Infovias impulsionam transformação digital no Brasil
Revitalização de cabos do Exército na Amazônia, integração metropolitana no Rio e parcerias público-privadas mostram como infraestrutura digital muda o país.
Debate do Smart Cities Mundi 2025, evento sobre cidades inteligentes promovido pela Tele.Síntese nesta terça-feira, 28, destacou o papel estratégico das infovias na transformação digital brasileira. Um ponto de destaque foi a revitalização da rede de cabos do Exército na Amazônia, citada por Leandro Guerra, CEO da EAF – Siga Antenado. A ação faz parte do Projeto Amazônia Conectada (PAC) e integra a iniciativa federal Norte Conectado, que visa romper o isolamento digital da região amazônica.
“Estamos revitalizando os cabos existentes e lançando novos, dentro do PAC 1 e 2. Essa infraestrutura é essencial para conectar a região Norte e levar cidadania digital à população ribeirinha”, afirmou Guerra.
A atuação da EAF é parte do compromisso assumido no leilão do 5G, e inclui a construção de seis infovias. Guerra destacou a magnitude do Norte Conectado, programa que está implantando cerca de 10 mil km de fibra óptica subaquática nos principais rios da Amazônia. A primeira fase — Infovias 02, 03 e 04 — já foi praticamente concluída, conectando cidades estratégicas como Manaus, Belém, Macapá, Tabatinga e Boa Vista, com destaque para a instalação de 22 mini data centers ao longo do trajeto.
A estrutura técnica do projeto impressiona: só em Roraima, a capacidade saltou de 300 Mbps para até 4 Tbps com o uso de apenas um dos pares de fibra — e há potencial para muito mais.
A expansão das infovias também avança em centros urbanos. No Rio de Janeiro, o Instituto Rio Metrópole (IRM) está conduzindo estudos para criar uma infovia metropolitana, com o objetivo de integrar todos os órgãos públicos estaduais e municipais, além de universidades.
“Estamos na fase de diagnóstico e construção conjunta com estado e municípios. Nosso desafio é a desordem territorial e a infraestrutura física existente. O plano é enterrar os cabos para garantir resiliência e menor manutenção”, explicou Maurício Knoploch, diretor do IRM.
A proposta fluminense destaca a necessidade de integração entre atores públicos e privados para otimizar recursos e garantir a orquestração técnica da infraestrutura, algo essencial em uma metrópole com alta densidade urbana e desigualdades históricas.
Rede de ensino e pesquisa
Desde 2005, a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) trabalha na criação de infovias estaduais voltadas ao ensino e à pesquisa, com redes metropolitanas de fibra óptica em todo o país. Hoje são 19 projetos, dos quais 16 já foram selecionados para implementação em parceria com operadoras e provedores regionais.
“Construímos redes em conjunto, com acordos de cooperação e modelos equilibrados, como a iluminação conjunta de cabos. A RNP é a dona, mas compartilha com os operadores e provedores”, explicou Eduardo Grizendi, diretor de Engenharia da RNP.
Essa abordagem fortalece a capilaridade da rede e estimula a participação de pequenos provedores locais, que são essenciais para levar conectividade a áreas onde grandes operadoras não chegam. “Já estávamos estruturando a conectividade amazônica antes mesmo da nova onda tecnológica. Hoje, essas infovias são o que permitirá o salto seguinte: cidades inteligentes, serviços digitais e inclusão social de verdade.”
Parcerias público privadas
A Forte Telecom é um exemplo de como parcerias público privadas (PPPs) bem-sucedidas entre provedores locais podem escalar para redes robustas. A empresa hoje administra a maior rede privada do Brasil: a do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. São 92 municípios conectados, com mais de 160 pontos de presença, incluindo fóruns, comarcas e unidades judiciais. Todo o sistema é totalmente criptografado, garantindo sigilo, segurança jurídica e integridade dos dados trafegados.
“Essa é uma rede privada real, operada diretamente pela Forte Telecom, sem terceiros envolvidos. Temos quatro enlaces de fibra óptica, com redundância, além de enlaces via rádio para garantir disponibilidade mesmo em casos de falha física”, explica Sergio Simas, CEO da Forte Telecom.
A empresa também opera a rede do sistema judiciário do estado de Rondônia. Nesse caso, segundo Simas, o desafio foi ainda maior. A infraestrutura cobre uma área equivalente a seis vezes o território do Rio de Janeiro, enfrentando dificuldades logísticas e geográficas para interligar fóruns em regiões de difícil acesso.
“Lá, precisamos lançar mão de uma combinação de tecnologias — fibra, rádio e satélite — para garantir capilaridade e resiliência. Foi um projeto desafiador, mas que demonstra como as parcerias locais e o planejamento técnico tornam possível a transformação digital mesmo nos contextos mais adversos”.
O papel da Anatel
A Anatel enxerga essa infraestrutura como a base para o avanço de cidades inteligentes. “As infovias melhoram a qualidade do serviço, reduzem o risco de isolamento digital e permitem a entrada de novos provedores. Isso tem impacto direto na inclusão e na digitalização das cidades”, afirmou Gustavo Santana Borges, superintendente executivo da Anatel.
Para a agência, as infovias representam um avanço em resiliência da infraestrutura nacional e refletem a inovação brasileira em construir redes fluviais de fibra óptica, algo inédito no mundo.