Fujitsu: mercado de redes privativas terá concorrência ampla e acirrada
No Brasil, os casos de uso de redes privativas 5G devem deslanchar ainda neste ano. Desse modo, a expectativa é de que o serviço de instalação de infraestruturas privadas de conectividade integre, de forma consistente, o portfólio de diversas empresas do setor de telecomunicações no próximo ano, de acordo com estimativa de Alex Takaoka, head of Customer Engagement da Fujitsu do Brasil.
Em entrevista ao Tele.Síntese, Takaoka aponta que a concorrência no mercado de redes privativas deve ser mais disputada, uma vez que uma ampla variedade de empresas que atuam no setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), além das teles e dos provedores de serviços de internet (ISPs), poderá fornecer equipamentos e dispositivos.
“O Open RAN faz crescer a cadeia de fornecedores. A concorrência vai ser mais acirrada e mais ampla”, ressalta.
O executivo da Fujitsu também destaca que, para levar as redes privativas e outras aplicações tecnológicas a setores como mineração e agronegócio, “a fibra óptica tem de estar distribuída pelo País de forma massiva”. Ele também indica que plantas industriais e projetos de cidades inteligentes serão alguns dos grandes beneficiados pelo potencial das redes implantadas em ambientes corporativos.
Na entrevista, Takaoka revela que, no momento, a Fujitsu trabalha para certificar e homologar um conjunto de equipamentos para novas infraestruturas de telecomunicações e que a companhia japonesa deverá atuar como integradora de redes privativas no País. “Estamos em processo de definição de portfólio”, sinaliza.
Confira a entrevista, a seguir.
Tele.Síntese: Em artigo recente publicado no Tele.Síntese, você afirma que 2023 vai ser o ano das redes privativas 5G. Por que considera isso?
Alex Takaoka , head of Customer Engagement da Fujitsu do Brasil: Olhando o mercado nacional, a forma como o leilão do 5G foi encaminhado e como as operadoras têm se empenhado na implementação das redes, enxergamos que os grandes deployments [implantações] de rede 5G públicas vão ganhar maturidade neste ano. Isso vai abrir caminho para os primeiros deploymentes em grande escala de redes privadas, porque vai abrir a possibilidade de as operadoras de telefonia compartilharem parte de suas redes 5G com outros setores, como a manufatura.
Fora isso, vemos também a possibilidade de entrar no mercado com deployment de redes privativas para regiões mais afastadas, e isso será impulsionado pela expansão dos ISPs. Isso vai facilitar, por exemplo, ter hubs de redes privativas conectadas justamente a essa infraestrutura que os ISPs levaram mais adiante, ao interior do País, possibilitando, por exemplo, cases de redes privativas para agrobusiness.
O serviço de conectividade no Brasil está expandindo e, à medida que isso acontece, você abre possibilidades de novas aplicações. Enxergamos as redes privativas não só com potencial para 5G, mas também para tecnologias anteriores, como a LTE 4G. Em muitos casos de uso, o 5G não será o foco. Ainda há uma demanda grande por cobertura, não só por velocidade e latência.
Tele.Síntese: No caso do Brasil especificamente, o uso de aplicações com base em 5G está demorando ou dentro do esperado?
Takaoka: Está dentro da previsão, porque já esperávamos que [no Brasil] fosse mais lento mesmo. Existe mesmo um gap [intervalo] na adoção tecnológica de telecomunicações entre o que acontece fora do Brasil e o que acontece aqui.
A partir da execução do leilão do 5G e da implementação das redes públicas, imaginávamos que a implantação de redes privadas viria em uma onda posterior. Então, está dentro do tempo projetado. Imaginamos que, em 2023, vamos discutir muitos casos reais de aplicação para implementação ainda neste ano. Em 2024, já estaremos na esteira normal de aplicação.
Tele.Síntese: A Fujitsu planeja atuar como integradora no mercado de redes privativas. Vocês já contam com projetos em operação no País?
Takaoka: Não temos nenhum projeto implementado. Temos uma esteira de pipeline, com alguns projetos em discussão, até porque isso depende também da nossa capacidade de trazer para o Brasil os produtos necessários. Estamos em processo de definição de portfólio, homologação de rádios específicos para redes privativas – tanto rádios indoor quanto outdoor – para compor com outros equipamentos que são necessários, como switch de ativação e transponder de fibra óptica. Então, há um portfólio grande de produtos que precisa ser certificado e homologado primeiro.
Como já atendemos clientes dos setores de manufatura, financeiro e utilities no Brasil, o que pretendemos é casar as duas coisas: a parte de aplicações e serviços com a parte de conectividade. Hoje em dia, para essa área de telecomunicações e IoT, em geral, os assuntos são sempre casados.
Tele.Síntese: Quais são as principais preocupações das empresas na implementação de redes privativas?
Takaoka: O primeiro passo é identificar corretamente o caso de uso. Então, é saber o objetivo da conectividade. Em seguida, tem de escolher a tecnologia correta. O 5G, por exemplo, não vai substituir o WiFi em vários casos de uso, assim como o 4G também não vai ser deixado de lado. Então, definir o caso de uso correto é o primeiro passo.
