Chairman da Algar quer frequência de 5G ocupada por qualquer empresa e não só por teles

Luiz Alexandre Garcia, que migra para o comando da holding Algar, acredita que a 5G só irá avançar a contento no país se a Anatel mudar as regras de destinação do espectro, que exige hoje uma licença de telecomunicações. Ele defende que as empresas dos diferenciados segmentos, como uma mineradora ou um hospital, possam também ocupar as frequências da 5G para atender as suas necessidades de conexão.

Luiz Alexandre Garcia, depois de 14 anos à frente da Holding Algar, que tem receita líquida de R$ 5 bilhões por ano, deixará o cargo para assumir a presidência do conselho de administração, no lugar de seu pai, Luiz Alberto. Em uma transição planejada há vários anos, com a profissionalização do comando, ora por executivos do mercado ora por membros da própria família, o grupo continua a ter a inovação – de gestão e de produtos e serviços – como marca registrada. Tanto que o executivo não se furta a um novo pensar sobre o setor. Para ele, a 5G só irá avançar  se mudar o atual modelo de regulação do espectro de frequência. Ele defende que empresas de todos os segmentos – mineradoras, hospitais, escolas – possam usar o espectro para atender suas necessidades específicas. 

Tele.Síntese: A Algar anunciou recentemente uma mudança importante na sua estrutura

Luiz Alexandre Garcia: A Algar é uma empresa de controle familiar que tem 88 anos desde a sua fundação. Em 1989 o Luiz Alberto Garcia, que era o CEO da companhia, profissionalizou a gestão, e contratou o primeiro CEO executivo não acionista. Ao mesmo tempo, estruturou a governança da companhia, criando um conselho de administração ativo que regula as tomadas de decisões empresariais da companhia e também um conselho de família bastante estruturado, que regula a relação dos acionistas com a empresa.

Tele.Síntese – Empresa familiar, com perfil de mercado..

Garcia – De 1989 para cá, nós tivemos quatro CEO executivos, três deles foram CEOs não acionistas e eu sou o quarto CEO, executivo e acionista ao mesmo tempo. O que permitiu que o quarto CEO voltasse a ser um acionista sem ter uma resistência interna dos demais executivos? Foi a governança corporativa bastante sólida, que elege seus executivos sendo acionistas ou não, por competência, por meritocracia. Após 12 anos na função como presidente executivo, nós achamos que era o momento adequado de fazermos  uma sucessão dupla:  Luiz Alexandre está sendo substituído por Divino Sebastião de Souza, que foi presidente da Algar Telecom e atuava como diretor de operações da holding. E Luiz Alexandre passa a assumir a partir de 1° de janeiro de 2019 a função de presidência do conselho da Algar S.A. que é nossa Holding. Luiz Alberto Garcia continua como conselheiro tanto da Algar Telecom como da Algar S.A., como presidente de honra.

Tele.Síntese: Essa mudança tem alguma relação com o novo  sócio?

Garcia: Não. O novo sócio tem direito de ter dois conselheiros no conselho da Algar Telecom porque nós temos um conselho de oito membros, se fosse um conselho de sete, ele elegeria um. Essa foi uma decisão espontânea tomada pelo acionista Algar.

Tele.Síntese: A holding, cuida de que segmentos, além de Telecom? Estamos falando de um grupo de que tamanho?

Garcia: Estamos falando de um grupo de R$ 5 bilhões de receita liquida, com 25 mil funcionários. A holding, que chama-se Algar S.A., faz todo o planejamento estratégico do grupo, a locação de capital e acompanhamento de performance das operações. A Algar hoje tem três setores distintos; setor TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação), setor de entretenimento, e o segmento de agronegócios. E temos uma outra linha de ação que chamamos de Algar Ventures, que é nosso investimento em startups.

Tele.Síntese: A maior ainda é a TIC?

Garcia: Sim

Tele.Síntese: Vai continuar como presidente do Sinditelebrasil?

