Fintechs são vítimas do próprio sucesso

A entrada de novos players no mercado financeiro tem sido pauta de discussão ao redor do mundo e leva em conta fintechs e bigtechs
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Bruno Diniz,

As fintechs, que já foram muito desprezadas como competidores, souberam aproveitar a abertura regulatória concedida pelo Banco Central desde 2103, como a criação de instituições de pagamento e a regulamentação das fintechs de crédito, construindo negócios de grande porte, a exemplo do Nubank, PagSeguro entre outros.

“Mas agora as fintechs se tornam vítimas de seu próprio sucesso”, diz Bruno Diniz, especialista em fintechs com dois livros publicados e sócio diretor da Spiralem, ao comentar as restrições impostas pelas novas regras anunciadas, na última sexta-feira, 10, pela a autarquia, que passa a exigir mais capital para as instituições de pagamento (IPs), conforme o porte e a complexidade do negócio. A medida entrará em vigor a partir de 2025.

No curto prazo, o mercado reagiu negativamente à iniciativa, prova disso foi a queda de 6,8% das ações do Nubank em New York, logo após as novas regras de capital das IPs serem divulgadas. Mas só no médio e longo prazo será possível dizer se tais regras vão mexer de fato com o ritmo de inovação desse setor.

“A iniciativa do BC é ótima para o consumidor e a modernização do sistema financeiro brasileiro. O mercado abriu e cresceu e agora chegou a um patamar em que é preciso contrair para deixar o terreno nivelado. Poderá haver implicações na operação de algumas instituições que não levavam em conta essa regra mais restrita, como o aumento de custo de crédito”, afirma Diniz.

Na sua opinião, muitas pessoas criticaram a medida, mas trata-se de um movimento inevitável que está ocorrendo no mundo inteiro. O grande cuidado é evitar impactos na inovação que impeçam o crescimento das pequenas fintechs.

O futuro de uma fintech de pequeno porte é tornar-se figura de um conglomerado. “Como estamos em uma era de rebundling, em que as fintechs deixam de ser pequenas e específicas e ficam cada vez maiores, adicionando produtos ao cliente e se conectando a mais players, oferecendo uma multiplicidade de produtos seus e de terceiros, ou até produtos não financeiros”, observa Diniz.

Novos entrantes

Para Diniz, a tratativa dos novos entrantes no mercado financeiro tem se tornado pauta de discussão ao redor do mundo e não leva em conta apenas a entrada das fintechs, mas também de bigtechs.

“A porta de entrada das bigtechs no sistema financeiro é se tornar uma instituição de pagamento ou, como já surgiu com a entrada do open banking, se tornar um iniciador de pagamentos. O Facebook já conseguiu a licença para ser uma iniciadora de transações de pagamento ativa no mercado financeiro devido a essa possibilidade regulatória no país”, diz.

Mas em outros lugares do mundo, como na China, segundo ele, as bigtechs ficaram muito intrincadas com o  mercado financeiro tradicional. Isso fez com que o governo chinês ficasse mais atento às possibilidades de riscos sistêmicos, na medida em que as bigtechs passaram a atuar tal qual bancos, tipo shadow banking, (sistema financeiro informal, não regulamentado, que fornece uma importante fonte de crédito para quem não tem acesso a canais de financiamento formais).

“No Brasil a dinâmica de mercado é bem diferente do que ocorre na China. O que temos aqui é um mercado bem democratizado. Temos concentração bancária mas o regulador foi introduzindo várias regras. A regulamentação brasileira de open finance é uma das mais avançadas do mundo. O próprio fato de ter essa discussão é sinal de amadurecimento, o que não ocorre com os demais países da América Latina”, conclui.

 

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Redação DMI

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