O papel transformador do investimento social privado na educação pública
O investimento social privado (ISP) se consolidou como um aliado importante em prol da educação pública no Brasil. Nos últimos anos, vimos esse tipo de investimento deixar de ser considerado apenas assistencialismo, para se tornar uma prática muito mais abrangente, com propósitos claros e alinhados a objetivos estratégicos das empresas. Cada vez mais, a sociedade civil reconhece que contribuir para a melhoria da educação não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas também um caminho para o desenvolvimento sustentável do país.
O Brasil tem sido palco de uma mudança significativa no enfoque desses investimentos, especialmente na educação. De acordo com último Censo GIFE (2022-2023), o valor total do ISP no país chegou a R$ 4,8 bilhões, sendo a educação o foco principal, com quase R$ 2 bilhões do volume investido, valor quase cinco vezes maior que o recebido pela segunda área com maior investimento: cultura e artes (420 milhões de reais); e pouco mais de seis vezes o valor investido na terceira, saúde (312 milhões de reais). Esse montante, quando direcionado para agendas relevantes e projetos bem estruturados em educação, tem potencial para gerar um impacto significativo, superando a dispersão de recursos em iniciativas pequenas e isoladas.
Nesse sentido, as empresas têm trabalhado de forma colaborativa, atuando em movimentos e coalizões que debatem estratégias e agendas a favor de uma educação pública de qualidade, inclusiva e digital. E o poder público, por sua vez, em todas as esferas – seja ela municipal, estadual ou federal – contam com o apoio das Fundações e Institutos, que possuem empresas como mantenedores, para auxiliar no processo e contribuir com a aplicação de ferramentas e ações em curso e na formulação de políticas públicas. A Fundação Telefônica Vivo é uma dessas instituições, que tem participado de diferentes fóruns, conjuntamente com outros atores, com o objetivo em comum de promover avanços na implementação de políticas públicas educacionais focadas na conectividade digital inclusiva. Isso parte justamente dessa visão de que trabalhar em parceria em prol de uma agenda sistêmica é essencial para potencializar a criação de soluções em escala, com resultados duradouros e robustos.
Parcerias
A Coalizão Tec Educação, por exemplo, que conta com a participação de cinco organizações da sociedade civil (CIEB, Fundação Lemann, Fundação Telefônica Vivo, Instituto Natura e MegaEdu), tem como objetivo potencializar o uso da tecnologia na educação por meio do apoio técnico a governos, nas áreas de infraestrutura tecnológica, formação de educadores, currículo e recursos educacionais de gestão de forma coordenada.
Dentro da coalizão, a Fundação Telefônica Vivo lidera a frente de formação de equipes pedagógicas com o intuito de que professores, gestores e técnicos desenvolvam as competências digitais necessárias e as incorporem em suas práticas pedagógicas. Neste sentido, a Fundação Telefônica Vivo já avançou na implementação do Programa de Formação Docente em Competências Digitais em Recife (PE) e na rede estadual do Mato Grosso, como uma resposta direta à urgência do desenvolvimento dessas competências de professores e gestores. Além disso, produz notas técnicas sobre temas relevantes do setor e participa ativamente do Grupo de Trabalho de Tecnologia do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed).
Com o movimento Profissão Docente, as discussões se voltam para propor melhorias em políticas de formação, em níveis estadual e federal, tanto pela valorização da carreira docente quanto pelo fortalecimento da atuação dos professores de todo o país. O Educação Já, liderado pelo movimento Todos pela Educação, visa reunir propostas para a formulação e implementação de um plano sistêmico para a educação básica. Em todos estes exemplos, destaca-se a consonância com o foco da Fundação Telefônica Vivo de levar competências digitais para educadores e alunos, afinal a digitalização – quando empregada de forma estratégica e estruturante – acelera a inclusão social.
