Miriam Aquino, minha amiga especial
Por Lia Ribeiro Dias *
Conheci a Miriam no movimento sindical. Era uma jovem repórter. Chamou minha atenção pelas suas posições incisivas. Falava alto, gesticulava muito. Impunha sua presença num grupo que tinha lideranças do porte de Hélio Doyle e Armando Rolemberg. Estávamos em campanha nacional para a renovação da diretoria da Federação Nacional dos Jornalistas e o candidato a presidente apoiado pelo nosso grupo era o jornalista Rogério Medeiros, do Espírito Santo.
Fui reencontrá-la mais tarde em coberturas jornalísticas na área de economia e informática, quando já trabalhava em São Paulo. Passados uns anos, em 1992, convidei-a para trabalhar comigo na Plano Editorial como correspondente em Brasília. Ela tinha acabado de ter seu primeiro filho, o Diego, que ainda mamava no peito. Nunca mais nos separamos até minha aposentadoria em 2019. Mas nossa amizade seguiu em frente, cada dia mais sólida e cúmplice.
Foi uma parceria que durou 27 anos. Seu mais longo casamento, dizia ela. Uma parceria que tinha alguns componentes que a desafiavam. Duas taurinas juntas não é uma convivência fácil. Mas administramos com bom humor, paciência e, às vezes, acaloradas discussões, a teimosia e o mandonismo da dupla. E administramos bem, pois construímos a Momento Editorial que está completando 20 anos. Entre seus frutos, tivemos a revista ARede, o site TeleSíntese, o PontoISP.
Miriam era uma figura marcante, em todos os sentidos. Era superlativa. Mulher bonita, chamava atenção com seu olhos verdes. Seu cabelo castanho, teve fase de loiro, ruivo e preto. Era generosa com os amigos, solidária em qualquer situação e sempre presente. Mas não se esperasse dela nenhum gesto de mínima simpatia em direção a quem falou mal de amigos seus – ela não era de perdoar fácil.
Como profissional, era admirável. Primeiro, tinha uma capacidade de trabalho de fazer inveja a qualquer jovem. Aos 64 anos, ainda dava conta de longas jornadas, que iniciava logo cedo, por volta das 8, com a leitura dos jornais e do noticiário especializado nacional e internacional, e não encerrava antes das 20 horas. Arguta, tinha uma grande facilidade para juntar informações e construir análises e, na imprensa especializada, destacou-se pela facilidade que tinha para entender as questões regulatórias do mundo das telecomunicações, das comunicações e da internet.
Miriam tinha uma característica que admiro. Era muito generosa em compartilhar seu conhecimento profissional tanto com quem trabalhava com ela como com outros colegas. Nessa seara, não fazia nenhuma economia. Também dividia suas opiniões políticas. Miriam sempre teve lado. Sempre foi de esquerda. Nunca escondeu suas preferências políticas.
A última vez que a vi foi antes do Natal. Jantamos juntas: ela, Ediana Baleroni, Fátima Fonseca e eu, todas jornalistas. Estava animada, como sempre. Um dos projetos era o aniversário de 100 anos de dona Léa, sua mãe e grande referência. Insistia para que eu fosse. Poucas horas antes de receber a devastadora notícia de sua morte, tinha conseguido comprar a passagem, após 11 tentativas, para o almoço do centenário de dona Léa, marcado para 8 de fevereiro. Desta vez, Miriam não fará a homenagem, citando a alegoria do jacarandá que tem raízes fortes e sombra generosa, como fez nas comemorações dos 80 e dos 90 anos. E todos nós vamos sentir uma saudade danada.