Governo quer acelerar transformação digital de olho no mercado de IA

Segundo o secretário Luiz Felipe Monteiro, Brasil ocupa o 4º lugar no mundo de pessoas conectadas, mas detém a 44ª posição na oferta de serviços digitais. Mercado de Inteligência Artificial vai gerar recursos da ordem de US$ 23 trilhões até 2025.

O Brasil é o quarto país com a maior população conectada, de 120 milhões de pessoas, mas é o 44º país do mundo em oferta de serviços digitais. Com esses números,  o secretário de Governo Digital, do Ministério da Economia, Luiz Felipe Salim Monteiro, justificou, nessa terça-feira, 21, a pressa do governo em adotar uma estratégia digital, que trará valor aos serviços, economia de custos para o Estado e para a sociedade e incentivo ao desenvolvimento de plataformas e aplicativos tecnológicos, baseados em Inteligência Artificial, colocando o país como protagonista na produção de soluções.

“Até 2025, esse mercado representará US$ 23 trilhões e 6% no PIB de um país” disse Monteiro, que promoveu o seminário Inteligência Artificial (IA) na Transformação Digital. Segundo ele, a cada 1% de crescimento do governo digital, é percebida melhora nos indicadores econômicos e sociais, como o aumento de 0,5% do PIB e de 0,13% de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).

Monteiro reconhece que o Brasil está muito atrasado, tendo em vista que os países mais adiantados nesse setor começaram a trabalhar há 15 anos. “Precisamos acelerar, mas temos a vantagem de que os nossos clientes já têm celulares e estão conectados, suportando parte dos custos da digitalização”, afirma.

Monteiro disse que o governo federal oferece 2.895 serviços e só 40% deles estão digitalizados. “Enquanto a Estônia tem três serviços que dependem da presença do cidadão, nós temos praticamente dois mil”, comparou. O secretário disse que 1.551 serviços têm potencial digital, o que resultará em ganhos de R$ 3,1 bilhões de ganhos à sociedade, já que os cidadãos deixarão de ter custos despachantes, cartórios, fraudes e até filas, enquanto o Estado terá ganhos de R$ 3,3 bilhões, com redução de custos. “Estamos trabalhando incansavelmente na transformação digital para tirar o governo das costas dos brasileiros”, disse.

Estratégia global

O presidente da Microsoft, Brad Smith, disse que soluções de Inteligência Artificial podem ser usadas para o bem, sem necessitar de consentimento, como na busca de desaparecidos, no controle da qualidade dos rios e das matas. Ele reconhece que a tecnologia destrói empregos, mas cria outros de maior qualidade e renda. A Microsoft, uma das maiores produtoras de soluções nessa área, já tem acordo com o Sesi e o Senai para oferta de cursos grátis sobre Inteligência Artificial.

Para o representante do Gartner, Claudio Chauke, o governo brasileiro deve definir as prioridades, criar mecanismos colaborativos com a iniciativa privada e o terceiro setor e investir em gerenciamento. Ou fazer tudo sozinho e investir em algoritmos que entreguem o que os cidadãos querem. Mas isso requer aplicação contínua de recursos, avisa. “Como o recurso é público, não pode ser usado indiscriminadamente, aqui e acolá, e sim com uma visão global e focado na ética digital”, afirma.

O representante do Instituto de Tecnologia Social (ITS), Carlos Affonso, disse que mais de 20 países têm planos de estratégia digital e alguns deles podem servir de base de estudo, como o do Japão, que trabalha para que as pessoas se acostumem com robôs e aplicativos de IA, entendendo que eles causam estranheza e fascínio. O da China, de outro modo, prevê o desenvolvimento e inovação tipicamente chineses de controle de produção, até 2025. “A partir daí, a ideia é transportar essa estratégia para o resto do mundo”, disse.

-O plano francês busca identificar quais as áreas que têm desenvolvimentos próprios, valores essencialmente europeus e participação do humano. Já os dos EUA visam o apoio ao setor de pesquisa e capacitação, com foco na diversidade, de trazer mais envolvimento de mulheres para a IA”, disse.

Segundo Affonso, o Brasil já possui uma legislação importante para o uso da Inteligência Artificial, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), cadastro positivo e o Código de Defesa do Consumidor, que pode ajudar na apuração de responsabilidades.

Mudança cultural

O professor da Universidade Federal do Rio Grande do sul (UFRGS), Luiz Lamb, por sua vez, afirma que alguns países estão liderando a corrida pela IA e o Brasil precisa migrar urgentemente para a economia do conhecimento, se não quiser ficar atrás. Ele reconhece que o mercado de trabalho será fortemente impactado e é preciso encontrar saídas. “O mundo mudou e temos que pensar seriamente nisso, até os Emirados Árabes Unidos já têm um planejamento digital, inclusive um Ministério de Inteligência Artificial, no entendimento de que conhecimento é o que interessa”, ressaltou.

O diretor da empresa Kunumi, de soluções de IA, Juliano Viana, afirma que a Inteligência Artificial precisa de uma mudança cultural, uma reformulação da forma de pensar das pessoas. “Levar esse conhecimento para uma organização sem essa mudança de cultura pode fazer com que a aplicação não traga os resultados esperados”, disse.

 

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Lúcia Berbert

Lúcia Berbert, com mais de 30 anos de experiência no jornalismo, é repórter do TeleSíntese. Ama cachorros.

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