Huawei prevê “dor de cabeça enorme”, se for banida da 5G

Marcelo Motta, diretor da gigante chinesa, não acredita em exclusão por questões técnicas, mas considera que, em um cenário sem a empresa, poderá haver custos elevadíssimos para as operadoras, aumento de preços para o consumidor e atraso na implantação da nova tecnologia.


[Atualizada em 31/08 para incluir esclarecimento da Huawei]
O banimento da Huawei da montagem da rede da 5G no  Brasil poderá implicar em impasses técnicos, custos elevadíssimos para as operadoras, necessidade de investimento adicional e atraso na disponibilidade do serviço. “Uma dor de cabeça enorme” para o país, avaliou hoje, 28, o diretor global de Cibersegurança e Soluções da companhia, Marcelo Ikegami Motta, durante live sobre a 5G. Ele também rebateu afirmações feitas por dirigente da concorrente Nokia de que a ausência da empresa nos países em que foi banida não afetou a implantação da nova tecnologia.

Motta ressaltou que não acredita em exclusão por questões técnicas e sim por motivos políticos e projeta que, se isso ocorrer, haverá atraso na implantação da nova tecnologia e aumento de preços do novo serviço, a exemplo do que ocorreu em países onde a empresa foi banida por pressões dos Estados Unidos. “Se acontecer, é por qualquer tipo de interferência política, não acreditamos que haja qualquer respaldo técnico para isso”, afirmou.

Segundo o diretor, excluir a gigante chinesa em razão de aspectos não técnicos implicará em custos elevadíssimos para as operadoras, aumento de preços para o consumidor e atraso na implantação da nova tecnologia.

Nesse trecho, durante a entrevista, Motta comentou que, sem a Huawei, as operadoras “vão ter que construir uma rede nova com equipamentos de outros fornecedores” e que irão “desperdiçar todo o investimento que já foi feito no 4G e no 4.5G porque você vai instalar soluções paralelas, solução novas, vai demorar para você fazer esse tipo de instalação. Então vai atrasar muito a disponibilidade de 5G no Brasil”.

Por meio de sua assessoria, a Huawei esclareceu que a rede nova a que o diretor se referiu será de 5G e que isso “não significa que você tem que substituir a rede 4G existente”. E explicou: “É a forma como o 5G chega. Ele pode chegar por meio de um upgrade de software ou uma rede nova, paralela, de outro fornecedor”.

Segurança e preços

Numa alusão às denúncias do presidente Donald Trump de que a Huawei faz espionagem para o governo comunista da China, o diretor afirmou, durante sua exposição na live, que a empresa segue padrões e protocolos rígidos de segurança nos 170 países em que atua.

Sobre a ameaça de exclusão, já acenada pelo presidente Jair Bolsonaro, Motta comentou: “Somos fornecedor de todas as grandes operadoras e das pequenas operadoras que levam banda larga para áreas mais remotas do Brasil. Temos liderança em banda larga. O mercado tem uma preocupação com segurança da mesma forma que nós temos. Temos um histórico de sucesso das nossas operações no Brasil. Operações com o próprio governo para fazer eventos bem sucedidos, como Copa do Mundo, Olimpíadas. Então, essa é uma possibilidade que a gente não vislumbra”, descartou.

Sobre a posição da Nokia, o dirigente citou que o fato de a empresa sair do mercado norte-americano fez com que o preço do serviço prestado por operadoras pequenas nas áreas rurais crescesse de duas a cinco vezes inviabilizando a atuação dessas empresas. “É tudo que a gente não gostaria que acontecesse no Brasil porque os ISPs são responsáveis por 1/3 da banda larga fixa no país e vão possivelmente estar atuando no mercado da 5G”, observou.

Diversidade

Atualmente, explicou Motta, vários elementos são compartilhados pelas redes de telecomunicações, como o core das redes LTE 4G que gerenciam  as tecnologias móveis. “É algo complicado de mexer porque está integrado com as diversas aplicações das operadoras. Envolve uma diversidade enorme de fornecedores para fazer em um curto espaço de tempo”, disse o executivo.

Neste caso, uma opção seria trazer o 5G e o core 5G que “vai falar com o legado que já existe”. Entretanto, a experiência do usuário pode ser negativa. ”Ao sair para uma área de cobertura 4G que está com outro core de rede, são dois sistemas se falando, um tempo maior para se fazer esses handovers”, analisou o diretor.  Defendeu que manter a fornecedora chinesa impactará em um custo reduzido para o Brasil, pois “a base instalada de 4G rapidamente, por meio de software, evolui para 5G”, disse.

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Abnor Gondim

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