Favoto: Como a pandemia e a Guerra da Ucrânia têm impactado na cadeia de telecomunicação?

O CEO da Dicomp, Filipe Favoto, escreve sobre os efeitos das crises internacionais sobre o mercado brasileiro de telecomunicações
Filipe Favoto, CEO da Dicomp
**Por Filipe Favoto, CEO da Dicomp

A pandemia de Covid-19 foi um marco para a sociedade global contemporânea, trazendo mudanças que abrangem desde o comportamento, cuidados com a saúde, trabalho e estilo de vida; até impactos nas mais diversas cadeias produtivas da economia mundial.

A indústria de telecomunicação não passou ilesa a esse tsunami que varreu o planeta. Por um lado, a popularização do trabalho remoto sustentou o crescimento do setor, levando em consideração que muitas pessoas e empresas investiram em novos equipamentos e em um suporte tecnológico mais adequado para que os colaboradores tivessem total capacidade de exercer suas funções em casa, sem perda de produtividade. Segundo dados da Consultoria Frost&Sullivan, entre 2016 e 2022, a taxa de crescimento anual composto (CAGR) do segmento residencial de telecomunicações cresceu 4,2%, o maior dentre todos os demais setores.

Entretanto, apesar do estímulo ao setor trazido pela rápida expansão do trabalho remoto, vale destacar que o período pandêmico também trouxe consigo uma série de fatores negativos que impactaram diretamente a cadeia de telecomunicação, em especial, no Brasil, que não tem tradição na produção de componentes desse segmento, dependendo assim diretamente das importações.

A crise dos chips semicondutores

Como citado anteriormente, a intensificação do home office levou ao aumento da demanda dos mais variados itens de tecnologia, desde produtos eletroeletrônicos aos de telecomunicação. Entretanto, uma série de fatores impactou negativamente na produção desses componentes, um deles, talvez o mais importante, foi a crise dos chips semicondutores.

Porém, como essa história realmente começou? Atualmente, os chips semicondutores são o quarto produto mais comercializado no mundo, devido ao seu papel fundamental na produção de smartphones, roteadores, computadores, automóveis, televisores, vídeo-games, dentre outros. Em 2020, em meio a uma guerra comercial com a China, que teve início em 2017, com o início do governo Trump nos Estados Unidos, o país decidiu restringir a venda de semicondutores aos chineses, que não dominam plenamente essa tecnologia, e eram dependentes das importações para sustentar a produção de itens eletroeletrônicos e de telecomunicação. Como resultado, os fabricantes chineses decidem estocar o produto durante a pandemia, visando diminuir os impactos durante na produção.

Esses dois fatores somados – o aumento de demanda e a guerra comercial entre Estados Unidos e China – levou a escassez desse tipo de componente em todo mundo, impactando de maneira negativa nas cadeias cujas sua utilização é essencial, elevando preços e exigindo dos distribuidores uma boa estratégia para lidar com os estoques.

Para fins de comparação, desde o início da pandemia a Dicomp duplicou o nível de estoque, atualmente composto por mais de 6000 SKU, garantindo uma entrega rápida e segura aos parceiros. Além de alimentar o estoque abundantemente, também firmamos parcerias com novas empresas internacionais. Afinal, a crise dos semicondutores deixou ainda mais evidente que depender apenas de um único local para produção de matéria-prima ou de um determinado produto é um risco iminente para os negócios.

Guerra Rússia X Ucrânia: um problema a mais para a cadeia de produção

Além dos desafios enfrentados ao longo da pandemia, uma possível e iminente nova crise causada pela guerra entre Rússia e Ucrânia também pode trazer impactos para a cadeia de telecomunicação. Segundo dados da Trendforce, a Ucrânia é responsável por cerca de 70% do fornecimento de gases nobres, como o neon, fundamental para o desenvolvimento de lasers usados na fabricação de semicondutores. Por outro lado, a Rússia responde por 33% do fornecimento do paládio utilizado na produção de sensores nos Estados Unidos.

O esperado é que a indústria diversifique sua cadeia de fornecedores, buscando diminuir a dependência desses dois mercados, em especial, da Rússia, que enfrenta sansões por parte de diversas potências econômicas.

Para finalizar, acredito que os reflexos da crise dos chips semicondutores ainda serão sentidos em 2023, com possibilidade de se arrastar ainda mais dependendo de como evolua o conflito entre os dois países europeus.

Quanto ao Brasil, ainda iremos sofrer com a escassez de componentes, seja em telecomunicação, seja em outras áreas. E a Dicomp, para reduzir esse impacto, manterá programações de estoque mais agressivas, buscando cumprir com as entregas e o fornecimento das vendas programadas de seus clientes e parceiros.

 

**Filipe Favoto é advogado formado pelo Cespar (Centro de Ensino Superior do Paraná) e pós-graduado em planejamento tributário pela UniFCV. É CEO da distribuidora de produtos de telecomunicações e energia Dicomp.

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