Smartphones e PCs têm alta de 25%. Black friday terá menos promoções
Os fabricantes de produtos eletroeletrônicos – PCs, notebooks, impressoras, smartphnes e wearables – deverão adotar uma estratégia mais conservadora nas vendas durante a black friday e o Natal. O aumento surpreendente da demanda, combinada à fatal de componentes, aumento das alíquotas de ICMS e IPI, em março e abril, e o câmbio elevado estão impactando os preços dos produtos, que não serão tão atrativos nas datas promocionais. A expectativa é de uma alta de 25% a 30% nos preços em 2020 e descontos bem mais comedidos.
Na próxima semana, a Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica (Abinee) divulga os dados apurados junto à indústria sobre a falta de insumos e componentes na cadeia de suprimentos do setor e a consultoria IDC também divulga os números do terceiro trimestre. Os dados vão mostrar que o mercado de consumo continua puxando uma retomada das vendas, para recuperar as perdas do segundo trimestre, período mais agudo da crise do coronavírus. Mas o descompasso entre a demanda aquecida e o freio na produção está pressionando os preços.
“No segundo semestre, devem persistir problemas de falta de componentes e telas, o que ainda deve afetar o mercado de PCs, somado à alta do dólar que já atingiu R$ 5,76, o que acaba impactando os preços. Vamos entrar no período de black friday e o fabricante não vai conseguir oferecer um preço especial na ponta por estar pagando mais pelos produtos e os componentes, embora muitos itens para a black friday já estejam no canal. Os fabricantes estão otimistas em ter um desempenho semelhante ao ano passado, mas em preços estão um pouco mais conservadores”, analisa Rodrigo Okayama Pereira, analista de mercado da IDC Brasil.
Tendo por base os números do primeiro semestre, a IDC estimou inicialmente um crescimento de 1% no mercado de PCs e notebooks em 2020. Porém, com os dados do terceiro trimestre, que serão divulgados na próxima semana, esta projeção deverá subir.
Demanda aquecida no Home Office
“Já no primeiro trimestre, houve um reflexo da pandemia do Covid-19. O mercado de PCs e notebooks cresceu 16%, um número muito fora da curva” diz Okayama. Ele observa que a pandemia mudou toda a dinâmica do mercado. No final de março, começou uma corrida para a compra desses produtos, sobretudo notebooks, ao mesmo tempo em que várias fábricas no mundo tiveram de fechar as portas.
“Houve uma redução da produção e aumento da demanda, uma hora a conta não fecharia. A demanda de notebooks para consumo subiu, assim como as compras das empresas, que, ao não conseguirem produtos nas revendas e distribuidores, foram para o varejo a fim de abastecer os funcionários no home office. Nas casas, onde havia apenas de um a dois computadores, houve também aumento de consumo devido às aulas escolares”, analisa Okayama.
O segundo trimestre foi o vale com uma queda de 1,2% no mercado de consumo (mas sobre uma alta anterior de 16% e com alta de 2,5% em notebooks) e de 32% no mercado corporativo, afetando sobretudo os desktops. Mesmo assim, os preços continuaram pressionados devido ao câmbio e a alta do IPI e do ICMS.
“Naturalmente os fabricantes tiveram de fazer o repasse para o canal e esses para o mercado. Devido à alta da demanda, houve falta de componentes, partes e peças, refletindo no aumento dos preços de 12% a 20% no início do ano, mas no acumulado do ano chegando a, em média, 25%”, diz Okayama.
No mercado de smartphones, a alta de preços deve chegar a 30%. Antes da pandemia, o mercado vinha crescendo enquanto o de computadores estava mais estável, mas, após a crise do coronavírus, houve uma inversão e os PCs retomaram o papel de computador pessoal.
“O primeiro trimestre começou numa retomada agressiva para o mercado de smartphones, mas veio a pandemia afetando a produção na China e o dólar iniciando uma escalada. Com isso, o trimestre teve uma queda de 8%. No segundo, a redução foi ainda mais intensa, 31%; mas vale destacar que o pior mês foi o de abril, com – 69%, maio – 27% e junho já chegou a crescimento de 10%. Ou seja, abril foi o período mais agudo da crise”, analisa Renato Meireles, analista de mercado em Mobile Phones & Devices da IDC Brasil.
Queda Menor
O primeiro semestre acumula queda de 19% e, com os números do terceiro trimestre, a será feita uma nova projeção para 2020, que antes da pandemia já previa uma queda de 16%, devido ao perfil da demanda mais voltado para reposição e ao ano forte de 2019. A previsão foi revista no segundo trimestre para uma queda de 14%, um pouco menor.
“A tendência é de que o terceiro trimestre aponte para uma recuperação muito agressiva. Ou seja, o mercado caiu muito rápido mas também recuperou-se rapidamente provocando, inclusive, falta de componentes. Hoje nossa projeção é de uma queda de 7% para 2020. O preço já teve uma elevação no segundo trimestre devido às flutuações cambiais e a falta de insumos. O repasse de preços deve ficar de 25% a 30% na ponta para o consumidor”, sinaliza Meireles.
Ele diz que toda a indústria sinaliza problema de recebimento dos fabricantes de O&M, devido também ao aumento dos custos do frete marítimo e a falta de componentes em função da alta na demanda e paralisação das fábricas. O analista da IDC diz que as OEM não esperavam essa recuperação forte da demanda. Todos tinham um pipeline mais conservador e o mercado veio com uma demanda agressiva, ou seja, não houve tempo suficiente para os fabricantes se abastecerem.
“A preocupação é que essa desarrumação com falta de componentes e alta de preço escorregue para o primeiro semestre de 2021. Algumas empresas, inclusive, estão sinalizando com aumento de preços para manter o produto no canal para que o consumidor segure a compra e não haja desabastecimento. Outras estão oferecendo preços mais atraente sangrando as margens. É um desafio fazer receita neste cenário, assim como é um desafio para o consumidor adquirir produto. Qualquer que seja o cenário, a tendência é de alta de preços”, conclui Meireles.