O problema das OTTs é só a ponta do que vem pela frente, diz Navarro
Num alerta para todas as empresas do setor de telecom, o presidente da Telefônica Vivo, Eduardo Navarro, que assumiu o cargo recentemente, disse que o problema das OTTs não é um problema do Brasil nem um problema do setor de telecom. “É o mesmo problema dos táxi versus Uber ou do setor financeiro versus Fisntechs”, observou. Para ele, que trabalhou na área de serviços digitais da Telefónica, na Espanha, o setor tem que mudar o mind set, pois o cenário é outro, e precisa a aprender a entender e analisar esse cenário.
Enquanto o Brasil convive com quatro operadoras dominantes, onde nenhuma tem mais de 30% de cota de mercado, no mundo das OTTs, um buscador tem mais de 90% de mercado, na mensageria há dominação de um aplicativo. A compra do WhatsApp pelo Facebook foi aprovada pelos reguladores da União Europeia em uma semana quando um processo de compra ou fusão de operadoras na Europa não leva menos de um ano.
Essas assimetrias, lembrou, têm que ser encaradas a sério. Em sua opinião, é preciso tratar os problemas de forma mais pragmática, especialmente em relação ao futuro. Ele ponderou que é preciso preparar o terreno para a Internet das Coisas. Se não for resolvidos problemas regulatórios como o do Fistel, no caso do Brasil, a Internet das Coisas pode se inviabilizar para o setor de telecom.
“Se essas barreiras não forem resolvidas, virão empresas para trazer soluções da mesma forma que o WhatsApp acabou com o sistema de mensageria das operadoras. IoT vai ser muito mais do que envio de dados via conexão. Vai ser gestão de dados”, observou, afirmando que hoje a política de proteção de dados do cidadão é totalmente assimétrica. Enquanto a Telefônica Vivo tem que atender a 2 milhões de pedidos de informações por ano de autoridades da Justiça, e manejar esses dados com o máximo cuidado, as OTT não tem esse tipo de encargo.
Navarro destacou que não é contra as OTTs, pois elas carregam serviços na rede que são “adorados” pelos seus clientes, que ele mesmo é usuário desses serviços, que a Telefônica Vivo é parceira de OTTs, mas defende a necessidade de se encontrar um ponto de equilíbrio para a convivência de todos os players. Há muitas assimetrias que vão da carga tributária, da carga regulatória às próprias atividades permitidas a um e outro grupo de empresas. “Temos que encontrar uma forma de convivência sustentável”, disse ele.
Navarro destacou, no entanto, que uma operadora não é uma OTT. “Não podemos esquecer nosso DNA. Nossa fortaleza é a relação com nossos clientes, é a conectividade. A evolução para mundo digital tem que ser a partir da conectividade.”