Guimarães: “A banda Ka tirou o marasmo da área de satélite”

Rafael Guimarães, presidente da Hughes, está bastante otimista com o futuro do segmento satelital no Brasil, apesar o atual momento econômico. Isso porque, explica, são projetos de longo prazo, e até 2019 já estão contratados investimentos de R$ 18 bilhões pelo setor. Essa forte movimentação ocorre, explica, com o advento da nova tecnologia de banda larga Ka, que permitiu grande redução de custos, fazendo com que os satélites se tornassem alternativas competitivas para a oferta de internet rápida em áreas de pouca infraestrutura terrestre. Em julho, sua empresa lança o primeiro serviço, para atuar nas "bordas" das grandes e pequenas cidades brasileiras.

 

Rafael Guimarães, Presidente da Hughes. (foto: divulgação)
Rafael Guimarães, Presidente da Hughes. (foto: divulgação)

Tele.Síntese – O satélite vai conseguir mesmo competir com a tecnologia móvel terrestre?

Rafael Guimarães, presidente da Hughes – Estamos enfrentando uma revolução na área de satélite, principalmente com a banda Ka. Que é hoje o grande mote. A revolução está acontecendo.

Tele.Síntese – Hoje no Brasil já tem alguma operadora com serviço de banda Ka?

Guimarães – Sim. A Telefônica Mídia, que é um braço da Telefônica, tem uma pequena capacidade de Ka, que praticamente cobre três cidades – Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Encaro mais como um “teste de conceito”.

Tele.Síntese – E sua empresa?

Guimarães – A Hughes vai começar com um projeto massivo de 27 Gbps cobrindo quatro mil municípios, na primeira fase, este ano.

Tele.Síntese – E será nas áreas rurais?

Guimarães-  Não diferenciamos o rural e o urbano. Nosso conceito é ” “áreas não atendidas e mal atendidas”. A infraestrutura de banda larga é muito deficiente no Brasil. São áreas com um só provedor de banda larga ou com nenhum provedor.  Nossa ideia é ser a primeira opção ou a segunda opção no Brasil.

Tele.Síntese – Mas vocês vão para grandes cidades?

Guimarães – Sim, vamos para São Paulo, Rio. Mas não vamos colocar nenhum esforço comercial em tentar vender na Paulista ou na zona sul no Rio, mas venderemos onde há deficiência do serviço.

Tele.Síntese – Quais são os preços que vocês conseguem oferecer com a banda Ka?

Guimarães –  O menor plano de velocidade que vamos lançar no mercado brasileiro é de 10 Mbps. E ele vai estar em torno de R$ 220, oo a R$ 230,00 por mês. Quando falamos em amenizar a exclusão digital, podemos falar em dois eixos: quem  tem renda e não tem infra ou a falta de renda para ficar com serviço. O nosso serviço consegue endereçar ao primeiro eixo: àquele que tem renda, mas não tem acesso ao serviço. Com a evolução do projeto, em três anos acreditamos que poderemos também fazer diferença  para aqueles que têm renda menor. Para se ter ideia, na banda Ku, que é a tecnologia de satélite dominante no Brasil, o serviço de 10 Mega há 200 reais por mês é algo impensável, isso não existe.

Tele.Síntese – Como vocês resolve o problema do up link?

Guimarães – No caso da TV por assinatura, eles puxam um cabo que é ligado no decoder. O nosso serviço é parecido. Tem uma antena, que tem um cabo, e ao invés do cabo ser conectado em um decoder de TV é conectado em um roteador, que é um WiFi. Aí eu abro um sinal de banda larga bidirencional de fato, posso enviar e receber informação. Qualquer tipo de aplicação posso receber.O  mais comum hoje, por exemplo, é o Netflix, ou o streaming de vídeo. Esta é o mais popular serviço da Hughes. Nos Estados Unidos nós já temos 1,3 milhão de assinantes usando o nosso serviço de banda Ka.

Tele.Síntese – E vocês têm alguma estimativa de número de clientes que querem alcançar no primeiro ano no Brasil?

Guimarães – A nossa expectativa é chegar em 300 mil  ou 400 mil clientes no Brasil inteiro nos próximos três anos em nossa área coberta. Em  2016 estaremos do Pará ao  Rio Grande do Sul em faixa contínua a 300 quilômetros da costa  Nesta  primeira faixa estaremos cobrindo 4 mil municípios,  a partir do litoral brasileiro. E verdade que é também onde está a infraestrutura de banda larga brasileira, mas há muito bolsão mal atendido. Em 2020 cobrimos o Brasil inteiro, nas três fases já contratadas.

Tele.Síntese – Esse programa irá contar com a posição orbital brasileira que vocês compraram?

Guimarães – A gente comprou a posição orbital no leilão da Anatel, mas vamos usá-la para outros projetos. Estamos fazendo um acordo com o Eutelsat e com Telesat que usam a posição orbital brasileira. Para o nosso programa de julho, usaremos o satélite da Eutelsat, que foi lançado há um mês. Em 2018 será o satélite da Telesat. Em 2020, estaremos participando do projeto OneWeb, de constelação de órbita baixa.

Tele.Síntese – E como avalia o mercado satelital brasileiro?

Guimarães – Várias empresas estão com muitos planos para o Brasil. Só de licenças, nos últimos quatro a cinco anos, foram feitos pagamentos de quase meio bilhão de reais para a Anatel, pelo direito de usar a posição orbital brasileira. Aliado a isso estão investimentos brutais que nós e as outras empresas vão fazer. Estamos estimando investimento, até 2019,d R$ 18 bilhões, em um sinal de confiança na tecnologia e no projeto, mesmo com a instabilidade da economia. Estamos apostando no futuro.

Tele.Síntese – Com esses lançamentos, você acha que a banda Ka vai conseguir chegar a ter preços competitivos à tecnologia móvel terrestre?

Guimarães – Com a tecnologia atual, a gente não consegue ser tão competitivo em preço em áreas densas e urbanas. Mas em zonas menos densas vamos conseguir ser uma ótima alternativa  tanto em qualidade de serviço como em preço. No mercado onde a banda Ka é bem desenvolvida, que é o norte-americano, há dois provedores – a Hughes e o seu competidor também não atuamos nas grandes cidades, mas nas bordas, no final do alcance do ADSL, e a solução é bem competitiva.

Tele.Síntese – E no Brasil há de fato um campo enorme. Pois são apenas no máximo 400 municípios bem servidos de banda larga

Guimarães – E mesmo nessas cidades onde tem competição as bordas delas ficam mal servidas. Estamos vendo na prática com as pesquisas que temos. Até 2011 nós, do segmento de satélite, estávamos em um grande marasmo. Mas  estamos mudando, principalmente por causa da banda Ka. O setor está voltando a ter uma relevância que tinha perdido a 5, 6 anos atrás. Estamos falando em banda larga em navio, em trem, em todo o lugar.

Tele.síntese- Por causa das novas tecnologias?

Guimarães – Certamente, e acesso a mais espectro. Mudou-se o projeto de satélite a fazer reuso de frequência. A indústria começou a fazer satélite especcífico para banda larga. Antes eles eram para TV, voz e banda larga. Agora, eles são feitos só para banda larga, o que se ganha muito na redução do custo transmitido. Com a banda Ka, se coloca muito mais capacidade de transmissão em uma massa menor e a massa é fator crítico para o custo, até mesmo para o lançamento do satélite. Do ponto de vista prático permite uma banda larga de ótima qualidade e preço razoável, que antes não era razoável.O satélite veio para ficar.

 

 

 

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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