A partir disso, é preciso ter um projeto extremamente importante de segurança e arquitetura. Em um projeto de conectividade, há mais endpoints [pontos de extremidade] conectados e mais riscos de segurança associados. Isso precisa ser gerenciado. E esses endpoints precisam estar habilitados para a tecnologia correta. Ter um parceiro que consiga enxergar o end to end [ponto a ponto] é importante. Aí, ressalto a importância dos integradores.
Tele.Síntese: Quais setores devem se beneficiar mais das redes privativas ou que vão puxar a demanda?
Takaoka: Manufatura é um dos segmentos de destaque. Se pensar em grandes linhas de produção, as manufaturas com alto grau de automação vão se beneficiar disso. Segurança pública e smart cities [cidades inteligentes] também. E falo de smart cities num conceito mais pé no chão, [envolvendo] câmera de monitoração, empregados de segurança pública, manutenção de vias públicas, todos os serviços conectados à cidade. Então, o governo tem muito a se beneficiar desse tipo de estrutura.
O mercado de utilities também. Se você pensar em distribuição de energia elétrica e água, há um potencial grande para implementação de redes privativas. O setor de distribuição de energia elétrica principalmente, porque tem um papel importante na distribuição de conectividade.
Mineração é um setor extremamente importante também, justamente pela característica de ter grandes plantas de mineração e beneficiamento fora dos grandes centros e que cada vez mais usam tecnologias e precisam de conectividade. O setor de óleo e gás, que opera plataformas marítimas com a mesma característica, e o agrobusiness não ficam de fora.
Tele.Síntese: Como vocês vislumbram a competição por esse mercado? Empresas de diferentes segmentos vão disputar os mesmos clientes?
Takaoka: O padrão de telecomunicação tem sofrido transformações. Hoje, a Fujitsu trabalha pesadamente em uma tecnologia para parte de comunicação 5G chamada Open RAN, o padrão de protocolos abertos. Na prática, você consegue fazer um mix de diversos fornecedores. Então, com esse padrão de tecnologia aberta, o Open Ran faz crescer a cadeia de fornecedores. A concorrência vai ser mais acirrada e mais ampla.
Às vezes, uma operadora vai estar concorrente por um cliente final com um integrador. E vai ter cliente para o qual os dois vão estar [trabalhando] juntos. Então, vai ser um cenário onde o concorrente também pode ser um parceiro de negócios. O mercado vai ficar mais dinâmico e o processo de inovação, muito mais rápido.
Tele.Síntese: Além das redes privativas, na esteira do 5G, quais outras aplicações devem deslanchar em breve?
Takaoka: Para o mercado brasileiro, vemos uma sequência do que vem acontecendo já nos mercados internacionais. O padrão 5G vai se consolidar como tecnologia principal de telecom wireless [sem fio], com rádios Open RAN. Acreditamos que a tecnologia aberta vai ditar boa parte do mercado daqui em diante.
Tudo isso demanda uma coisa que já acontece no Brasil: uma maior capilaridade e distribuição de fibra óptica. Então, a cobertura de fibra é o grande habilitador de todo tipo de tecnologia de nova geração. A fibra óptica tem de estar distribuída pelo País de forma massiva e com grandes backbones regionais.
Tele.Síntese: Como vê a disputa pelo mercado de semicondutores atualmente? O Brasil está ficando para trás?
Takaoka: Do ponto de vista da Fujitsu, temos uma política muito claro em relação a semicondutores: a nossa resiliência é grande. Até nessa crise de semicondutores a Fujitsu foi um dos poucos provedores que sofreu menos em telecomunicações por ter se planejado bem em relação ao uso de chips em seus produtos.
Em termos de indústria, vejo como um segmento extremamente importante, mas é difícil de ser habilitado no País. Exige bastante investimento e engajamento de todas as partes. Mas a oportunidade ainda está aberta. Não é algo que estejamos atrasados ou perdendo o barco. O mundo só se mobilizou por semicondutores no último ano.
Vejo o governo se movimentando em conversas com a China, com os Estados Unidos e até com o Japão. Por coincidência, ainda temos uma indústria nacional de chips ativa. Ainda temos tempo para nos posicionarmos, não muito, mas ainda dá para entrar nesse barco.
Tele.Síntese: Em quais segmentos a Fujitsu planeja investir mais no Brasil e como espera crescer?
Takaoka: O mercado brasileiro para a Fujitsu é extremamente importante. A partir daqui, atendemos à América do Sul. Indubitavelmente, o Brasil é o país mais importante no contexto de América Latina. Então, a Fujitsu enxerga o mercado brasileiro com extrema importância para a estratégia global.
Dentre as nossas áreas de foco de atuação aqui no País, em primeiro lugar está telecomunicações. O nosso investimento todo tem sido focado em telecomunicações. Estamos trazendo e homologando equipamentos de infraestrutura de telecom, começando com fibra óptica. Na sequência, softwares e equipamentos para redes 5G e comunicações wireless, como linhas de rádio e softwares virtualizados. E, por fim, os segmentos industriais, onde trabalhamos muito com aplicações de missão crítica, como soluções com foco em non-stop.