Em meio a demissões contínuas, fintechs devem “andar de lado” para não fechar em 2023

Dispensas em massa de trabalhadores devem se prolongar e ocorrem em função da falta de recursos financeiros para manter as operações das startups, avaliam especialistas
Demissões nas fintechs deve se prolongar pelo ano de 2023
Iniciada no ano passado, onda de demissões nas fintechs se manteve forte em janeiro (crédito: Freepik)

Em seus últimos dias, o mês de janeiro não deve ser lembrado com saudosismo pelos trabalhadores de fintechs e startups. Seguindo o que se viu no ano passado, 2023 começou com demissões em massa em várias empresas do setor – e, segundo especialistas, a atual onda de cortes deve se prolongar.

Nas últimas semanas, bancos digitais como o will bank e o Pagbank PagSeguro, além da empresa de cashback Méliuz e a startup Movile (dona do iFood), se juntaram a um movimento que, no fim do ano passado, atingiu até mesmo Nubank e XP, entre outros negócios. Nesta segunda-feira, 30, foi a vez do unicórnio Olist promover um corte que atingiu todas as áreas da plataforma de comércio eletrônico.

Diferentemente das big techs, que também estão demitindo em massa, as fintechs não costumam informar abertamente o número de empregados dispensados. Contudo, está claro que o setor não vive os seus melhores dias.

Na avaliação de Diego Perez, presidente da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), na atualidade, resta às empresas “andar de lado para não parar de vez”, porque os investimentos minguaram.

Ele diz que startups são negócios que dependem de aportes financeiros intensivos para alcançar os objetivos propostos. Contudo, a conjuntura atual – marcada, sobretudo, por juros altos e inflação elevada nos países desenvolvidos e instabilidade geopolítica – não é propícia para investimentos de risco. Dessa forma, os recursos não chegam em abundância às empresas como no passado recente.

“2022 foi um ano bem fraco em termos de venture capital, o capital de risco, e não vai haver uma grande melhora neste ano”, pontua Perez. “As empresas que se capitalizaram antes da mudança de cenário estavam com recursos para contratar bastante gente. E fizeram isso para alcançar os resultados de forma mais rápida. No entanto, o quadro de incerteza atrapalhou a conclusão dos objetivos”, acrescenta.

Por outro lado, o presidente da ABFintechs explica que, enquanto os recursos não fluem às empresas, os fundos de investimentos estão se capitalizado. “Podemos ter uma recuperação no segundo mestre, mas a passos lentos”, pondera.

FUTURO DOS TRABALHADORES

Ainda que pareça contraditório, a curto prazo, o futuro pode ser mais promissor para os demitidos do que para as fintechs.

Segundo Fernando Moulin, partner da consultora Sponsorb e especialista em negócios e transformação digital, como há um déficit considerável de profissionais de tecnologia em todo o mundo, os empregados recém-dispensados não devem demorar para conseguir uma recolocação no mercado de trabalho.

“Não vejo possibilidade de desemprego para esses profissionais, mas as empresas podem começar a oferecer salários mais saudáveis para a estabilidade dos negócios”, avalia.

Além disso, Moulin reforça que “a internet ainda é uma jovem adulta”, de modo que, como ainda há muito a ser explorado no mundo digital, a demanda por serviços de tecnologia continuará intensa.

Todavia, em meio à falta de recursos financeiros, o futuro das startups é mais incerto.

“Empresas que não tiverem bases robustas para se ajustarem ao momento da economia tendem a ser condenadas ao fim ou absorvidas por negócios maiores. Ou seja, devemos ver transformações no mercado, o que é natural”, sinaliza Moulin.

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Eduardo Vasconcelos

Jornalista e Economista

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