Mattes: Sustentabilidade Multinuvem no Governo
Por Jônatas Mattes* – Em 2022 mais de 70 órgãos aderiram a 145 milhões em contratos multinuvem através da Ata 11/2021 do então Ministério da Economia. Centenas de aplicações foram migradas ou provisionadas nos provedores AWS, Huawei ou Google. No primeiro ano destes contratos, em 2022, o uso da nuvem aumentou em 1726% de janeiro a dezembro. Em 2023 o crescimento foi de 289% no mesmo período.
As múltiplas nuvens trouxeram vantagens evidentes tais como: redução de custos superior a 60%, flexibilidade tecnológica, escalabilidade de recursos e rapidez nas implantações. E ainda mais importante, trouxeram mais e melhores experiências digitais para o cidadão, para alunos, para o setor agropecuário, para o setor judiciário e muitos outros.
Além dos benefícios já amplamente difundidos, 2023 foi um marco importante com a identificação e medição de um indicador muito nobre: a sustentabilidade e o impacto que o uso da nuvem pode ter no meio ambiente, algo até então intangível.
O uso da nuvem pública pode reduzir as emissões de gases do efeito estufa a partir de ao menos quatro principais elementos que permitem uma utilização mais sustentável dos recursos de TI:
- Economia de Escala: Os provedores de nuvem líderes operam em volumes muito maiores do que a maioria dos data centers de empresas ou órgãos, propiciando melhor utilização dos recursos e eficiência mais alta.
- Eficiência Energética: Os provedores de nuvem investem em tecnologias de data center mais eficientes do ponto de vista energético do que organizações individuais, incluindo sistemas de resfriamento mais eficientes, otimização do consumo de energia e fontes de energia renováveis.
- Consolidação de Servidores: Ao migrar para a nuvem os órgãos e empresas podem consolidar seus servidores físicos em menos servidores virtuais, reduzindo a quantidade de energia necessária para alimentar e refrigerar estes equipamentos, diminuindo as emissões associadas à produção de eletricidade. A possibilidade de uso sob demanda também garante um uso mais racional.
- Evolução Tecnológica: Adotada em ritmo acelerado pelos provedores, garante continuamente maior capacidade de processamento com menos hardware físico e menor dissipação de calor, diminuindo tanto os materiais necessários para fabricar e manter estes equipamentos, como a energia para resfriamento, reduzindo as emissões associadas tanto ao processo de produção quanto de operação.
Apesar destes elementos trazerem benefícios evidentes para a sustentabilidade, a medição de forma objetiva só passou a ocorrer nos últimos quatro anos, com os provedores de nuvem disponibilizando relatórios e calculadoras que permitem aferir a quantidade de redução de emissão de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, dentre outros, que compõe os gases do efeito estufa. A Microsoft foi a precursora nesta iniciativa em 2020, seguida pela Google em 2021, AWS em 2022 e IBM Cloud em 2023.
A unidade de medida adotada pela indústria para emissões de carbono é de toneladas métricas de dióxido de carbono equivalente (MTCO2e). Todas as emissões de gases de efeito estufa são convertidas na quantidade de dióxido de carbono que resultaria em aquecimento equivalente.
Para calcular a quantidade de emissão de carbono emitida, são considerados os padrões do Protocolo de Gás Estufa e da ISO 14.064. As estimativas de pegada de carbono incluem dados do Escopo 1 (emissões de operações diretas) e Escopo 2 (emissões provenientes da produção de eletricidade).
Por fim, para estimar e economia das emissões em comparação com uma aplicação on-premises, são usados dados da 451 Research, que faz parte da S&P Global Market Intelligence.
Considerando estes padrões, premissas e comparações, é possível calcular de forma tangível que o governo brasileiro reduziu, em 2023, mais de 80 toneladas de emissão de gases do efeito estufa (MTCO2e) com o uso da multinuvem.
A Amazon Web Services (AWS), que se destacou como provedor de nuvem mais adotado na Ata de Registro de Preços no 11/2021 – Serviço de Computação em Nuvem, reconheceu os resultados desta iniciativa brasileira no re:Invent 2023, em Las Vegas, concedendo o prêmio de Sustainability Partner of the Year – LATAM à empresa detentora do contrato dessa ata.
Somente em 2024, no Brasil, são esperados mais de 2 bilhões de reais em licitações públicas para contratação de computação em nuvem, um volume que permitiria reduzir em mais de 2.400 toneladas de emissão de gases do efeito estufa (MTCO2e).
Conforme o relatório “O verde por trás de cloud” da Accenture, considerando uma escala global, multisetorial, as migrações para nuvem pública podem reduzir a emissão global de carbono (CO2) em 59 milhões de toneladas por ano. Seria o equivalente a retirar 22 milhões de carros de circulação.
A busca pela sustentabilidade posiciona as companhias a assumirem novos compromissos de redução de carbono e inovação sustentável. A Amazon Web Services tem sua infraestrutura 3,6 vezes mais eficiente que a média dos data centers norte-americanos. A Microsoft, que já é neutra em carbono desde 2012, comprometeu-se a tornar seus data centers 100% abastecidos por energia renovável até 2025, por meio de acordos de compra de energia. A Google tem uma plataforma carbon-intelligent que move períodos de cargas de data centers não urgentes para fontes de energia de baixo carbono que estejam mais abundantes e tem um compromisso de operar seus data centers livres de CO2 até 2030.
A consultoria Gartner aponta, em relatório recente de outubro de 2023, que a tecnologia sustentável está entre as 10 principais tendências tecnológicas estratégicas para 2024. Em outro relatório do Gartner, de 2022 vemos que:
- 86% dos líderes empresariais veem a sustentabilidade como um investimento que protege a sua organização contra disrupções.
- Quatro em cada cinco líderes consideram a sustentabilidade uma forma de ajudar a sua organização a otimizar e reduzir custos.
- 83% afirmam que as atividades do seu programa de sustentabilidade criaram diretamente valor a curto e longo prazo para a sua organização.
A sustentabilidade se tornou um imperativo e o setor público tem demonstrado, com a adoção de múltiplas nuvens, aptidão não só para soluções tecnológicas mais eficientes, mas um compromisso com um futuro mais verde e sustentável.
*Jônatas Mattes, CTO do Extreme Group
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