Operador de rede neutra móvel do México pede recuperação judicial
A Altán Redes, empresa mexicana de rede móvel neutra, pediu recuperação judicial ontem, 13. Em nota, a provedora informou que busca a proteção do governo mexicano para renegociar suas dívidas. Com isso, pretende continuar o projeto da rede aberta.
“A empresa está em negociações positivas com a maioria dos credores para preservar o valor da companhia, salvaguardar os ativos, sua operações e os empregos de seus colaboradores”, disse.
A companhia é a responsável pelo projeto La Red Compartida em parceria com o governo federal, que busca fechar as desigualdades digitais e facilitar a entrada de novos operadores no mercado. Essa também é uma tentativa do governo mexicano de reduzir a dominância da América Móvil, dona da Claro, no país. A operadora tem crescido ainda mais, sendo que seu lucro mais que dobrou no segundo trimestre de 2021 em relação ao anterior.
Modelo de rede neutra não é igual ao que está aparecendo no Brasil
Ari Lopes, gerente para Service Providers para Americas da consultoria OMDIA, afirma que embora a iniciativa tenha suas particularidades, traz lições para empresas que desejam se apresentar como operadoras móveis de rede neutra em outros países – modalidade de negócio que pode surgir no Brasil a partir do leilão de espectro 5G.
A seu ver, este conceito depende de grandes contratos para se financiar. A Altán não conseguiu firmar tais acordos ao longo dos seus quatro anos de existência. “O pedido de recuperação judicial é um aviso dos riscos que esse modelo traz, embora não sejam muitas as semelhanças com o modelo que pode aparecer no Brasil”, afirmou ao Tele.Síntese.
Ele ressaltou que a Altán era uma iniciativa idealizada pelo governo mexicano para fazer frente ao predomínio da América Móvil no mercado local de telefonia celular. O objetivo era ser uma grande rede neutra capaz de atrair 100 MVNOs.
“De fato atraiu 100 MVNOS, mas tudo isso trouxe apenas 3 milhões de usuários, o que indica que é muito importante conquistar os clientes de peso”, ressalta. Entre os grandes que poderiam ser atraídos à infraestrutura da Altán, que detém 90 MHz contínuos no espectro de 700 MHz, estão Telefónica e AT&T, ambas com operações móveis no país. Nenhuma, porém, interessou-se.
“A Telefónica está devolvendo espectro para o governo mexicano e, ainda assim, preferiu fechar com a AT&T para usar frequências. Já a AT&T está focada em se capitalizar para fazer frente ao avanço da Verizon no 5G dos Estados Unidos. Além disso, a Altán lançou primeiro sua rede em mercados onde já havia redes dessas empresas, tornando-se uma potencial competidora, em vez de um negócio complementar”, resumiu.
A construção da rede da Altán consumiu até o momento cerca de US$ 1 bilhão. A implantação foi realizada por Huawei e Nokia. A expectativa de Lopes é que a Altán não feche as portas, mas tenha a dívida reestruturada. Se por um lado a empresa não conquistou os principais clientes privados, por outro, é a responsável pela rede de serviços de emergência do México, o que deve levar a algum nível de intervenção governamental a fim de garantir a continuidade das operações. (Colaborou Rafael Bucco)