Falta de conectividade significativa e de equipamentos desafiam a educação digital no Brasil

Para MegaEdu, Proxxima e Interjato, realidade das escolas brasileiras exige orquestração entre entidades públicas, privadas e do Terceiro Setor

Além de internet, escolas precisam de computadores, dizem especialistas

A conectividade nas escolas públicas é tema essencial para o desenvolvimento educacional no século XXI. Mas, levar internet a essas unidades de ensino é só o primeiro passo. Em seguida, é preciso realizar um trabalho orquestrado que garanta equipamentos, como computadores, notebooks e projetores, e uma conexão de qualidade e gestão de conteúdo significativo para os alunos.

Essa é a visão dos participantes do primeiro painel desta quinta-feira, 22 de agosto, da 3ª edição do EdTechs e as Escolas Públicas, evento online e gratuito realizado pelo Tele.Síntese com o objetivo de debater alternativas para o avanço da qualidade do ensino público com o apoio de ferramentas da tecnologia digital.

“Quando se leva internet para as escolas e disponibiliza WiFi, mas não se garante que haja computadores para os alunos, a iniciativa fica nesse lugar de conectividade que não é significativa. A falta de dispositivos ainda é um dado importante. Metade das escolas rurais, por exemplo, não têm computador para os alunos”, disse Cristieni Castilhos, diretora-executiva da MegaEdu, organização sem fins lucrativos que oferece apoio com estudos, análises e guias para conectividade de escolas públicas.

Castilhos lembrou os dados da última TIC Educação, pesquisa realizada pelo Cetic.br, que mostrou que 58% das escolas públicas com acesso à internet não permitem que alunos usem a rede sem fio. Em 28% das unidades de ensino do país, o uso do celular é completamente proibido.

“Realmente, o adequado é o computador. Não é só uma questão técnica, os professores querem um uso estruturado da internet dentro das escolas. Vamos precisar avançar sobre isso, como fazer a gestão do WiFi dentro das unidades, a gestão do conteúdo da internet para que seja algo significativo e não haja riscos e exposição desnecessária a telas”, afirmou a executiva.

Leonardo de Lima Gomes Filho, diretor-presidente da Proxxima, empresa de telecom do nordeste que atua no Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba e Bahia, concorda. A Proxxima é responsável pela conexão em 600 unidades escolares na região com fomento de diferentes origens, sendo umas das fontes o Fust (Fundo de Universalização das Telecomunicações).

“Falta implantar um WiFi com gestão de uso, ter cobertura em toda a escola, além de conexão para o aluno fora do horário de aula e dispositivos para professores e alunos”, afirmou.

Infraestrutura

As empresas que estão trabalhando na ponta para implementar a conexão nas escolas públicas já têm também outros aprendizados com a experiência. Erich Rodrigues, CEO do Grupo Interjato, que também atua com telecom no Nordeste, falou sobre o esforço para levar conexão a 589 escolas do Rio Grande do Norte.

“Tivemos desafios como o de chegar na escola e não ter infraestrutura para conectividade interna. Nossa maior frustração foi ter previsto 1.800 pontos de WiFi e perceber que seriam necessários para 8 mil ambientes”, disse.

Ao todo, segundo ele, as escolas compreendem 4.400 salas de aula e cerca de mais 4 mil ambientes escolares, como bibliotecas e laboratórios. Ainda com todos os desafios, os participantes do painel sobre conectividade nas escolas públicas consideram que há avanços.

“Antes, tínhamos o problema do diagnóstico, de dados, custos. Hoje temos dados mais precisos e sabemos de onde vem os recursos. No ano passado, o lançamento do Enec (Estratégia Nacional de Escolas Conectadas) foi um grande passo nesse sentido para não haver sobreposição de políticas”, disse Castilhos. “Se a gente olhar os números do TIC Educação, houve um salto de 82% para 92% das escolas conectadas. Em 2020, apenas 52% das escolas rurais estavam conectadas. Agora são 81%”, comparou.

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Simone Costa

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