Teles ajustam estratégia ao presente e futuro dos serviços digitais

Representantes das operadoras e da Qualcomm traçam panorama da introdução do setor no ecossistema digital durante debate no Painel Telebrasil 2024.
Representantes das teles debateram como agregar serviços digitais durante o Painel Telebrasil 2024 | Foto: Tele.Síntese

A análise de que a oferta de conectividade caminha para um ecossistema cada vez mais agregador de novos serviços digitais e, consequentemente, dependente de parcerias, dominou a avaliação das operadoras de telecom na manhã desta quarta-feira, 6, durante o Painel Telebrasil, em Brasília, em debate sobre os novos modelos de prestação. A visão geral é de que a adaptação aos padrões de consumo dos usuários da internet, apesar de não ser novidade, está passando por mutações inéditas a partir de, entre outros pontos, a mudança no preço do streaming, além do crescente interesse pela inteligência artificial (IA) tanto no dia a dia, como na indústria. 

Um dos casos é o dilema entre a TV por assinatura e as plataformas de Vídeo Sob Demanda (VoD) ou streaming, dois serviços que inicialmente foram considerados adversários do mesmo jogo, segundo o próprio diretor da Claro TV+, Alessandro Maluf, mas isso já é passado. “Hoje a Netflix é um dos nossos maiores parceiros”, exemplifica. 

Maluf destaca que o preço pago pelas assinaturas não é mais o mesmo e a empresa olha para os consumidores que estão refazendo as contas sobre o que compensa mais pagar: um conjunto de plataformas de filmes e séries separadamente, ou voltar para um combo de TV por assinatura que reúne um conjunto desses serviços além dos canais?

“Atualmente, o que mais vende, [cerca] de 80 a 90%, é um produto de R$ 120 reais, que já vem com aplicativos inclusos e o usuário vai estar pagando por uma TV por assinatura”, conta. 

O executivo pontua que “é importante para Claro ter um produto além da conectividade”. “A gente acredita que um produto de vídeo tem um touchpoint com a marca muito grande, mais até do que o serviço de telefonia celular e de banda larga“. Por outro lado, reconhece que “há um grande impacto de infraestrutura de rede e CAPEX”. 

Entre os desafios, estão ainda outras “incertezas”, acrescenta Maluf, como a mudança constante nos direitos de exibição, a exemplo do futebol brasileiro, que está sendo distribuído em novas plataformas. Apesar disso, a visão é de que a ampla capilaridade das operadoras é um dos pontos fortes para atrair parceiros e, consequentemente, manter os clientes.

“É bom para eles [plataformas de vídeo], porque pegam toda a força de venda de uma operadora ao ter um produto combinado com a banda larga ou combinado com a TV. Porque os aplicativos vendem muito, mas cancelam muito também. Então, para eles, uma venda com a operadora faz sentido”, disse.

 O diretor da Claro TV+ conclui que, por um lado, a “proposta de valor hoje é ser um hub de conteúdo”, por outro, busca-se diminuir o custo operacional. Por fim, a expectativa é de ganho. 

“Acreditamos que a telco pode ser essa protagonista no futuro da distribuição do conteúdo, porque a gente vê um pouco do que foi até o começo da transformação de conteúdo: os provedores, os OTTs, os aplicativos, buscando operadora para distribuir conteúdo”, afirmou.

TIM

O diretor de Soluções Corporativas da TIM, Paulo Humberto Gouvea, destacou os cases da prestadora com o desenvolvimento de aplicações de internet das coisas (IoT). “Entendemos que nós não somos a solução de tudo. Precisamos de parceiros e de nos inserir em processos diferentes”, avalia.

Os produtos da TIM foram direcionados para quatro segmentos: Agronegócio, Indústria 4.0, Smart Cities e Utilities.  Entre as experiências compartilhadas estão soluções de rede 5G privativa que possibilita capacidade para digitalização de processos no setor portuário e automotivo. 

