ISPs querem participar do leilão da 5G em condições diferenciadas
Há uma grande expectativa entre os maiores provedores regionais de internet em relação à definição do edital do leilão da 5G. Previsto para o ano que vem, o certame pode ter seu modelo decidido ainda nesta quinta-feira, 12, na última reunião do Conselho Diretor da Anatel deste ano.
As prestadoras de pequeno porte defendem a regionalização dos lotes, preços diferenciados e a possibilidade de participação em consórcios, em linha com a proposta apresentada pelo relator do assunto na agência reguladora, o conselheiro Vicente Aquino.
Segundo o diretor de Mercado da Unifique, Jair Francisco, a decisão da Anatel pode ser um divisor de águas. Vai mostrar se a autarquia vai manter o mercado protegido para as grandes operadoras ou se vai incentivar as prestadoras de menor porte, que a seu ver estão trabalhando para realmente massificar a internet no Brasil. “As PPPs juntas já são as maiores na oferta de banda larga, mas não podem disputar a compra de espectro em condições semelhantes às estabelecidas para Vivo, Claro e TIM”, afirmou.
Na opinião de Francisco, a inviabilidade da participação das PPPs no leilão resultará em 10 anos de atraso para a ampliação da tecnologia no país. De acordo com o diretor da Unifique, só as empresas regionais têm capilaridade de rede para levar a 5G a maioria dos municípios brasileiros. “Dizer que as grandes teles vão fazer isso é não ver que em muitas cidades ainda falta a cobertura 3G”, disse.
O sócio fundador da Sumicity, Vicente Gomes, tem posição semelhante. A prestadora também tem interesse em participar do leilão da 5G, mas só se as condições apresentadas na primeira proposta do edital, apresentada pelo conselheiro Vicente de Aquino, e com mais granularidade. Ele acredita que, caso consigam adquirir a frequência, os ISPs não terão problemas em implantar a tecnologia que, no seu entender, estará madura em 2021 e, consequentemente, com os equipamentos bem mais baratos do que agora. “Só os pequenos conseguem massificar o 5G”, disse.
Outro provedor de banda larga interessado em participar do leilão da 5G, a Vero, também aguarda a posição da Anatel sobre as condições para definir se vale à pena participar. “A regionalização dos lotes é a possibilidade para a nossa empresa passe a analisar um business plan e tomar nossa decisão”, disse o diretor presidente da empresa, Fabiano Ferreira. Por enquanto, disse ele, o ISP só acompanha os movimentos da Anatel.
Fundos
A participação dos provedores e operadoras competitivas no leilão da 5G pode contar com o apoio dos fundos de investimentos que acompanham de perto o avanço dos ISPs no mercado da banda larga. “As empresas regionais bem estabelecidas, com bom posicionamento e auditada, pode atrair o interesse dos fundos em financiar a participação no certame”, disse o diretor de investimentos do banco Santander, Valder Nogueira. Ele afirmou que o banco está aberto a examinar os projetos para viabilizar financiamentos.
O CEO da Vispe Capital, empresa de consultoria estratégica e financeira focada no universo de provedores de Internet (ISPs), Droander Martins, avalia que, além de uma boa gestão, os provedores que tiverem iniciativas e frentes de inovação com a 5G ficarão mais atraentes aos olhos do mercado financeiro.
Anatel
A proposta do conselheiro Aquino prevê a venda do bloco de 50 MHz em 3,5 GHz, em 14 áreas, apenas para PPPs e entrantes. A outorga terá 15 anos de validade, prorrogável por mais cinco. O leilão é híbrido, em que o preço tem peso de 10% e a proposta de cobertura obrigatória mais opcionais, 90%, aproximando-se de um beauty contest. O preço mínimo vai absorver 90% do custo com os compromissos obrigatórios em cada lote. Atribuem-se notas de 0 a 10 para cada proposta de preços, e de 0 a 90 para a proposta de compromissos. A soma das notas definirá o vencedor, em uma única rodada.
A proposta teve pedido de vista do conselheiro Emmanoel Campelo, que prometeu apresentar novo modelo ainda este ano. Não se sabe se ele manterá a reserva de 50 MHz para os pequenos. Indústria e grandes operadoras já manifestaram interesse em que sejam colocados na disputa ao menos 300 MHz na faixa de 3,5 GHz.