“A Nextel resolveu priorizar a Grã-Bretanha”, diz o CEO Francisco Valim

Quem lê a frase acima, que dá o título à entrevista, pode achar ou que o executivo enloqueceu, que não entende nada de telecom, ou que a situação mudou rápido demais com a saída da Grã-Bretanha da União Europeia e só a Nextel percebeu isso. Mas não é nada disso. Ao longo dessa entrevista, o leitor vai constatar que, sob a gestão de Francisco Valim, a quinta operadora de celular brasileira embora tenha licença para operar em todo o país, resolveu focar sua atuação nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, área de atuação igual a do Reino Unido.
NEXTEL - 03/09/2015 - Francisco Valim, presidente Nextel. Foto: Leonardo Rodrigues
NEXTEL – 03/09/2015 – Francisco Valim, presidente Nextel.
Foto: Leonardo Rodrigues

Quem lê a frase acima, que dá o título à entrevista, pode achar ou que o executivo enlouqueceu, que não entende nada de telecom, ou que a situação mudou rápido demais com a saída da Grã-Bretanha da União Europeia e só a Nextel percebeu isso. Mas não é nada disso. Ao longo dessa entrevista, o leitor vai constatar que, sob a gestão de Francisco Valim, a quinta operadora de celular brasileira embora tenha licença para operar em todo o país, resolveu focar sua atuação nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, área de atuação igual a do Reino Unido.

Para Valim, o mercado brasileiro, com cinco operadores de celular, ainda precisa passar por um processo de consolidação, e acha normal que o mercado pense que as menores operações é que tendem a ser consolidadas. Mas assinala que a sua empresa, sob novo foco, já saiu do vermelho e ganha market share.

Tele.Síntese : Como está a atuação da operadora pelo Brasil? 

Francisco Valim: A Nextel opera em várias cidades do Brasil, mas o foco são as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro  e  de São Paulo.

Tele.Síntese: Um reposicionamento? Por quê?

Valim: Por que é a mesma discussão de querer ser “rabo de elefante ou cabeça de galinha”. A gente acha que é mais eficiente, que consegue prestar um serviço melhor para os clientes focando nessas regiões a se concentrar em outras ações. Tanto é que nossa rede, segundo o mapa da Anatel, é melhor que a das competidoras em SP e RJ.

Tele.Síntese: Na 3G e 4G?

Valim: 3G em SP, 3G e 4G no RJ.

Tele.Síntese: Parece que o acordo de compartilhamento com a Vivo é só com a 3G?

Valim: O acordo que esta sendo proposto e está na Anatel inclui o 4G. O Cade (órgão antitrust) já aprovou a operação, incluindo a quarta geração.Em SP a licença deve estar saindo para sermos autorizados a iniciar o processo.

Tele.Síntese : O fato de vocês priorizarem agora só essas duas cidades, não tem problemas com roaming? Como vocês fazem isso?

Valim: Não, ao contrário! Nosso acordo com a Vivo, ( e nós melhoramos este acordo), cobre todas as cidades do Brasil, praticamente. Para o cliente, não tem nenhuma diferença aonde ele está. Para ele é“agnóstico está em uma rede física da Nextel ou se está em um rede física da Vivo.

Tele.Síntese: Não há problema das frequências ficarem muito cheias com esse acordo?

Valim: Não. Uma coisa são as frequências, outra coisa é a infraestrutura. A infraestrutura, uma para cada empresa, é estatisticamente pior para o cliente.

Tele.Síntese: Por quê?

Valim: É o seguinte, imagina que você tivesse que investir 100. Para fazer quatro redes você teria que investir 400. Com muito menos que 400 você faria uma rede, que estatisticamente seria muito mais robusta do que quatro redes.  Vamos dizer que eu faço um dimensionamento para mil clientes. Todo mundo faz para quatro mil com alguma folga. Eu conseguiria gastar menos e me dimensionar para atender mais gente. Então, é estatisticamente melhor para o cliente e financeiramente melhor para as operadoras se elas compartilhassem mais infraestrutura. Infelizmente, não acontece isso. Temos o negócio das torres, mas fora isso, quase nada.

Fui eu quem começou o processo de ran sharing na Oi, em 2012, com a TIM. Porque  acreditava que esse era o caminho. Não dá para todo mundo fazer rede e cobrir o Brasil inteiro, o Brasil é muito grande. No caso da Nextel, a gente priorizou a Grã-Bretanha. A nossa área de atuação é igual a Grã-Bretanha (risos). A gente acha que com foco, conseguimos atender melhor o cliente, focar nas soluções.

Tele.Síntese: E não pretendem expandir? Ou vão ficar somente nessas áreas? 

Valim: Não! A priori vamos focar nessas duas regiões. É o Reino Unido, né.

Tele.Síntese: É, pode declarar guerra à Comunidade Europeia né, (risos)

 Valim: A gente tem uma área muito grande de atuação, com capacidade de renda diferenciada, aonde a gente é a empresa que mais ganhou market share nos últimos anos.