Entre os principais marcos dessa evolução do setor, podemos destacar a crescente ênfase na digitalização e na inteligência artificial. Se antes já era uma tendência, foi acelerada nos últimos anos, se tornando uma bandeira central, que reconhece a necessidade urgente de preparar as escolas e os alunos para o futuro, ou melhor, o presente tecnológico. A Estratégia Nacional de Escolas Conectadas do governo federal, que acaba de completar um ano de implantação no Brasil, exemplifica essa transformação, com recursos destinados à conectividade e ao letramento digital.
Garantir que as instituições de ensino estejam equipadas com tecnologias adequadas e sistemas de gestão integrados tornou-se uma prioridade. Essa aposta em infraestrutura tecnológica é vista como um fator crucial para o desenvolvimento de alunos e professores, promovendo uma inserção qualificada no mercado de trabalho. No ocasião do leilão do 5G, que viabilizou a chegada da rede no país, somente as operadoras de telecomunicações aportaram R$3,1 bilhões para conectar escolas públicas de educação básica. Ou seja, o recurso financeiro, que geralmente é o maior desafio inicial para viabilizar políticas públicas, já está disponível.
Um dos grandes desafios que o Brasil enfrenta nesta área é a implementação eficaz do novo ensino médio, que tem o potencial de expandir o acesso a uma educação de qualidade e preparar os jovens para a fase produtiva. A grande maioria (98%) dos jovens dessa fase escolar nas redes públicas gostaria de uma escola diferente, que os preparasse para o mercado, de acordo com a “Pesquisa de opinião com estudantes do Ensino Médio”, realizada pelo Datafolha em 2022. Nela, a maioria dos estudantes apontava que se sentiam aptos a fazer escolhas sobre qual área desejam se aprofundar. Mas, para isso, precisariam de orientação para fazer as melhores escolhas profissionais. A partir disso, o Pense Grande Tech, iniciativa da Fundação Telefônica Vivo que apoia redes públicas de ensino com foco no Ensino Médio, contribui com o desenvolvimento de competências digitais em educadores e formação qualificada de novos profissionais, de modo que possam ocupar as mais de 150 mil vagas que surgem por ano na área de tecnologia, de acordo com a Brasscom, trazendo oportunidades ao jovem do ensino médio público.
Mais do que garantir que a tecnologia faça parte do cotidiano das escolas públicas, é necessário fazer isso com intencionalidade pedagógica, ou seja, com os educadores utilizando o que de melhor a digitalização pode oferecer no processo de aprendizagem dos estudantes. E, neste contexto, é que o ISP na educação tem atuado de forma tão crucial na construção de um Brasil mais justo e desenvolvido.
Ao contemplar estes 25 anos de Fundação Telefônica Vivo no Brasil, implantada apenas um ano após a chegada da Telefônica no país com a privatização das telecomunicações, reflito sobre os avanços que tivemos nos últimos anos com relação à educação e ao investimento social privado. Tenho a certeza de que estamos no caminho certo. Nos últimos anos, reforçamos nosso compromisso com a escola pública, especialmente nessa constante transformação tecnológica, em que o desenvolvimento de competências digitais se apresenta como uma poderosa ferramenta para minimizar desigualdades e corrigir anos de atraso educacional no Brasil. Nesse contexto, o investimento no letramento digital é essencial para garantir uma compreensão efetiva das tecnologias e sua aplicação crítica no mercado de trabalho e em seu exercício de cidadania.
O investimento das empresas na educação e na digitalização pavimentam o caminho para um futuro mais inclusivo e sustentável. A transformação da educação no Brasil passa, necessariamente, por parcerias, inovação e um compromisso real com a qualificação de professores e alunos. O ISP, quando bem direcionado, tem o potencial de gerar um impacto profundo, ajudando a construir uma sociedade mais equitativa e uma economia mais forte. A educação pública de qualidade é mais que uma causa social, é um alicerce para o desenvolvimento sustentável do país.
Renato Gasparetto, vice-presidente de Relações Institucionais e Sustentabilidade da Vivo