executivo também revelou que “muito em breve” o produto de telefonia celular estará à disposição de todos os clientes. “Os nossos negócios vão ser cada vez mais agregados com o móvel para fazer esse conceito de one-stop-shop”, pontuou.
Os planos da empresa ainda envolvem o lançamento de uma linha de produtos de casa conectada. A expectativa é de que o portfólio B2C, já testado na venda direta para consumidores residenciais em algumas localidades, chegue ao mercado ainda neste ano – no mais tardar, no próximo.
“Essa é uma vertical de negócios para a qual em breve teremos novos produtos sendo entregues para o B2C. No B2B, já é uma realidade”, destaca Rocha.
Na entrevista, o diretor da Vero ainda defende a manutenção da integralidade da faixa de 6 GHz para os serviços não licenciados e sinaliza que a empresa tem testado roteadores de WiFi 6E. Confira, a seguir.
Tele.Síntese: Como está a Vero após a integração da fusão com a Americanet e quais foram as sinergias obtidas pela combinação dos negócios?
José Carlos Rocha, diretor executivo de Marketing e Vendas da Vero: Temos mais de 30 frentes de trabalho para buscar sinergias. A gente capturou sinergias muito importantes no primeiro trimestre. A gente já vem 170% acima do que imaginávamos, e esse percentual de captura envolve muito a consolidação dos times. É um processo longínquo, de um a cinco anos, mas a captura de sinergias vem acelerando muito o nosso resultado. No primeiro trimestre, tivemos 17% de crescimento em termos de receita e EBITDA muito em função das capturas de sinergias que os times integrados já vêm conquistando.
Tele.Síntese: Nos últimos anos, a Vero realizou muitas aquisições. Para 2024, a empresa ainda busca uma nova consolidação?
Rocha: Nós sempre estamos olhando oportunidade de mercado, mas, na fusão das empresas, entendemos que também existe uma grande sinergia para o nosso plano de integração. Juntas, as duas companhias têm 46 M&As. Então, sempre estamos analisando oportunidades de mercado. Temos uma área interna que olha só novos negócios, e isso é um rollout que tem um pipeline grande e o fluxo não é tão rápido. Hoje, estamos em mais de 425 cidades e temos um grande portfólio de B2B e B2C para escalar. Inclusive, o processo do B2B tem uma grande escalada para acontecer. De novo, estamos trabalhando para acelerar muito as sinergias internas e, externamente, sem deixar de lado qualquer oportunidade no mercado.
Tele.Síntese: O B2B é a frente de negócios que vocês planejam alavancar a partir de agora?
Rocha: Comunicamos oficialmente no dia 3 de abril o Vero Empresas. Temos mais de 77 mil km de rede, sendo 24 mil km de backbone. Então, o B2B tem uma escalada de negócios envolvendo o nosso backbone e a comercialização disso. O nosso novo portfólio envolve hardware as a service, software as a service, conectividade e alguns novos produtos. Então, o B2B hoje é uma das grandes frentes de sinergia. Entre essas 30 frentes de sinergia que nós temos, uma delas é a escalada do B2B para pequenas e médias empresas, grandes empresas e, principalmente, o atacado. Hoje, o Vero Empresas tem um diretor responsável com uma série de verticais sendo negociadas no mercado.
Tele.Síntese: Antes da fusão, quem estava mais à frente no B2B, a Vero ou a Americanet?
Rocha: Essa fusão foi bastante estratégica do ponto de vista de negócio porque as cidades não tinham confronto, foram 100% complementares. E junto com isso o DNA de operações. A Vero tinha algo em torno de 92% da receita gerada pelo B2C e 8% no B2B, e a Americanet com mais de 20% de representatividade no B2B. Então, a escalada permitiu as sinergias da Americanet, com DNA muito forte no B2B, fazendo esse cross com a Vero, com uma escalada muito forte no B2C. Se as empresas são complementares em cidades, elas também são em negócios. É a Americanet ajudando a Vero a escalar no B2B, e a Vero ajudando a Americanet a escalar no B2C. Essa nova Vero já nasce com um know-how muito grande no B2B e no B2C.
Tele.Síntese: Ainda no B2B, além de um plano de banda larga que dê conta de conectar todos os equipamentos, o que vai ser mais demandado pelas empresas?
