Fim da Ceitec favorece produtos importados, diz entidade
A liquidação da empresa estatal Ceitec, localizada no Rio Grande do Sul, distanciará ainda mais o Brasil da indústria de alta tecnologia e diminuirá as chances de o país reduzir a enorme dependência de produtos importados. É o que afirma a Abisemi (Associação Brasileira da Indústria de Semicondutores), em nota sobre a provável liquidação da estatal pelo governo federal, conforme proposta do Programa de Parcerias de Investimentos.
“A sua liquidação distanciará ainda mais o Brasil do conhecimento de ponta necessário ao desenvolvimento de produtos de alta tecnologia e diminuirá as chances para que possamos reduzir a enorme dependência de produtos importados”, afirma o presidente da entidade, Rogério Duair Jacomini Nunes. “O momento em que vivemos é bastante revelador de como é deletério depender totalmente de componentes e produtos importados frente à atual dificuldade na obtenção de equipamentos e insumos essenciais para salvar vidas em meio ao combate da Covid-19 no país”.
Na nota, Nunes classificou como ilustrativo verificar que a decisão de liquidar a Ceitec ocorreu no mesmo dia em que parlamentares dos Estados Unidos apresentaram um projeto de lei para fornecer mais de US$ 22,8 bilhões em ajuda aos fabricantes de semicondutores, objetivando estimular a construção de fábricas de chips naquele país, em mais uma etapa da rivalidade tecnológica com a China.
“Nesse sentido, a Ceitec configura-se na única fábrica que logrou desenvolver um certo nível de capacidade de difusão dos chips no hemisfério sul do planeta, num investimento estratégico feito pelo País nos últimos anos. Ressalta-se que o processo de difusão é a primeira fase da fabricação de uma pastilha de silício e representa na cadeia de produção de chips o processo com maior agregação tecnológica e complexidade, antes das etapas de encapsulamento e teste”, acrescenta.
Investimentos
Cita ainda a nota que, ao longo de quase 12 anos de atividades, a Ceitec desenvolveu capacidade tecnológica e formou recursos humanos que desenvolveram projetos e patentes na área de circuitos integrados. “Sua fundação contribuiu, inclusive, para atração de investimentos estrangeiros ao Brasil neste setor, dando início a novos empreendimentos privados com atuação nacional e consolidando uma cadeia de valor no país neste segmento”, reforça.
Segundo a Abisemi, apesar da liquidação da Ceitec, o conhecimento produzido pela estatal deve ser aproveitado em importantes projetos relacionados à indústria 4.0, Internet das Coisas (IoT), por entender que recursos preciosos com e altos investimentos não podem ser simplesmente liquidados junto com a empresa.
“Lamentamos que o processo de privatização tenha sido infrutífero, mas a Abisemi espera que o Brasil continue investindo no setor de semicondutores devido à sua vital importância para a evolução tecnológica, para a inovação, para o desenvolvimento sócio econômico e consequentemente para a vida das pessoas, que usam cada dia mais e mais produtos dependentes de agregação tecnológica de última geração”, conclui.