Projetos de IoT e IA transformam a mobilidade e o agronegócio
O avanço da Internet das Coisas (IoT) e da Inteligência Artificial (IA) no Brasil está cada vez mais presente nos cenários urbano e rural, com projetos que prometem transformar a mobilidade e a segurança das grandes cidades.
Segundo Marcelo Zuffo, diretor do Inova.USP, dois projetos pilotos estão sendo implementados na cidade de São Paulo, em colaboração com o BNDES e a prefeitura, voltados para a eficiência urbana e a segurança.
Um dos destaques apresentados por Marcelo Zuffo durante o primeiro dia do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas, que acontece em São Paulo, foi o Programa Caninos Loucos, que desenvolve dispositivos IoT como a placa “Labrador” e o chip “Pulga”. “A Labrador é um PC completo, que roda Linux e suporta até 60 mil pacotes de software, incluindo ferramentas de IA”, explicou. O chip “Pulga”, com dimensões de 1,8mm x 3mm, também pode ter uma ampla gama de aplicações, como sensores de apneia e dispositivos de rastreamento em tratores e animais.
O piloto de mobilidade urbana é um dos principais projetos do Inova.USP, em parceria com a Prefeitura de São Paulo. Semáforos inteligentes, equipados com placas IoT, estão sendo testados em dois pontos da cidade. Essas placas, como a Labrador, utilizam IA para reconhecer pedestres e ajustar automaticamente o tempo de sinalização conforme o fluxo de pessoas e veículos. O sistema, que conta com câmeras capazes de realizar reconhecimento de imagem em tempo real, ajusta-se dinamicamente para garantir uma maior fluidez no trânsito.
Marcelo Zuffo explica que a tecnologia aplicada aos semáforos é apenas o início de uma transformação maior na infraestrutura urbana. “O Labrador efetua o controle semafórico, e as câmeras ajudam a IA a reprogramar o tempo de espera dos pedestres“, diz Zuffo. A convergência entre IoT e IA está acontecendo de forma acelerada, e o Brasil tem a capacidade de produzir localmente a tecnologia necessária para expandir esses projetos.
Outro piloto em andamento é o projeto de segurança urbana, que envolve a integração de sistemas de IA em veículos da Polícia Militar de São Paulo. O projeto Sentinela utiliza a tecnologia de visão computacional e processamento de som para monitorar automaticamente situações de risco e notificar o serviço de emergência 190. Atualmente, 100 viaturas estão equipadas com essas soluções, que incluem as placas “Labrador” e “Pulga”, além de GPS e conexão LoRaONE, permitindo a comunicação em áreas remotas.
“Desenvolvemos tecnologias para aumentar a percepção de segurança na cidade com IoT”, afirma Zuffo. Esse sistema, que opera sem a intervenção humana, analisa dados em tempo real e colabora com a polícia para responder de maneira mais eficiente a emergências. O Inova.USP está em contato com agências de fomento para expandir esse projeto e, em um futuro próximo, ampliar sua abrangência para outras regiões do país.
A produção de microprocessadores no Brasil é um avanço estratégico. “Estamos projetando e fabricando dispositivos IoT no Brasil, e isso pode disparar o desenvolvimento de deep techs no país”, disse Zuffo. Segundo ele, os chips desenvolvidos no Brasil, como o Pulga e outros de energia com apenas 1,5mm, podem ser usados em áreas tão diversas quanto monitoramento de emissão de carbono e segurança urbana.
Desenvolvimento rural
O CPQD também trabalha no desenvolvimento de tecnologias nacionais de IoT. Um dos carros chefes é o projeto SemeAr, voltado ao agronegócio. Alberto Paradisi, diretor de estratégia do CPQD, diz que objetivo da iniciativa é criar “super fazendas” digitais, onde a tecnologia otimiza processos e aumenta a eficiência, levando inovação a produtores que, até então, estavam à margem desse desenvolvimento.
Segundo ele, o projeto “visa gerar impacto econômico no agronegócio em escala nacional por meio da inovação digital, incluindo o IoT, dos pequenos produtores e agricultores familiares, multiplicando ganhos sociais e ambientais”.
A iniciativa começou em municípios como São Miguel Arcanjo e Caconde, onde a infraestrutura tecnológica foi reforçada com a instalação de uma rede 4G e tecnologia LoRa, acessada por dispositivos IoT de monitoramento agrícola.
Do total, 63 produtores locais aceitaram usar essa tecnologia. O que acabou facilitando a gestão agronômica e abrindo novos canais de comercialização, reduzindo a dependência de intermediários, aumentando lucros e otimizando o trabalho, afirmou.
O projeto conta com parceiros como Embrapa e prefeituras locais, e seu sucesso inicial já gerou um movimento de expansão para outros municípios, demonstrando o potencial transformador da conectividade no campo.