Rocha: O mundo de hoje já não olha mais só conectividade. O B2B tem muito o conceito hoje de ser one-stop-shop, ter tudo em um único local. Neste caso, a gente já sai na frente, porque fazemos um hub de serviços. O cliente tem dentro da Vero a conectividade – o nosso core business, banda larga, IP dedicado, SD-WAN, rede MPLS. Só que junto com isso nós temos novos produtos para ofertar. Temos produtos de software as a service, como Microsoft 365, aluguel de equipamentos, PABX virtual. Então, as grandes e médias empresas não querem hoje ter três ou quatro fornecedores de TIC e conectividade. Querem um único fornecedor, e o nosso portfólio vem justamente ao encontro disso.
Tele.Síntese: Então, nessa ampliação de portfólio, parte dos serviços vem de casa e parte de parceiros. É assim que estão fazendo?
Rocha: Exatamente. Hoje, buscamos parceiros que tenham, principalmente, know-how e capacidade de dar qualidade e atributos à empresa.
Tele.Síntese: Agora no B2C, o que compõe a nova oferta de banda larga?
Rocha: Sempre trabalhamos na vanguarda de produto. E o nosso produto é até semelhante à aspiração do B2B, porque o cliente não quer mais só conectividade, ele quer uma conectividade de ultraperformance. Para que isso aconteça, o nosso novo portfólio já vem com WiFi 6. Desde o plano de entrada, já entregamos o melhor equipamento na casa do cliente, porque ele exige qualidade para se conectar profissionalmente, socialmente e emocionalmente. Junto com isso, o cliente também quer adicionais – e o que ele vem mais demandado são os streamings. Os streamings compõem muito a oferta de banda larga. E a gente vem inovando. Na nossa última comunicação de portfólio, comunicamos uma parceria muito grande com o Google para os produtos de YouTube Premium e YouTube Music. Hoje, quando entregamos para o nosso cliente, vamos muito além da conectividade – é equipamento de ultraperformance com WiFi 6 e parceiros que agregam em cada mundo do cliente, como esporte, games, filme e séries.
Tele.Síntese: Está no radar de vocês planos com WiFi 6E, usando a banda de 6 GHz?
Rocha: O nosso investimento é muito forte em cima de um roteador AX3000. Ele concebe velocidade, qualidade e segurança muito fortes. Então, isso conversa muito com o que o cliente espera. Com relação a aspectos regulatórios, acompanhamos de perto essas discussões. Entendemos que a faixa de 6 GHz consegue promover tudo aquilo que o B2C e o B2B esperam: qualidade, segurança e conectividade. E isso permite, inclusive, escalar num futuro breve para todas as camadas sociais. Entendemos que a manutenção [da integralidade] dos 6 GHz [para uso não licenciado] é parte fundamental para sociabilizar, inclusive, a internet no País. Hoje, investimos muito pesado na compra desses roteadores que entendemos que é o futuro se trazendo para a realidade.
Tele.Síntese: Mas hoje vocês estão trabalhando com roteador de WiFi 6, não de 6E, certo?
Rocha: É de WiFi 6. A discussão do 6E hoje se permeia para efeitos de negócios e regulatórios. Entendemos que isso ainda terá evolução em 2024.
Tele.Síntese: A discussão sobre a destinação da banda está segurando os investimentos dos fabricantes e dos provedores no 6E?
Rocha: Acreditamos que é um processo evolutivo. No ano passado, muito se falava em WiFi 5. Este ano, na Vero, o WiFi 6 já é uma realidade. Contudo, alguns provedores ainda utilizam o WiFi 5, com o 6 no plano de alto valor. No nosso caso, entendemos que toda evolução é a partir de um pretexto ou conceito. O nosso conceito de WiFi 6 certamente precede uma outra evolução desse cenário de negócios.
Tele.Síntese: A banda de 6 GHz tem mais importância para o B2C ou para o B2B? Ou o mesmo valor para os dois segmentos?
