Eduardo Grizendi: A “uberização” das redes de telecomunicações
Recentemente, um jornalista me perguntou como poderíamos reduzir o custo das redes de telecomunicações. Penso que ele estava aguardando uma resposta longa, cheia de explicações, mas somente respondi a ele: compartilhando! E isso está acontecendo, atualmente, de forma intensa no Brasil. Que bom! E, mais importante, quem está promovendo essa mudança é o próprio mercado. Melhor ainda!
A infraestrutura de telecomunicações no Brasil vem passando por uma transformação grande nos últimos anos. No início desta década, provedores regionais de internet e operadoras, principalmente Vivo e TIM, investiram na implantação de rotas ópticas.
No entanto, cada vez mais estas operadoras e provedores têm feito esse tipo de investimento de forma conjunta, ora dividindo-se o custo da construção entre as partes, ora dividindo-se a rota em diversos trechos, cada um sendo responsável pela implantação de um determinado trecho e, após a finalização, permutam entre si a infraestrutura óptica de cada um de seus trechos. Ainda, se um provedor identifica uma grande oportunidade em um trecho que todos necessitam e não existe a infraestrutura, ele corre para implantá-lo e compartilhá-lo, maximizando seu valor.
Pode-se dizer que o mercado de infraestrutura de telecomunicações no país, enfim, “uberizou-se”, abrindo-se, portanto, para o compartilhamento de suas infraestruturas ópticas. Isso está envolvendo mais recentemente até a Oi, Telefônica e Embratel, operadoras tradicionais, que herdaram infraestruturas das empresas estatais do Sistema Telebrás, quando privatizadas, e não tinham o “cacoete” de praticar o compartilhamento.
Nos dias de hoje, praticamente não existe infraestrutura óptica no país que não esteja sendo compartilhada por mais de um provedor ou operadora. Eles recorrem, principalmente, à construção conjunta, compartilhamento e permuta de infraestrutura, para expandirem suas rotas ópticas, e, secundariamente, à contratação isolada de infraestrutura, evitando assim novos vultosos investimentos.
Como exemplo, a Vivo e TIM investiram na implantação de cabos OPGW rota Belém-Macapá-Manaus, na Linha de Transmissão de Energia Elétrica de Tucuruí (Linhão), do Grupo Isolux, vencedora do leilão ANEEL. Contudo, a partir de sua entrada em operação, permutaram fibras e canais ópticos com outras operadoras e provedores, em especial, na própria região Norte, por exemplo, com a Embratel, detentora da rota por rodovia Manaus-Porto Velho (RD), e com a Oi, detentora da rota também por rodovia Manaus-Boa Vista (RR).
Provedores de internet locais e regionais construíram rotas nas regiões Norte, Centro-oeste, Nordeste e Sul. Esses mesmos provedores também permutaram as infraestruturas por eles construídas, entre si, e com grande operadoras, ocasionando uma expansão da malha óptica de cada um, para além de suas regiões iniciais de operação.
A Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), a rede acadêmica brasileira, também tem recorrido à construção conjunta, compartilhamento e permuta para evolução de sua infraestrutura de redes, tanto de redes metropolitanas quanto de longa distância, para construção de seu backbone. Novas redes metropolitanas estão sendo construídas somente em parceria com provedores. No mínimo, reduz-se pela metade os custos de investimento, como também os gastos de sua operação.
A nova geração de sua infraestrutura de backbone, a rede Ipê, vem sendo implantada com fibra óptica, em 100 Gb/s, para uso da comunidade de ensino e pesquisa no Brasil. E esta implantação é resultado do compartilhamento de par de fibras com as empresas elétricas – Chesf, Furnas e Eletrosul, respectivamente nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul, e para além dessas regiões, da permuta de canais ópticos com provedores no mercado.
Ninguém mais pode se dar ao luxo de manter uma infraestrutura óptica exclusiva, pois não estará maximizando seu valor. O custo de propriedade é alto e prender capital em infraestrutura óptica, sem uso, é perder dinheiro. A “uberização” das infraestruturas veio para ficar, reduzindo os custos de investimento, da operação e da manutenção destas redes, portanto, o custo de sua propriedade. E todos têm se envolvido – operadoras, provedores de internet e a rede acadêmica brasileira. E a sociedade toda está ganhando com isto.
*Diretor de Engenharia e Operações da RNP