Garcia: Vou continuar. Passo a assumir agora muito mais a função de empresário do que de executivo, porque antes eu tinha as duas agendas, a executiva, do dia a dia e a empresarial, de fazer toda a representatividade do grupo. O CEO agora fica mais com a função executiva e eu assumo mais a função empresarial, representação de alto nível, institucional…

Tele.Síntese: Você não acha que, embora seja um grupo sólido, ele não pode ficar meio espremido nessas novas ondas que estão vindo, de verticalização e consolidação? Como você está vendo isso?

Garcia: Sempre fui a favor das empresas regionais, até por motivos óbvios, porque a Algar Telecom começou como uma empresa regional, e hoje é nacional. Continuo acreditando que existe e existirá espaço para as empresas regionais. Os pequenos provedores são as empresas que mais adicionam banda larga no país, isso é um exemplo por si só.

Tele.Síntese  – Mas a 5G está chegando e vai demandar muito mais investimentos..

Garcia: Vamos ter que estudar formar de alocarmos a utilização de espectro para verticais, sejam verticais de negócios, seja para o uso corporativo. O futuro da regulamentação do 5G ou dos espectros de frequência, no meu ponto vista, vai precisar existir uma regulamentação que possibilite a utilização privada.

Tele.Síntese – Como assim, uso privado? O mercado de telefonia móvelé todo privado…

Garcia: É o seguinte: hoje eu tenho espectro limitado, com a quantidade de compradores limitados. Então, quando falamos em consolidação, a tendência é que cinco ou seis empresas comprem todo o espectro disponível no Brasil. Mas se  encontrarmos um mecanismo que uma vertical específica de negócios possa fazer um uso privado, nós vamos acelerar a implementação do 5G. Uma mineradora, por exemplo, que esteja instalada no interior de algum estado, tem por necessidade instalar uma rede 5G para administrar seus equipamentos móveis. Nem sempre a necessidade desta empresa está concatenada com a prioridade da operadora. Por que não autorizar que essa empresa use um espectro de frequência já vendido para instalar uma rede privada dentro da sua propriedade?  Não estou falando de uma frequência específica para isso. Ela pode chegar para a Algar Telecom e dizer, “olha, eu preciso usar uma frequência na minha mineração, que está dentro da sua área de abrangência, você permite que eu utiliza a sua frequência?”

Seria autorizar que uma fábrica ou um hospital, por  exemplo, utilizar uma frequência de 5G, segundos seus requerimentos e suas exigências de segurança, de eficiência da rede, de redundância, e encontrar uma forma  possível de utilização dessa frequência. Um hospital, por exemplo, que queira automatizar seu centro cirúrgico, com equipamento 5G, vai precisar de 100% de confiabilidade da rede. Para isso, ele tem que ter uma estrutura técnica muito robusta, com redundância e uma equipe de manutenção sempre de prontidão. Nem sempre a operadora terá disponibilidade de capital para investir ou de equipe técnica, para atender todas as demandas do mercado.

Tele.Síntese : Como a detentora a frequência seria remunerada?

Garcia: Isso é algo que precisa ser discutido na Anatel.

Tele.Síntese: Você acha que a proposta do PLC 79, que libera a revenda, pode ser um passo para isso ou precisarão serem tomadas mais medidas?

Garcia: Acho que a gente precisa tomar medidas mais concretas para acelerar o desenvolvimento da implementação do 5G, porque o risco que nós temos, se isso não for permitido, a escassez das frequência poderá ficar na mão de poucas empresas. Devemos criar um mecanismo novo para acelerar a implementação do 5G pensando nas diferentes verticais e uso privado.

Tele.Síntese: Na verdade, seria um novo modelo de ocupação de frequência que teria que ser pensado pela Anatel?

Garcia: Teria que ser discutido entre a Anatel, dentro da licitação das frequências.

Tele.Síntese:  Quais são as mudanças legais ainda necessárias para fazer avançar o setor?

Garcia: O Brasil precisa dar dois passos extremamente importantes para não corrermos o risco um apagão de legislação. O primeiro deles é aprovar o  PLC79. Não está tudo incluído no PLC79, mas é o primeiro passo. Junto com ele tem outro passo importantíssimo que é regulamentarmos a lei do direito de passagem,  de uso de solo e autorização para instalarmos as antenas. Sem essa lei,  vai ser muito difícil contar uma infraestrutura adequada que suporte toda demanda do 5G que vem pela frente.

 

 

 

 

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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