Rocha: Hoje, o efeito de qualidade é exigido tanto no B2C quanto no B2B. Quando a gente investe na qualidade, estamos fazendo para os dois. Hoje, temos uma rede mesh que conversa com o WiFi 6. Isso para o segmento B2B, PMEs, MEIs, ou pessoa física, é muito importante, porque as casas estão cada vez mais sedentas por conectividade. Essa questão de qualidade envolve, indiscutivelmente, o tipo de roteador e o tipo de cliente.
Tele.Síntese: Alguma previsão de quando vocês vão usar roteadores de WiFi 6E?
Rocha: Temos um laboratório que se permeia muito em inovação e que sempre está à frente no processo de homologar novos equipamentos. Estrategicamente, não falamos no que estamos trabalhando, porque existem diversas variáveis de teste, homologação e negociação. O que posso abrir é que sempre estaremos na vanguarda em termos de produtos de streaming, equipamentos ou inovações dentro da casa ou empresa do nosso cliente.
Tele.Síntese: Vejo que o segmento de casa conectada está despontando. Como vocês estão nessa vertical?
Rocha: Temos já alguns grandes cases de sucesso no B2B. Temos hoje um processo de cidade digital com São José dos Campos [SP], que envolve IoT, segurança, câmeras e Inteligência Artificial. Esses projetos no B2B são escalados em outras frentes de negócio. Internamente no B2C, temos algumas situações de IoT sendo aplicadas. Fizemos alguns projetos de venda de produtos junto com Alexa e câmeras. Agora, o nosso processo é formular esse produto para que sejam aplicados no B2C também. Esses testes conceituais já foram feitos e algumas regionais de B2C já venderam Alexa e câmeras de segurança. E temos hoje uma incubadora, o Gênios, um projeto de startups digitais dentro da nossa companhia para aplicar novas soluções digitais. Essa é uma vertical de negócios para a qual em breve teremos novos produtos sendo entregues para o B2C. No B2B, já é uma realidade.
Tele.Síntese: Então, em algumas localidades essa oferta já existe?
Rocha: Sim. Já testamos e certificamos esses devices. Agora, é o processo de fazer o rollout, fazer com que os testes aplicados sejam realmente “produtizados” e virem portfólio nas próximas etapas que vão acontecer.
Tele.Síntese: É para sair ainda em 2024?
Rocha: 2024 ou 2025. Isso depende estrategicamente de uma série de fatores de homologação.
Tele.Síntese: Como estão as pretensões na telefonia móvel?
Rocha: Na fusão, uma das 30 sinergias é justamente fazer o rollout com muita qualidade e eficiência do produto móvel que a Americanet já tinha. Já somos uma MVNO e agora o nosso processo é auferir ainda mais qualidade para levar para todas as 425 cidades em que a Vero opera. Hoje, vendemos o produto móvel nas cidades que compreendem os estados de São Paulo e Goiás. Estamos nessa frente de trabalho para muito em breve – curto ou médio espaço de tempo – as 425 cidades terem o produto móvel dentro do nosso portfólio.
Tele.Síntese: Para consumidores e empresas?
Rocha: Para B2C e B2B. Essa operação móvel, que a Americanet tem no DNA, já é incorporadora para ambos os segmentos na nova Vero.
Tele.Síntese: O MVNO da Americanet funciona em cima da rede de qual operadora?
Rocha: Usamos a rede da TIM como parceira.
Tele.Síntese: Nessa escalada, a ideia é estender o contrato com a TIM?
Rocha: Estrategicamente, estamos fazendo várias análises de mercado. A TIM tem feito grandes investimentos na rede, e essas discussões de operações de MVNO também se permeiam por conversas mais estratégicas que não podemos abrir.
Tele.Síntese: Hoje, o móvel representa quanto na receita da Vero?
Rocha: Não falamos em termos de receita, porque é um produto que compreende toda a receita líquida. Falamos que tem uma grande capacidade e uma boa representatividade da receita que geramos, mas, percentualmente, não abrimos.
Tele.Síntese: Mas a expectativa é de que o móvel cresça dentro da empresa?
Rocha: O cliente pessoa física e o cliente pessoa jurídica querem comprar cada vez mais produtos em um só lugar. Ambos também querem o móvel, para fazer uma oferta de valor conjunta. Assim, os nossos negócios vão ser cada vez mais agregados com o móvel para fazer esse conceito de one-stop-shop.