Nunes: precisamos treinar os humanos para lidar com IA

Antonio Carlos Nunes, diretor da RNP, diz que a IA tem potencial para nos ajudar, enquanto humanidade, a alcançar a maioria dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030. Mas é preciso educar a população.
Antonio Carlos Nunes, diretor da RNP. Crédito-Divulgação

* Antônio Carlos Nunes

A Inteligência Artificial (IA) já ocupa a comunidade científica mundial há décadas, mas apenas este ano se tornou um assunto mais palpável para o grande público. De fato, foi agora em 2023, com o surgimento de interfaces como Chat GPT, Bing, Midjourney ou DALL-E, que a IA passou a se apresentar como um elemento do cotidiano, com milhões de pessoas utilizando tais ferramentas e, ato contínuo, se questionando sobre seus impactos.

A qualidade do uso de ferramentas de IA em maior escala e sua integração em novos serviços e aplicativos trarão grandes diferenciais e novas oportunidades ainda não exploradas.

Conforme ressaltam especialistas no assunto, em discussões na imprensa e na academia, a IA tem potencial para nos ajudar, enquanto humanidade, a alcançar a maioria dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030. É notável seu potencial para repercutir em uma educação de maior qualidade (ODS 4), para auxiliar na compreensão das mudanças climáticas (ODS 13) ou para levar a uma produtividade mais sustentável na agricultura (ODS 2), entre tantos outros.

No plano econômico, os potenciais benefícios também são consideráveis. Dados do último relatório da GlobalData sobre o tema indicam que a receita trazida pela IA generativa terá, no mundo, uma taxa de crescimento anual em torno de 80% entre 2022 e 2027. No Brasil, a projeção chega a um crescimento de 100% para o mesmo período. Isso levará à criação de novos paradigmas a partir das demandas que serão trazidas do campo da pesquisa, assim como para as novas aplicações e seus usuários.

Todo esse cenário vem inclusive subsidiando a RNP na busca de parceiros para permutar, a partir do uso da sua infraestrutura óptica, áreas de colocation em data centers no Brasil visando a estruturação de Centros Nacionais de Dados, de onde poderão ser modelados e oferecidos novos serviços para as instituições de ensino e pesquisa integrantes do Sistema RNP, levando em consideração as necessidades e desafios para os próximos anos.

Medos Imaginários

Todo esse potencial de transformação caminha lado a lado com medos imaginários e ameaças reais sobre possíveis impactos desastrosos dessas tecnologias no mercado de trabalho, na produção intelectual e até no nível de autonomia que essas tecnologias poderão ou não vir a adquirir.

Para que uma sociedade possa de fato usufruir do que há de mais benéfico nessas aplicações e serviços emergentes, precisamos de investimento perene e sustentável em ciência, tecnologia e educação. Em um país como o Brasil, com grandes assimetrias sociais e regionais, onde quase 30% da população ainda se encontra abaixo da linha da pobreza, iniciativas de médio e longo prazo que viabilizem uma maior equidade de condições, levando a um real uso e, principalmente, entendimento sobre a tecnologia, poderão mudar a atual realidade.

O papel da educação é, portanto, central. Deve-se buscar um processo de requalificação e novos métodos de ensino, incluindo o aprendizado das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) de forma ampla e democrática em todas as escolas, onde o aluno, além de usar, também entenda o funcionamento dos diferentes mecanismos e saiba questionar o que pode ser potencialmente desenvolvido com a tecnologia. Tanto se fala de machine learning, o aprendizado de máquinas, mas nós, os humanos, também precisamos de capacitação.

Para dar conta de discutir o presente e o futuro da IA da maneira mais abrangente possível, o Fórum RNP, a ser realizado no final de agosto em Brasília, trará especialistas dos ramos da filosofia, da ciência da computação, do direito e da pedagogia para que apresentem o que de mais atual estão elaborando sobre todo esse complexo processo.

Acreditamos, de fato, que o tema da Inteligência Artificial reflete uma transição de momento civilizatório pela qual estamos passando. Assim, para contribuir com uma discussão de alto nível que possa repercutir em toda a sociedade, o assunto não deve ficar restrito à nossa área mais técnica de Tecnologias da Informação e da Comunicação, com a qual lidamos mais diretamente na RNP.

É preciso ouvir outros atores, buscando diversidade de ideias, e debater incansavelmente os benefícios e malefícios da IA. Os impactos dela na sociedade serão profundos – cabe a nós, humanos, estar um passo à frente da tecnologia criada por nós.

* Antônio Carlos F. Nunes – , diretor de Serviços e Soluções da RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa). É graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e mestre em Engenharia Elétrica com ênfase em Teleinformática e Automação pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ). Na RNP, coordenou e atuou em diversos projetos e iniciativas em uma trajetória de mais de 20 anos, até chegar à Diretoria de Serviços e Soluções.

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Colaborador

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