“Pelo menos três grupos estão interessados no leilão do satélite”, prevê Valente

O diretor de operações da Telebras, Jarbas Valente, afirma que a capacidade do satélite reservada à Telebras irá possibilitar a empresa a conectar 2 mil cidades brasileiras além das escolas, postos de saúde e segurança. E prevê o interesse de pelo menos três grupos privados na compra da capacidade restante.

jarbas_valente02Tele.Síntese: Qual é o objetivo da Telebras com o satélite e com esse edital? 

Jarbas Valente: Antes de falar do edital, vou falar como eu peguei a Telebras. Sou amigo particular do Jorge Bittar (ex-presidente da Telebras). Ele abriu portas, mas efetivamente não conseguiu fechar nenhum grande contrato. Por que? Porque a estrutura da Telebras não permitia. Quer dizer, tem que ter uma proposta técnica,  aí quando você mandava o histórico da empresa a Telebras só entregava entre 9 a 12 circuitos por mês sendo que tinha que efetivar mais de 15 por dia.

Tele.Síntese: E por que não estava ativando?

Jarbas Valente: O governo investiu  R$ 540 milhões na rede terrestre até 2012 e aí cortou o dinheiro. A Telebras  pedia  R$ 600 mil e mandava R$ 9 mil. Se não tiver uma rede embaixo, não consegue dar vazão ao tráfego. Quando chegamos aqui, tínhamos  só 450 circuitos ativados. Isso na rede toda. Então,tivemos que rentabilizar a rede. Para botar um satélite se pensa muito na compra das antenas, comprar banda base, comprar as estações VSat. Mas e a infraestrutura para viabilizar isso?  E fomos construir essa infraestrutura.

Tele.Síntese –  O edital  do satélite é preço sigiloso. Por que?

Jarbas Valente – Na Anatel a gente botava o preço mínimo explícito. E nesse mundo aqui é diferente. A gente não quer que haja nenhum tipo de acordo.

Tele.Síntese–  Pensei que  fosse para maximizar o preço.

Jarbas Valente– Não. Maximizar o preço são os 70% na diferença do preço para o repique, que está na proposta do edital

Tele.Síntese: A sua expectativa é de quantas empresas na disputa?

Jarbas Valente: Pelo menos uns três grandes grupos disputando. Pode ser mais.

Tele.Síntese: O lote Telebras vai ser responsável pelo PNBL?

Jarbas Valente: PNBL de governo, diretamente. E tem o PNBL para os provedores, que também é com a gente.

Tele.Síntese: Mas não tem metas para os demais lotes?

Jarbas Valente: Quem tem que fazer isso é o ministério, a Anatel. Isso não cabe à Telebras. A Telebras é uma empresa de economia mista.

Tele.Síntese: Mas é a Telebras que está vendendo a capacidade. A empresa poderia falar: vou vender a capacidade, mas você que comprar terá que atender X pessoas no Brasil. E aí ele colocaria no plano de negócios dele. 

Jarbas Valente: Pode ser que ele nem saiba aonde você está e quanto você tem. Porque, primeiro,  nós estamos obrigando a empresa a garantir a cobertura.

Tele.Síntese: Mas isso não precisa, porque o satélite é nacional.

Jarbas Valente: Mas quem investe é a empresa. Isso é uma grana preta. O investimento é deles para poder garantir iluminação. Além de você ter que pagar para entrar, tem que atender quem está naquele local.

Tele.Síntese: Ele não tem que atender nada, ele só tem que iluminar.

Jarbas Valente: Ele tem que atender. Está escrito no edital. Se tiver algum tipo de manifestação que ele não quis atender por algum motivo, eu assumo e eu atendo. Eu posso fazer swap, ele vai ter as penalidades cabíveis. Podemos executar garantias. Um monte de coisas.

Tele.Síntese : O TCU vai opinar previamente sobre o edital?

Jarbas Valente: Ele está com a gente direto. O TCU exigiu tudo: tem que ter plano de negócio, tem que definir preço mínimo.

Tele.Síntese: Esse modelo da venda dos lotes já foi apresentado para o TCU, e ele já liberou?

Jarbas Valente: Se ele não tivesse liberado, a gente não estava fazendo. Não manifestaram nada contra. Nem o governo. Não dá para fazer um atendimento que a gente não tem condições de atender. Imagina se eu fosse atender 500 mil pontos? Qual o tamanho do call center que eu tenho que ter? Quantidade de pessoas para trabalhar emitindo contas, entregando contas? Quem faz varejo são as pessoas que hoje em dia compram a minha rede. O único varejo direto que eu tenho é com o governo, como Dataprev, Anatel, INTT. Nós temos certeza absoluta que esse tipo de modelo implementado na licitação vai dar certo, pois a demanda é gigantesca. Empresas de satélites que estão vindo para o Brasil, por que tem uma demanda gigantesca não atendida.

Tele.Síntese: Mas o PNBL estabelece  que a Telebras deveria atuar nos lugares onde não haveria interesse do mercado.

Jarbas Valente: Se fosse assim, não teria sido construído o satélite com feixes no Brasil todo, cobrindo Norte, Sul, Leste e Oeste com a mesma qualidade. Nós podemos vender em tudo qualquer lugar, no bom e no ruim.

