Licitação para conexão de escolas fica sem Musk, mas atrai oito empresas de satélite

Entrega de propostas não quer dizer garantia de que as escolas serão conectadas, ou mesmo se esse certame irá perdurar, já que um novo governo assume em janeiro

(Crédito: Freepik)

A licitação do Ministério das Comunicações tocada pela RNP para a conexão de 6,9 mil escolas públicas acabou provocando uma significativa mobilização das operadoras de satélite que atuam no mercado brasileiro. Oito empresas do segmento apresentaram mais de 18 mil propostas de atendimento, como apurou o Tele.Síntese. A Starlink, de Musk, queridinha do ainda ministro das Comunicações, Fábio Faria, sequer se candidatou.

Embora tenha havido rumores de que a licitação estaria direcionada para contemplar o preferido do atual governo, porque estaria exigindo velocidade de uplink de 40 Mps, acima da a capacidade oferecida pelas conexões via satélite em geral, diferentes interlocutores do segmento satelital não se surpreendem com a ausência de proposta da Starlink.

Isso porque a operadora, embora tenha participado de alguns projetos-piloto de conexão em Manaus, não tem qualquer estrutura em território Brasileiro capaz de atender a uma licitação pública, por enquanto, ainda mais de conexão de milhares de escolas.

“Atualmente, a Starlink vende seu serviço por cartão de crédito. O cliente tem que fazer tudo, inclusive instalar ele próprio seu equipamento”, lembra fonte do setor, para explicar porque a empresa não entraria em uma disputa como essa, que implica compromissos bem mais pesados.

Entre as operadoras que apresentaram propostas estão a Hughes e a Viasat (sozinha, sem Telebras). As duas também com sede nos Estados Unidos e as principais competidoras da constelação de satélites de órbita baixa da Starlink no país de origem.

Com atuante presença no Brasil (a Hughes foi a primeira a entrar com satélite geoestacionário e posição orbital brasileira e a Viasat ingressou comprando a capacidade do satélite brasileiro da Telebras), as duas empresas estão prestes a lançar novos satélites com mais capacidade e novas tecnologias.

Com esses novos equipamentos a avaliação do mercado é de que elas podem cumprir as velocidades exigidas, que tem um preço mínimo para velocidades de até 40 Mbps e aceita até 50% preço maior para velocidades de até 120 Mbps.

A opinião de alguns consultores é de que as duas empresas podem até estar dispostas a ajustar suas ofertas – não é impossível que a banda larga via satélite alcance mais de 40 Mbps, mas isso demandará a instalação de novas antenas, mais caras. Elas estariam dispostas a cumprir as regras do edital e garantir um contrato de três anos, tornando, assim, mais difícil a vida da Starlink, se ela efetivamente quiser ingressar e investir no mercado brasileiro.

Além dessas duas operadoras, a Hispamar também apresentou proposta. A empresa, que também tem posição orbital brasileira ocupada por satélite geoestacionário em banda Ka desde 2017, atua no mercado de varejo e não tem dificuldades para atender a essa demanda governamental.

Integradores como Telespazio, Gillat e Sencinet também são apontados como outros interessados na licitação, além da Embratel.

Mas a entrega de propostas, assinala outra fonte do mercado, não quer dizer garantia de que acontecerá a conexão das escolas, ou mesmo se esse certame irá perdurar, já que um novo governo assume em pouco mais de um mês.
Isso porque, não se sabe qual o preço que está sendo proposto pelas operadoras.

O preço sugerido pela RNP deveria girar em torno de R$ 300. As propostas aceitas serão consideradas por 12 meses para contratação do governo, que pode não levar a cabo a assinatura do serviço.

É bom lembrar que, na licitação para a conexão de 10 mil unidades de saúde, realizada há dois anos, durante a pandemia do Covid-19, as operadoras de satélite eram as únicas que poderiam atender todas as conexões listadas, mas os preços apresentados foram bem mais altos do que estabelecidos pelo governo. Os postos de saúde acabaram sendo conectados pelos provedores regionais, mas nem todos os postos de saúde puderam ser contemplados, porque alguns só seriam alcançados pelo satélite, que têm, sim, custos mais altos.

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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