Medeiros: a 5G pode tornar telecom onipresente

A tecnologia de quinta geração vai oferecer, no início, apenas velocidade mais alta, de 10 GB. "O que já é muito bom", alega Roberto Medeiros, diretor sênior de Produtos da Qualcomm. Mas ela promete muito mais, avisa.

Roberto-Medeiros

Com a publicação do release 15, no final do ano passado, as operadoras de celular tiveram a garantia de que a tecnologia 5G vai estar calcada na 4G, o que é um alívio para as empresas, que garantiram a continuidade de seus negócios. Mas Roberto Medeiros, nessa entrevista, assinala que será desenvolvida a tecnologia stand alone, para permitir o ingresso de qualquer outro ramo industrial na oferta de novos serviços de telecomunicações, pois o objetivo dessa nova tecnologia é ser onipresente.

 

Tele.Síntese: Você acha que o Brasil vai ser o primeiro a lançar o 5G na América Latina ou tem alguém mais avançado?

Roberto Medeiros: Historicamente, sempre os chilenos conseguem, porque são menores e por serem menores, mais ágeis. Os uruguaios também são pequenos e conseguem fazer mais coisas. Mas  acho que tem alguma chance de as operadoras que atuam no Brasil serem as primeiras a lançar a tecnologia.

Tele.Síntese : Não há uma distância muito grande sobre o que as operadoras que atuam na América Latina acham da 5G, mais pessimistas, e os fabricantes, muito otimistas?

Medeiros: Com a  5G, a gente espera que o mundo de telecom passe a operar e ser relevante em outras indústrias como agrobusiness, cidades inteligentes, saúde. Porém, apesar disso,  5G em essência é uma rede de celular nova.  Então, quem tem que implementá-la é quem já está no negócio desde o início, e quem já está, originalmente, são as operadoras. Talvez elas tenham um pouco de relutância porque estão na zona de conforto em operar no mundo de telecom. Elas pensam:  “eu compro ou ganho espectro, eu invisto em equipamento, eu comercializo, convenço alguém a criar telefone e vendo os minutos, isso eu sei como funciona”. Para as operadoras há certa insegurança,elas pensam “o meu business vai entrar em todas essas indústrias, mas não é muito óbvio para mim como vou fazer para ficar rico com isso. Portanto, tenho que ter um pouco mais de cuidado, não me empolgar demais”..

Tele.Síntese: Você acha que a 5G tira o perfil de “tubo” ou “pipe” das operadoras?
Medeiros: Acho que tem oportunidade para as operadoras. Por isso, veem com otimismo, mas com cautela, porque, no modelo pipe, sabem como operar. Não é confortável, mas sabem. O outro modelo é: agora terá nova oportunidade, mas se acelerar demais pode vir alguém da ponta esquerda e te levar o negócio.

Tele.Síntese: Você acha que o mundo telecom vai dominar a expansão ou é outra indústria que virá para o mundo de telecom?

Medeiros: Vai  precisar haver consciência, objetividade e assertividade por parte das operadoras para aproveitar essa oportunidade. É verdade que  um cloud provider, ou um fabricante de equipamentos pode ver a 5G como  um veículo para implementar novos serviços.  Mas acho que a oportunidade é inversa. Insisto que ainda há muita oportunidade para as operadoras manterem o controle, serem a liderança, porque a primeira etapa da 5G é a velocidade mais alta e mais rápida. Era gigabit e agora vai até 10GB. Tem alguns que falam:  “ah! que sem graça, é só a velocidade mais alta”. Sem graça nada, isso é legal para “caramba” e os usuários se empolgaram. Fizemos uma pesquisa de opinião e metade dos usuários se interessaram simplesmente em comprar o novo aparelho 5G só por causa do aumento da velocidade.

Tele.Síntese: Você acha que o usuário valoriza a questão da velocidade?
Medeiros: Concluímos que sim e pesquisamos cinco mil e oitocentas pessoas nos países que estão com o mercado avançado, com pressa de 5G.