Tele.Síntese: Mas quem tem o lucro como premissa não vai vender no ruim.

Jarbas Valente: Lógico que vai vender. Tem demanda.

Tele.Síntese: Tem demanda, mas não tem renda. E para isso que existe o PNBL, não é?

Jarbas Valente: Me mostra um PNBL que tem valor definido pela Anatel,  pelo ministério ou qualquer governo do Brasil? Não existe. Somente com a troca do PGMU é que foi estabelecido um preço mínimo para a banda larga, e não chegou a ser executado por ninguém.

Tele.Síntese: Mas as concessionárias que trocaram as metas do PGMU não são Telebras. O satélite da Telebras custou 2 bilhões do povo brasileiro.

Jarbas Valente: O povo brasileiro não pegou o dinheiro e mandou jogar fora. Eu quero fazer desse satélite outro satélite para ampliar a capacidade do povo brasileiro usar, senão morria de uma vez só.  O Brasil em crise, que não tem de onde tirar dinheiro, eu vou rentabilizar o projeto para atender o cidadão com serviço de qualidade. Como? Com parceiros que tenham essa capacidade no mundo.

Tele.Síntese: A dúvida é a seguinte: Você esta apostando que o mercado vai chegar. O PNBL foi criado justamente porque acredita que o mercado não chega. Não é contraditório?

Jarbas Valente: Não. Primeiro não é que o mercado não vai chegar. Tem que atender. Se tem 5 mil residências que ele vai vender, ele atendeu o que ninguém estava atendendo.

Tele.Síntese: Você acha possível mudar o tamanho do lotes no final?

Jarbas Valente: vai depender muito das manifestações, principalmente dos governos estaduais e municipais

Tele.Síntese: A Telebras vai atender também os governos estaduais e municipais?

Jarbas Valente: Vai. Só nós.

Tele.Síntese: Mas isso não é claramente para o atendimento do mercado privado?

Jarbas Valente: Vamos chegar no município que não tem  backhaul.  Só nós para levarmos lá a rede e botar WiFi social.

Tele.Síntese: Você já tem o numero de cidades que a Telebras vai atender?

Jarbas Valente: Pelo menos 2 mil que hoje não tem backhaul.

Tele.Síntese: Em quanto tempo?

Jarbas Valente: Vai depender das aplicações do governo federal, que vai levar educação, saúde, segurança. E as prefeituras vão usar para os seus órgãos e  o estado vai usar para os seus órgãos estaduais. É gigantesca a demanda, por isso botamos esse tamanho de banda Ka para atender aos governos.

Tele.Síntese: Vocês tiveram que informar  para a Anatel a modelagem do satélite, já que a licença foi concedida sem licitação?

Jarbas Valente: Não. Não precisa. Havia três princípios que estamos cumprindo. Primeiro que eu tinha que fazer a PNBL. Já estou fazendo, inclusive o WiFi para os municípios, que não tinha previsão de ter. Segundo, governo. Terceiro, atender as Forças Armadas. Nós vamos atender absolutamente esses três. A gente viabilizou o modelo que não tinha condições de ser viabilizado, só com mais recursos do Estado. Atende a população que tem condições e vai pagar para ter a banda larga e atende a população que não tem condições, e vai ter acesso do mesmo jeito. Viabilizo todas as aplicações do governo, dos militares e mais, ainda tenho condições de não deixar o projeto morrer, e já pensar no próximo satélite.

Tele.Síntese: Quanto a Telebras vai ganhar com esse leilão?

Jarbas Valente: Cada empresa que assinar o contrato dos lotes 1,2 e 3 pagará 10% do preço ofertado.  Eu precisava disso para poder usar a banda básica e comprar as estações VSat.

Tele.Síntese: Tinha entendido que a empresa que ganhar  o lote 1, o lote maior, iria fornecer essa infraestrutura à Telebras.

Jarbas Valente: Não. Eu vou comprar a capacidade dele,  vou comprar as VSats, que vão ser dele. E a empresa vai instalar e manter na rua.

Tele.Síntese – Por que a capacidade destinada para o lote Telebras é a menor delas de todo o satélite?

Jarbas Valente:  Faz as contas pela velocidade, leva em conta o tempo de retardo e você vai ver quanto se pode colocar simultaneamente. A Telebras terá 60 Gbps da banda Ka, com 100% de cobertura. Só para comparar o que isso significa, a Telefônica, com o satélite Amazonas 3 só tem 3 Gbps na banda Ka; a Huges, com 60% de cobertura só tem 24 Gbps na banda Ka, a Embratel, com 70% de cobertura, tem 20 Gbps na banda Ka; a Yahasat, com 80% de cobertura, tem 15 Gpbs; e a Hispasat, com 60%, tem 15 Gbps.

Tele.Síntese – Esses operadores privados de satélite vão lançar seus satélite e de repente têm mais um competidor?

Jarbas Valente: Em 2020, 2021 virá um outro competidor com uma capacidade enorme. É a ViaSat, dos Estados Unidos, o seu satélite terá 1 Terabyte.

Tele.Síntese: O atual presidente da Telebras já não foi dessa empresa?

Jarbas Valente: Não, aquela Viasat era brasileira que tinha comprado uma operação da  Telefônica.

 

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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