Redes neutras: mercado aponta riscos e novas oportunidades
Quem atua com serviços de redes neutras viu o mercado crescer nos últimos anos e gerar expectativas prósperas para o futuro. Em painel do INOVAtic Nordeste 2022, realizado pelo Tele.Síntese, nesta quinta-feira, 22, representantes do setor debateram sobre os novos riscos e oportunidades que envolvem os negócios, antes e depois das parcerias.
Eduardo Neger, presidente da Associação Brasileira de Internet (Abranet), elencou barreiras que existem nos contratos com redes neutras. O primeiro deles é a confiabilidade. “Você deixa de ter o controle da rede para estar confiando na rede de um terceiro”, explica.
Para Neger, muito da desconfiança vem da trajetória do serviço de internet no Brasil, que se formou a partir do desmembramento de empresas. “No sentido matemático, lógico, faz todo sentido você usar rede neutra e compartilhar a infraestrutura. Isso é inegável. Mas existe esse trauma histórico, que muitas empresas têm: ‘Aquele meu parceiro pode virar meu concorrente no futuro?'”, questiona.
Outro ponto destacado por Neger é o atendimento ao cliente. “Quem tem uma rede própria tem 100% do controle. Quer dizer, se você precisar de uma manutenção, ou de qualquer acionamento da rede, têm os técnicos, o material, tudo para resolver. Quando você começa a usar uma rede neutra, você está dependendo de um terceiro”, enfatiza.
Isonomia e redes neutras
Paulo Donini, diretor de Vendas e Parcerias da FiBrasil, destaca que o cenário de regulação atual implica variações nos preços que estão no mercado.
“A questão do preço é um fator que a gente observa muito. Hoje a grande diferença dos preços está muito em cima de quem tem uma rede licenciada, quem tem diferenças tributárias…”, afirma Donini.
Em meio aos diferentes cenários de negócios, o diretor destaca a importância de manter um tratamento igualitário entre os clientes. “A Fibrasil optou por ter uma flexibilidade e dar a decisão para o nosso cliente. E aí partindo desse modelo que foi construído com infraestrutura, todos os nossos SLAs [acordos de nível de serviço], a nossa abordagem comercial, isso tudo é de forma isonômica, então sem prevalecer nenhum cliente, nenhum provedor”, disse.
O diretor afirma também que a empresa segue com planos de expansão. Atualmente, a Fibrasil conta com 2,5 milhões de HPs e cerca de 30% da rede está no Nordeste, presente em seis dos nove estados da região. “Vamos chegar no ano que vem a todos os estados do Nordeste”, prevê Donini.
Estratégia de crescimento
Sérgio Ribeiro, CEO da Mobwire, empresa do grupo Alloha Fibra, também fala em oportunidade de expansão.
“A empresa está estruturada para trabalhar no modelo de excelência operacional, aliada à transformação digital, para gente crescer organicamente, nos dois segmentos: tanto B2B, quanto no B2C. Oportunidades do mercado [incorporação da infra de terceiros] estão sim sendo avaliadas. Mas estamos estruturados para um modelo de excelência, crescer organicamente”, afirmou Ribeiro.
A Mobwire é resultado da fusão entre duas companhias do Ceará, Mob e Wirelink, e têm atualmente cerca de 2.200 funcionários. No B2C, atua em 120 cidades, com mais de 300 mil clientes. No B2B, mais de 500 cidades e atuação em vários segmentos – governo, operadoras nacionais e internacionais, mercado corporativo e mais de 700 provedores.
Ribeiro detalha que com a expansão de localidades e clientes, cresce também a complexidade de manutenção.
“Neste semestre, no Nordeste, é mais quente. Então, queima a fibra. Se você precisa ter um controle muito efetivo do que acontece em toda a extensão da rede – no nosso caso são mais de 100 mil km – e ter muito bem definido quem são os funcionários, porque é um misto da tua equipe própria e do parceiro de negócio – para, quando acontecer algum problema a gente conseguir solucionar no menor tempo possível”, conta o CEO.
Clientes exigentes
Thiago Mello, diretor Comercial e Marketing da Tely, conta o outro lado do aumento da demanda que surgiu nos últimos anos por conta da pandemia.
“No residencial, o público está cada vez mais exigente para não ter nenhum tipo de intercorrência no streaming, na música, nos jogos. Na pandemia, a venda no atacado aumentou de 2019 para 2020 uns 200%. Só que de 2020 para 2021 a gente aumentou mais de 1000% na necessidade de demanda. Neste ano a gente tá contabilizando ainda, segue um ritmo não tão acelerado, mas ainda bem desafiador”, afirmou.
A empresa também aproveitou a experiência no mercado brasileiro para atrair prestadores dos Estados Unidos que querem aproveitar a demanda nacional. “Ao invés dele [cliente] montar base, montar campo aqui no Brasil, ele pode aproveitar do nosso expertise legal e de desenvolvimento de negócio no Brasil e fazer negócio lá no Estados Unidos sem ter que abrir um CNPJ, nem entender de nenhum tipo de regulamento aqui do Brasil”, explica.
Neste cenário de crescimento, a Tely – há 18 anos no mercado – cobre atualmente do Ceará e São Paulo com 20 mil km de fibra óptica, conta com cabeamento submarino entre Bahia e São Paulo e está investindo na expansão para Bahia e Pernambuco.