Tele.Síntese –  Saiu um balanço recente,  que vocês entraram em falência, que acabou…enfim…

Valim: Na realidade é um balanço parcial.  A pessoa pegou um pedaço da empresa e comparou. Como tem muitas variações cambiais, isso gera variações gigantes, por conta da forma como o acionista botou o capital aqui.

Tele.Síntese : Mas foi PUBLICADO um balanço que era um deficit…

Valim: Exatamente! Foi publicado um prejuízo, oriundo de uma variação cambial, sob o empréstimo de sócios. Ou seja, não tem impacto nenhum.

Tele.Síntese: E hoje os sócios continuam os mesmos? Que são os credores que fizeram o chapter 11?

Valim: Isso! São os sócios da NII, que é a controladora da Nextel.

Tele.Síntese: Que é a mesma coisa.  A caixinha é a mesma!

Valim: Não é a mesma, são caixinhas diferentes.

Tele.Síntese: Tá! Mas acaba sendo a mesma coisa?

Valim: Acaba sendo a mesma coisa.

Tele.Síntese: Hoje a NII só tem a Nextel no Brasil. Como você acha que seus sócios veem essa operação, agora com esse cenário?

 Valim: Nós saímos de um cenário muito adverso. De variação negativa de caixa.

Tele.Síntese: Já saiu desse cenário?

Valim: Já. Nós estamos a dois trimestres gerando caixa positivo: o último trimestre do ano passado e o primeiro deste ano. Não posso falar deste segundo trimestres, mas também foi bastante positivo. Somos uma empresa que cresce, gera caixa operacional, e o acionista continua investido neste crescimento.

Tele.Síntese: Você imagina que uma empresa consiga se manter atuando no mercado de foco?

Valim: Não é um risco pequeno. Mas a gente não tá falando ” Ah, nós somos operadores da cidade x y z…” Não! A gente é operador de uma cidade  muito grande, muito populosa e muito rica. E temos ganhado o mercado dos nossos concorrentes. E temos um serviço de cobertura melhor dos nossos concorrentes.

Tele.Síntese:  Você acha que a consolidação do mercado de telecom no Brasil ainda é necessária? 

Valim: Não existe um mercado grande que tenha cinco operadoras. No normal a gente vê três operadoras.

Tele.Síntese: Mas o Brasil não tem cinco.

Valim: Como não? Vivo, Claro, Tim, Oi e nós.

Tele.Síntese: São seis, então. Porque tem a Algar também.

Valim: Algar também. Mas a Algar tem bem menos assinantes. Primeiro, nós somos uma empresa com 4 milhões de assinantes. É menor que as outras mas com 4 milhões de assinantes, fatura 4 bi. A Algar é uma empresa absolutamente dominante no mercado dela em todas essas áreas: fixo, móvel, banda larga. Eles são muito dominantes. Tem menos assinantes,  estão numa área mais restrita do que nós. Nós temos uma área ampla e podemos ampliar essa área de atuação na medida em que a gente vê que o mercado esta mais promissor.

Tele.Síntese – Se não pretende ampliar a área de atuação, quem sabe o segmento, partindo para o mercado de TV?

Valim: Só celular.

Tele.Síntese: Então volto a pergunta- dá para sobreviver?

Valim: Mais do que sobreviver. Nós estamos crescendo e ganhando market share. Eu acho que eventualmente vai acontecer alguma consolidação no mercado, como aconteceu em todos os outros mercados.

Tele.Síntese: Os menores são fortes candidatos a serem consolidados?

Valim: Em tese, sim! Deve ser por isso que as pessoas falam tanto que estão nos comprando, até entendo a tese e o motivo das pessoas dizerem isso. Mas o fato é que a gente continua crescendo, continua girando caixa, continua ganhando market share. Quando vai acontecer e em que condições a consolidação vai acontecer, eu não sei.

Tele.Síntese: Você acha que tem alguma possibilidade de vir um player novo para o mercado?

Valim: Nesse momento eu acho pouco provável.

Tele.Síntese: Mas passada a crise economica?

Valim: Passada a crise… (risos). As incertezas são de ordem tamanha e a competição é tão intensa, que até agora eu não consegui identificar um player que estivesse interessado em entrar no Brasil. O player mais óbvio que existe, que todo mundo fala é At&t, que comprou a Directv e ganhou a Sky,

Tele.Síntese: E parece que ele não quer o presente.  E a Nextel está com alguma estratégia para esse mundo IoT? Vocês tem alguma sacada diferente?

Valim: Sim! Nós não temos nenhuma sacada diferente, estamos na fase de fazer o dever de casa, ou estruturar para o crescimento. Vamos continuar crescendo, continuar girando caixa, para  fazer coisas mais inovadoras e criativas. Estamos aqui na feira (na Feira da TV paga, ABTA) justamente para identificar oportunidades. Isso aqui não é uma feira do automóvel né?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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