Teles ajustam estratégia ao presente e futuro dos serviços digitais
A análise de que a oferta de conectividade caminha para um ecossistema cada vez mais agregador de novos serviços digitais e, consequentemente, dependente de parcerias, dominou a avaliação das operadoras de telecom na manhã desta quarta-feira, 6, durante o Painel Telebrasil, em Brasília, em debate sobre os novos modelos de prestação. A visão geral é de que a adaptação aos padrões de consumo dos usuários da internet, apesar de não ser novidade, está passando por mutações inéditas a partir de, entre outros pontos, a mudança no preço do streaming, além do crescente interesse pela inteligência artificial (IA) tanto no dia a dia, como na indústria.
Um dos casos é o dilema entre a TV por assinatura e as plataformas de Vídeo Sob Demanda (VoD) ou streaming, dois serviços que inicialmente foram considerados adversários do mesmo jogo, segundo o próprio diretor da Claro TV+, Alessandro Maluf, mas isso já é passado. “Hoje a Netflix é um dos nossos maiores parceiros”, exemplifica.
Maluf destaca que o preço pago pelas assinaturas não é mais o mesmo e a empresa olha para os consumidores que estão refazendo as contas sobre o que compensa mais pagar: um conjunto de plataformas de filmes e séries separadamente, ou voltar para um combo de TV por assinatura que reúne um conjunto desses serviços além dos canais?
“Atualmente, o que mais vende, [cerca] de 80 a 90%, é um produto de R$ 120 reais, que já vem com aplicativos inclusos e o usuário vai estar pagando por uma TV por assinatura”, conta.
O executivo pontua que “é importante para Claro ter um produto além da conectividade”. “A gente acredita que um produto de vídeo tem um touchpoint com a marca muito grande, mais até do que o serviço de telefonia celular e de banda larga“. Por outro lado, reconhece que “há um grande impacto de infraestrutura de rede e CAPEX”.
Entre os desafios, estão ainda outras “incertezas”, acrescenta Maluf, como a mudança constante nos direitos de exibição, a exemplo do futebol brasileiro, que está sendo distribuído em novas plataformas. Apesar disso, a visão é de que a ampla capilaridade das operadoras é um dos pontos fortes para atrair parceiros e, consequentemente, manter os clientes.
“É bom para eles [plataformas de vídeo], porque pegam toda a força de venda de uma operadora ao ter um produto combinado com a banda larga ou combinado com a TV. Porque os aplicativos vendem muito, mas cancelam muito também. Então, para eles, uma venda com a operadora faz sentido”, disse.
O diretor da Claro TV+ conclui que, por um lado, a “proposta de valor hoje é ser um hub de conteúdo”, por outro, busca-se diminuir o custo operacional. Por fim, a expectativa é de ganho.
“Acreditamos que a telco pode ser essa protagonista no futuro da distribuição do conteúdo, porque a gente vê um pouco do que foi até o começo da transformação de conteúdo: os provedores, os OTTs, os aplicativos, buscando operadora para distribuir conteúdo”, afirmou.
TIM
O diretor de Soluções Corporativas da TIM, Paulo Humberto Gouvea, destacou os cases da prestadora com o desenvolvimento de aplicações de internet das coisas (IoT). “Entendemos que nós não somos a solução de tudo. Precisamos de parceiros e de nos inserir em processos diferentes”, avalia.
Os produtos da TIM foram direcionados para quatro segmentos: Agronegócio, Indústria 4.0, Smart Cities e Utilities. Entre as experiências compartilhadas estão soluções de rede 5G privativa que possibilita capacidade para digitalização de processos no setor portuário e automotivo.
Na área de cidades inteligentes, a operadora apoia projetos de gestão remota e inteligente de iluminação. “Hoje há mais de 263 mil pontos de telegestão de iluminação feito em cima da rede de IoT”, conta. A aplicação ocorre em dezenas de cidades, entre elas, Porto Alegre, Curitiba e Petrolina.
Ao apontar desafios, Gouvea defendeu maior acompanhamento por parte dos reguladores com base no ritmo da evolução tecnológica, dando como exemplo a telemedicina, uma demanda que se impôs principalmente na pandemia de Covid-19, sem que houvesse um arcabouço regulatório em sintonia à época.
“Precisa existir sincronismo entre agências reguladoras para não haver um gap na transformação digital entre os segmentos”, defendeu.
Outro ponto destacado foi a atenção dos fornecedores para a indústria como um todo, para além das empresas de maior porte. “No Brasil, 97% são pequenas e médias empresas, se não levarmos soluções que elas possam absorver, o país não vai para a frente”, disse Gouvea.
Qualcomm
Do lado de quem fornece insumos e equipamentos, a Qualcomm é “como se fosse um arquiteto por trás desse ecossistema”, como define o head da empresa no Brasil, Diego Aguiar. A empresa vem ajustando a rota de produção, focando em dispositivos mais completos.
“Se, por um lado, a gente até então falava de processamento on cloud, agora começamos a falar de processamento no próprio dispositivo, que ganha uma relevância muito grande no nosso dia a dia. […] E isso muda inclusive um pouco do modelo de negócio, porque até então já se colocava tudo para um data center, [depois] jogou para uma cloud e agora traz para o device [dispositivo]”, detalha.
Para o futuro, Aguiar entende que a tendência é promover a integração dos diferentes aparelhos – como celular, TV e computadores –, mas agora de maneira aprimorada pela inteligência artificial. “Esse ecossistema não pode mais ser isolado, o que até então acontecia muito. Você tinha uma oferta de um produto “A” de IOT, outro “B” de celular, um “C” de computador, um “D” de streaming. E agora a gente vê uma formação maior de ecossistema”, exemplifica.
O head da Qualcomm complementa que a intercomunicação depende de um desenvolvimento amplo e congregação do ecossistema. “Trabalhamos muito com startups e empresas para conseguir desenvolver produtos e disponibilizar ofertas a um número maior de clientes”.
Oi
O diretor de Produtos da Oi Soluções, Renato Simões, por sua vez, ressaltou o impacto da transformação digital na telefonia fixa. Diante da necessidade de modernizar a infraestrutura das instalações com cabo de cobre, a empresa criou o produto “UC4X”, que consiste na atualização da tecnologia.
“Em pouco mais de um ano, nós tivemos um crescimento de 193% da telefonia legada para telefonia na nuvem ou telefonia IP. Modernizamos esse serviço em mais de 5 mil municípios”, ressalta.
O processo de atualização envolve a troca de aparelhos. Segundo a Oi, já foram disponibilizados 100 mil telefones sem custo aos usuários, contando atualmente com dez fabricantes homologados, alguns deles com chip da Qualcomm.
Questionado pelo Tele.Síntese sobre qual é a estratégia de serviços digitais da Oi Soluções, Simões destacou que “está pautada em agregar valor em soluções completas”.
“Fizemos uma terceirização da rede há um tempo atrás, e não contamos mais conectividade como core. Tanto a telefonia quanto as redes de dados são o asfalto para conseguirmos pavimentar novas soluções com os clientes”. As aplicações chaves seriam segurança cibernética, videomonitoramento e inteligência artificial, segundo o diretor de produtos.
“O que a Oi Soluções tem feito é pautar toda a transformação digital em cima desses produtos para oferecer, além de uma solução completa, algo que vá agregar valor aos clientes corporativos nos próximos anos”, concluiu.