Grizendi: Infovias regionais e o fortalecimento das redes ópticas do país

Infovias regionais são o caminho para ampliar a conectividade e fortalecer a infraestrutura óptica no Brasil, defende Eduardo Grizendi, da RNP

Eduardo Grizendi, RNP

Por Eduardo Grizendi * – Muito se tem falado do avanço das infraestruturas ópticas no Brasil, principalmente sobre as empreendidas por pequenos provedores, que levam internet a cidades afastadas dos grandes centros urbanos e em suas áreas rurais, onde os provedores nacionais e as grandes operadoras não chegam.

A razão é óbvia. Existem oportunidades nestes locais e os empreendedores, que residem ou simplesmente conhecem as suas realidades, veem com clareza a carência de serviços de internet de qualidade. Através de referências de outros empreendedores, em uma corrente de um faz o que o outro já fez, e contando com orientação de baixo ou mesmo nenhum custo, ele acaba por empreender e se instalar como provedor local, gerando importante impacto socioeconômico.

Naturalmente para que isto se complete, ele necessita integrar sua operação local à internet do resto do mundo e, para tal, contar com um provedor regional de trânsito, chegando em sua cidade. Se ele não tem o trânsito chegando a ele, então, ele precisa ir atrás e buscá-lo em outra cidade mais próxima.

Pois bem, é neste contexto que se destaca a importância das infovias regionais, para o fortalecimento das infraestruturas ópticas no país. Cabear uma cidade com fibras ópticas é importantíssimo, mas não é tudo. Ele precisa do trânsito de internet para ofertar seu serviço de banda larga fixa. Com baixo custo, fazendo uso de tecnologia de redes ópticas passivas, ele inicia sua rede em áreas urbanas mais densas e, ao longo do tempo, vai se expandido e cobrindo mais áreas já não tão densas, até muitas vezes, chegar às áreas rurais. Não é raro ele também prover infraestrutura neutra, para uma operadora móvel chegar até a sua Estação Rádio Base (ERB). Ou seja, ele também contribui para a oferta do serviço móvel.

É tão importante esta combinação de serviço de banda larga fixa e móvel que algumas operadoras, principalmente as entrantes com tecnologia 5G, estão abertamente fazendo parcerias com provedores. Este é o caso, por exemplo, da Ligga na Região Norte, e no Paraná e São Paulo, que anunciou esta estratégia de parceria com provedores regionais para o lançamento de seu serviço 5G. Outros provedores foram além e já operam como MNOs regionais, como é o caso da Brisanet e Unifique, ou simplesmente como MVNOs, para completarem o portfólio de serviços para seus clientes.

No entanto, para os provedores locais, ainda em estágio embrionário integrarem estas suas operações locais à internet, existe a necessidade de que o país avance com infovias regionais para que o trânsito aconteça – ou Maomé vai a montanha, ou a montanha vai a Maomé. Ou um provedor de trânsito vai até ele, ou ele segue com sua odisseia de expansão estendendo sua rede entre cidades próximas, até onde ele conseguir o trânsito para sua operação. O atendimento às ERBs também pega carona e muitas vezes vem junto com este avanço, ou diretamente pela operadora móvel, ou mesmo através de parceria com o provedor que implantou a infraestrutura.

Um exemplo de implantação destas infovias regionais é o Programa Conecta, desenvolvido pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), com apoio do Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI). Estão sendo implantadas, como parte deste programa, 19 infovias estaduais, que se desdobram em redes metropolitanas em cidades, e trechos de longa distância entre elas, sempre em parceria com os provedores. A estratégia de implantação pela RNP é de construir, ou iluminar conjuntamente pares de fibras, através destas parcerias. Atualmente dois terços do atendimento de suas organizações usuárias já são em parceria com provedores para atendimento da última milha, e o outro um terço é através de infraestrutura própria que, por sua vez, tem sido implantada, desde 2015, também em parceria com eles.

O investimento total previsto até 2026 neste programa é de cerca de R$ 640 milhões, e beneficiará cerca de 180 mil pesquisadores de quase 4 mil programas de pós-graduação, distribuídos em 1.300 campi universitários. Nestas infovias estaduais, estão sendo implantadas cerca de 80 novas redes metropolitanas, com investimento direto de R$ 329 milhões, mais da metade do montante orçado para todo o programa.

Outro exemplo de infovias regionais é o PAIS – Programa Amazônia Integrada Sustentável, também conhecido como Programa Norte Conectado, do Ministério das Comunicações, e que a RNP está envolvida. Com o objetivo de expandir a infraestrutura regional de comunicações na Região Amazônica, o programa está implantando nove infovias (00 a 08), construindo infraestruturas ópticas com aberturas nas principais cidades ribeirinhas e assumindo mais duas outras infovias já implantadas do Programa Amazônia Conectada (PAC), todas elas usando predominantemente cabos ópticos submarinos lançados sob o leito dos rios. O programa prevê investimentos da ordem de R$ 1,4 bilhão, beneficiando cerca de 10 milhões de pessoas e 59 municípios, incluindo comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas.

A Infovia 00 Macapá – Santarém, piloto do Norte Conectado está em operação desde 2022 e foi implantada pela RNP, em um ambiente de experimentação de novos métodos, processos, e boas práticas existentes, em especial, relacionados à sua implantação e sua sustentabilidade, com potencial de replicação nas demais infovias do programa.

A Infovia 01 Santarém – Manaus veio em seguida, e também já se encontra operacional desde 2023, e foi implantada pela EAD/Seja Digital. A Infovia 03 Belém – Macapá foi implantada e recentemente finalizada pela EAF/Siga Antenado, que também está implantando as demais infovias do programa. As Infovias 04 e a 07 já estão praticamente prontas, e a 02 sendo finalizada. Apenas 3 infovias (05, 06 e 08) estão se iniciando, previstas para serem finalizadas em 2026.

As Infovias 00 e 01, e neste último mês de abril, a 03, foram compartilhadas pela RNP através de processos abertos, por deliberação do CG-PAIS – Comitê Gestor do programa. Cada uma delas possui um Operador Neutro (ON) responsável pela sua respectiva Operação e Manutenção (O&M). Este ON é um consórcio aberto formado por provedores e operadoras, que compartilham as infraestruturas ópticas, e integrando-as às suas operações, assim contribuindo para a oferta de seus serviços de internet na região, incluindo maior resiliência nas suas operações. Nas infovias 00 e 01, são 12 provedores e operadoras que integram os respectivos consórcios. Na infovia 03, excepcionalmente, são 15 consorciados.

Como compensação pelos investimentos de implantação, o setor público reservou para si parte das 48 fibras ópticas disponíveis para seu uso próprio, para conectar universidades, escolas, centros de pesquisa e órgãos públicos. Assim, este usufrui da infraestrutura óptica, sem gastos de operação e manutenção, que fica a cargo do consórcio aberto formado por provedores e operadoras.

É alto o investimento para se construir, e oneroso para se manter uma infraestrutura óptica exclusiva. No caso da Região Amazônica, há o agravante de ser em uma região de baixa densidade populacional e altos custos de logística. Por isto, para sua sustentabilidade, ela precisa ser compartilhada entre setor público e privado, e garantir a operação, manutenção, e seu uso, para que ela cumpra com seu objetivo de levar serviços de telecomunicações para à população, em um ambiente diverso e competitivo.

* Eduardo Grizendi é Diretor de Engenharia & Operações RNP e Presidente do Conselho da RedCLARA, e será um dos painelistas do Smart Cities Mundi 2025, que acontece em 28 de maio.

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