Na área de cidades inteligentes, a operadora apoia projetos de gestão remota e inteligente de iluminação. “Hoje há mais de 263 mil pontos de telegestão de iluminação feito em cima da rede de IoT”, conta. A aplicação ocorre em dezenas de cidades, entre elas, Porto Alegre, Curitiba e Petrolina. 

Ao apontar desafios, Gouvea defendeu maior acompanhamento por parte dos reguladores com base no ritmo da evolução tecnológica, dando como exemplo a telemedicina, uma demanda que se impôs principalmente na pandemia de Covid-19, sem que houvesse um arcabouço regulatório em sintonia à época. 

“Existe um sincronismo que precisa existir entre agências reguladoras para que não exista um gap nessa transformação digital de todos os seguimentos”, defendeu. 

Outro ponto destacado foi a atenção dos fornecedores para a indústria como um todo, para além das empresas de maior porte. “No Brasil, 97% são pequenas e médias empresas, se não levarmos soluções que elas possam absorver, o país não vai para a frente”, disse Gouvea.

Qualcomm

Do lado de quem fornece insumos e equipamentos, a Qualcomm é “como se fosse um arquiteto por trás desse ecossistema”, como define o head da empresa no Brasil, Diego Aguiar. A empresa vem ajustando a rota de produção, focando em dispositivos mais completos. 

“Se, por um lado, a gente até então falava de processamento on cloud, você agora começa a falar de processamento no próprio dispositivo, que ganha uma relevância muito grande no nosso dia a dia.  […] E isso muda inclusive um pouco do modelo de negócio, porque até então você já colocava tudo para um data center, [depois] jogou para uma cloud e agora traz para o device  [dispositivo]”, detalha.

Para o futuro, Aguiar entende que a tendência é promover a integração dos diferentes aparelhos – como celular, TV e computações –, mas agora de maneira aprimorada pela inteligência artificial. “Esse ecossistema não pode mais ser isolado, o que até então acontecia muito. Você tinha uma oferta de um produto “A” de IOT, outro “B” de celular, um “C” de computador, um “D” de streaming. E agora a gente vê uma formação maior de ecossistema”, exemplifica.

O head da Qualcomm complementa que a intercomunicação depende de um desenvolvimento amplo e congregação do ecossistema. “Trabalhamos muito com startups e empresas, de maneira geral, para conseguir desenvolver produtos e dispoinibilizar ofertas a um número maior de clientes”.

Oi

O diretor de Produtos da Oi Soluções, Renato Simões, por sua vez, ressaltou o impacto da transformação digital na telefonia fixa. Diante da necessidade de modernizar a infraestrutura das instalações com cabo de cobre, a empresa criou o produto “UC4X”, que consiste na atualização da tecnologia.

Em pouco mais de um ano, nós tivemos um crescimento de 193% da telefonia legada para telefonia na nuvem ou telefonia IP. Modernizamos esse serviço em mais de 5 mil municípios”, ressalta.

O processo de atualização envolve a troca de aparelhos. Segundo a Oi, já foram disponibilizados 100 mil telefones sem custo aos usuários, contando atualmente com dez fabricantes homologados,  alguns deles com chip da Qualcomm.

Questionado pelo Tele.Síntese sobre qual é a estratégia de serviços digitais da Oi Soluções, Simões destacou que “está pautada em agregar valor em soluções completas”.

“A gente fez uma terceirização da rede há um tempo atrás, então a gente não tem mais a conectividade como core. Então, tanto a telefonia, que a gente tá fazendo uma grande modernização agora, quanto as redes de dados, são basicamente o asfalto para conseguirmos pavimentar novas soluções com os clientes”.

As aplicações chaves seriam segurança cibernética, videomonitoramento e inteligência artificial, segundo o diretor de produtos.

“O que a Oi Soluções tem feito é pautar toda a transformação digital em cima desses produtos para oferecer, além de uma solução completa, algo que vá agregar valor aos clientes corporativos nos próximos anos”, concluiu.

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Carolina Cruz

Repórter com trajetória em redações da Rede Globo e Grupo Cofina. Atualmente na cobertura de telecom nos Três Poderes, em Brasília, e da inovação, onde ela estiver.

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