Presidente do BC diz que juros e crédito não andam juntos

Roberto Campos Neto disse que os juros de longo prazo podem aumentar se não houver credibilidade na queda dos juros de curto prazo
Roberto Campos Neto, presidente do BC | Foto: Pedro França/Agência Senado
Roberto Campos Neto, presidente do BC | Foto: Pedro França/Agência Senado

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse aos senadores que integram a Comissão de Assuntos Econômicos, que não concorda com o argumento de que uma queda nos juros  teria efeito imediato no volume das concessões de crédito no País. Segundo ele, se o movimento não for feito com credibilidade, o efeito pode ser contrário.

“Apenas 2,2% do crédito roda com Selic. Eu determino os juros de um dia e a economia não gira no juro curto. Se eu não tiver credibilidade, os demais juros vão subir”, afirmou Campos Neto no Senado.

Durante a sessão, o presidente do BC argumentou que “não necessariamente reduzir os juros curtos abaixa os juros longo”. “Por isso preciso fazer os movimentos no timing correto para a queda se propagar na curva”, reforçou.

Em audiência pública, o executivo repetiu que o aumento do crédito direcionado reduz a potência da política monetária. Segundo ele, isso ajuda a explicar o motivo do Banco Central precisar aumentar mais os juros que outros países com inflação semelhante.

“O Brasil tem um volume de crédito direcionado de 40,3%, nenhum outro país do mundo tem isso. Quando tenho muita meia-entrada, o preço da entrada inteira aumenta. Em países emergentes a média do crédito direcionado é de 3% ou 4%. O crédito direcionado funciona como ‘tubo entupido’ para política monetária“, afirmou.

Críticas de Lula

O presidente do BC disse ainda que nunca reclamou das críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à atuação da autoridade monetária. “É natural que as pessoas anseiem por juros menores. É natural que esse debate venha à tona, apesar dos juros já terem sido maiores. Acho que presidente tem direito de falar de juros, em nenhum momento reclamei disso”, afirmou, em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

Campos Neto considerou que o Brasil ainda tem um trabalho grande para fazer em reversão de expectativas para, aí sim, poder começar a reduzir os juros de forma saudável. E argumentou que a instituição não é culpada pelas “mazelas do país”, mas sim um ator que está no mesmo barco do governo e trabalha junto. “O Brasil tem fatores de risco, como dívida e CDS maiores que emergentes”, alegou.

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Redação DMI

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