Tele.Síntese: Mas só 50% comprariam um celular pela volocidade  mais alta?
Medeiros:  Comprariam simplesmente porque é 5G, o que significa que a operadora continua com um trunfo na mão, porque se a 5G está começando por essa forma, depois vêm as outras coisas, como latência mais baixa e eventualmente uma massificação do IoT e aplicações mais sofisticadas que requeiram outras coisas além velocidade. É óbvio que a operadora precisa fazer as contas para saber se instala em três meses ou três anos, mas saber como monetizar esse investimento, ela sabe. A operadora tem o poder de ser preponderante porque está começando pelo caminho que  sabe como funciona.

Tele.Síntese: Do ponto de vista tecnológico, o que falta para fechar o padrão? Tem o release 15, que saiu em dezembro.
Medeiros: O release 15 focou em permitir fazer a rede 5G ancorada na 4G

Tele.Síntese: Na verdade, não tinha essa solução e estavam todos agoniados, não é?

Medeiros: Isso.  Agora, todos ficam confortáveis e param de ficar nesse medo de andar para frente. Falta fazer a versão stand alone, que não necessita necessariamente ancorar na 4G, ela pode funcionar na 5G sozinha. Isso permite o equilíbrio geopolítico, acelerando o que é ancorado, pois  as operadoras de celular ficam mais confortáveis e o que não for para ancorar, pode vir alguém com dinheiro e fazer uma rede nova. Não excluímos o green field, que as operadoras talvez tenham pavor que aconteça. É importante para a 5G  que daqui a dez anos fique igual à eletricidade, com a conectividade onipresente. Para isso ser verdade, a gente não pode limitar puramente os players de hoje em dia, tem que permitir que outros venham.

Tele.Síntese: Temos os movimentos de quem está acelerado com a 5G. EUA, e os asiáticos, como Coréia e Japão. Você acha que eles lançam esse ano a tecnologia?

Medeiros: Esse ano, as empresas desses países irão fazer testes no segundo semestre e ano que vem virão os primeiros lançamentos. Várias operadoras famosas vão usar dispositivos de testes, ou seja, um telefone “gordinho”, algo não comercial para o consumidor final, mas vão atingir velocidades altas. E, no ano que vem, 2019, aí sim você verá smartphones de alta gama com a 5G.

Tele.Síntese: E a confusão das frequências? 
Medeiros: Não é tão mal quanto parece. Nosso chip virá com multigeração, 3G, 4G, tudo. Tem que fazer isso para poder ter reconhecimento.

Tele.Síntese: Mas não fica muito caro?
Medeiros: Não necessariamente. O 4G tem umas quarenta e tantas bandas e o jeito de resolver isso foi criar módulos que compreendem várias bandas em um produto só.

Tele.Síntese: A Anatel ainda tem que fazer alguma coisa para estimular a 5G?

Medeiros: Está indo bem, já sinalizou a banda de 3,5 GHz , e se mostra interessada em não inventar moda. Vamos alinhar com a WRC até 2019 e isso é bom. Os outros entraves são setoriais, como impostos, Fistel, etc.

Tele.Síntese:  Como você vê o  mercado brasileiro com a 4.5 G?

Medeiros: Me empolguei no ano que passou e nesse também, porque vi  grandes player que são Telefônica e América Móvil e a TIM também voltando para uma corrida armamentista, ou seja, oferecendo 4.5G em uma velocidade melhor, e isso é importante porque gera a empolgação do consumidor e gira a roda.

Tele.Síntese: Ouço que a 5G reduz muito o Capex (investimentos). É isso mesmo?

Medeiros: É uma promessa que precisa ser confirmada.

Tele.Síntese: Quando  você imagina que a 5G deixa de ser banda larga?
Medeiros: Vou dizer do ponto de vista de padronização e do ponto de vista de mercado. Do ponto de vista de padronização, os futures novos, que dão latência muito baixa e depois a massificação da IoT, tem no mínimo um ano de gap (atraso). Do ponto de vista de comercialização, depende da pressa e interesse das pessoas fazerem isso rapidamente.

 

 

 

 

 

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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