Sky traz famílias de baixa renda para seu satélite, diz Bentancourt
A Sky quer ampliar a base de clientes com famílias de baixa renda (classes D e E) que precisa mudar suas parabólicas para receber os sinais de satélite onde estão hoje as emissoras de TV. Segundo Pedro Bentancourt, vice-presidente de Assuntos Econômicos, Externos e Regulatórios da Vrio, dona da Sky, há uma parcela da população que precisa migrar seus equipamentos, mas que não integra o Cadastro Único das famílias que são contempladas com o programa do governo de distribuição gratuita do Kit antena. E é esse público que a operadora de TV paga quer alcançar.
Conforme a Anatel e a Eace (empresa que faz o trabalho de distribuição de conversores) estima-se que serão distribuídos gratuitamente oito milhões de caixinhas de TV para o público elegível. “A Sky projeta haver pelo menos mais dez milhões de potenciais usuários que terão que comprar os aparelhos para voltarem a assistir à TV, e é esse público que queremos também atender”, diz o executivo. Para isso, explica, a empresa está lançando pacotes pré-pagos e negociando com fornecedores de equipamentos de todo o Brasil condições de parcelamento de longo prazo.
Com isso, diz Betancourt, a empresa estará valorizando o seu satélite próprio, pois as antenas terrestres estarão mirando para ele, e poderá oferecer pacotes pré-pagos de novos produtos de entretenimento e ainda agregar novos serviços, como telessaúde ou seguros. ” E, se a família só quiser ficar mesmo com os canais de TV abertos, que são gratuitos, não tem problema, estará assistindo a uma TV de qualidade, em conteúdo e quantidade”, afirma.
Redução da Exclusão
A Vrio, holding que controla a operadora de TV paga brasileira, e integra o grupo argentino Werthein que comprou em 2021 todas as operações de TV via satélite da AT&T da América Latina, lançou, no início deste ano, no MWC, um estudo de fôlego sobre a exclusão digital na AL. O estudo elencou os conceitos de lacuna de cobertura, lacuna de uso, lacuna de qualidade e lacuna de entretenimento para classificar a ausência de “conectividade significativa” e apontou que:
Enquanto nas áreas urbanas da América Latina, 67% dos domicílios (71% da população) têm acesso a conectividade significativa, nas áreas rurais apenas 23% dos domicílios (37% da população) têm11. Apenas um terço das escolas tem a largura de banda ou a velocidade de internet necessárias para acessar conteúdos, enquanto nos países da OCDE este número chega a dois terços do total. Quando se trata de escolas rurais, 8 em cada 10 países com informação, apenas 15% têm acesso a conectividade significativa.
Identificou que, no Brasil, com uma população de mais de 210 milhões de habitantes, estima-se que cerca de 7,6% dos domicílios estejam fora das áreas de cobertura, deixando mais de 16 milhões de pessoas excluídas digitalmente.
Considerando os demais indicadores, o Brasil contaria com 11,8% da população com lacuna de uso; 26% com baixa qualidade no acesso; 26% com baixa qualidade da conectividade; 36,4% sem adoção de apps. Paraguai e República Dominicana são os países com a melhor cobertura, com apenas 2,4% dos lares sem cobertura e o Haiti com o cenário mais dramático, com 65% dos domicílios desconectados.
O estudo aponta ainda que a concentração de renda está diretamente vinculada ao acesso à internet, em contraposição à população de baixa renda. ” Em 12 países da região, em média, mais de 80% dos domicílios no quintil de renda mais alto têm conexão com a internet, enquanto apenas 38% dos domicílios no primeiro quintil e 53% no segundo quintil a têm. As médias escondem grandes diferenças entre os países: no Brasil e no Chile, mais de 60% dos domicílios do primeiro quintil têm conexão, enquanto na Bolívia, Paraguai e Peru menos de 5% estão conectados”, aponta.
Para ajudar a reverter esse quadro, o grupo propõe que os governos mecanismos de subsidiar a demanda, e não apenas a oferta de serviço. Para Pedro Bentancourt, o programa do governo, de distribuição dos kits parabólicas e conversores, é um bom exemplo de políticas que estimulam a demanda. “Essa é uma política que deu certo”, concluiu o executivo.