Educação financeira agora é regra

Para Douglas Cirilo, da Federação Nacional das Cooperativas de Crédito, a entrada em vigor da Resolução nº 8 trará melhorias das ações de educação financeira desenvolvidas por associadas

Educação financeira agora é regra

Em vigor desde o dia 1º de julho, a Resolução Conjunta nº 8 do Banco Central (BC) e do Conselho Monetário Nacional (CMN) determina que as instituições financeiras e de pagamento adotem ações de educação financeira a seus clientes.

De acordo com a norma, as instituições devem oferecer aos consumidores medidas que contribuam para a organização e o planejamento orçamentário, formação de poupança e o desenvolvimento da chamada resiliência financeira, isto é, a capacidade de se recuperar de dificuldades financeiras momentâneas, além de ações para prevenir a inadimplência e o superendividamento.

A entrada em vigor da resolução não preocupa a Federação Nacional das Cooperativas de Crédito (FNCC). É o que diz Douglas Cirilo, superintendente da instituição. “As cooperativas de crédito já tinham uma atuação muito forte em relação ao tema antes da resolução que entrou em vigor no início do mês. Em maio de 2023, 94% das ações da Semana Nacional de Educação Financeira em maio de 2023 foram desenvolvidas por cooperativas de crédito”, afirma. Confira a entrevista na íntegra.

DMI: Como a FNCC recebeu a Resolução Conjunta nº 8?

Douglas Cirilo: Vimos como uma vitória do cooperativismo de crédito enquanto instituições que lideraram a educação financeira no Brasil por muitos anos. É como uma semente plantada que está dando frutos. As cooperativas de crédito já trazem esse tópico em seus estatutos sociais, pois é algo que faz parte do próprio princípio do cooperativismo e é muito satisfatório ver que agora se tornou uma norma que todas as instituições financeiras devem cumprir. Nós, das cooperativas de crédito, sempre vimos a educação financeira como parte da concessão de crédito. Não é possível emprestar dinheiro sem falar da capacidade de pagamento, sem falar do quanto o crédito pode ser bom ou não para o cooperado.

DMI: Como foi a atuação das cooperativas de crédito em relação ao tema nos últimos anos?

Douglas Cirilo: Em 2009, o Banco Central iniciou a realização dos fóruns de inclusão financeira, que teve várias edições. O cooperativismo de crédito participou desses fóruns desde a primeira edição. Ao longo do tempo, as cooperativas se tornaram atores importantes nesses espaços que, mais tarde, se tornaram fóruns de cidadania financeira, já que se percebeu que não bastava incluir.

Depois, veio a Semana Nacional de Educação Financeira (a primeira edição foi em 2013) e o protagonismo das cooperativas de crédito foi crescente. Essa é uma semana no mês de maio em que as instituições financeiras, de modo geral, realizam atividades como palestras, eventos, informativos nas redes sociais sobre educação financeira. Ainda não temos os dados de 2024, mas na edição de 2023, 94% das ações da ENEF foram realizadas por cooperativas de crédito. Em 2022, foram 92% das ações. Então, as cooperativas de crédito já tinham uma atuação muito forte em relação ao tema antes da resolução que entrou em vigor no início do mês.

DMI: E o que muda com a norma em vigor para as cooperativas de crédito?

Douglas Cirilo: Quando o tema é formalizado por meio de uma resolução, passa a ser parte da responsabilidade legal das instituições financeiras, já que o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central normatizam e supervisionam essas instituições. Acredito que agora o tema seja integrado de maneira mais formal na gestão das cooperativas de crédito. Isso ajuda a sistematizar, organizar e planejar as ações, além de documentar. Algumas cooperativas de crédito menores, que desenvolviam alguma ação de educação financeira de maneira natural, agora vão ter que fazer um planejamento e o registro das atividades. E isso vai trazer melhorias. A resolução traz a importância de se ter um plano e medidas que gerem de fato, valor para os clientes, que sejam personalizadas de acordo com a ferramenta e o perfil. A mudança, então, se dá nesse sentido da organização das ações.

DMI: Que tipos de ações de educação financeira as cooperativas de crédito desenvolvem?

Douglas Cirilo: O carro-chefe das ações promovidas pelas cooperativas de crédito são palestras ou ciclos de palestras sobre educação financeira. Há cooperativas de crédito, por exemplo, que atuam junto a empresas e realizam palestras educativas de planejamento financeiro, organização de orçamento familiar, orientação para sair de dívidas, como usar o crédito de maneira consciente, como poupar para realizar um sonho ou atingir um objetivo.

Outro formato muito utilizado pelas cooperativas são as chamadas clínicas financeiras, quando são ofertadas em locais públicos, por exemplo, orientações individuais sobre educação financeira.

Há ainda a realização de rodas de conversa ou de cursos. Muitas cooperativas têm cursos online disponíveis em suas plataformas digitais.

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Simone Costa

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