Drex deve reduzir custos das transações financeiras
Há pouco mais de um ano, o Banco Central (BC) lançou o projeto do real digital. Batizado de Drex, a expectativa era que a moeda digital do Brasil estivesse disponível já neste ano. Por ainda precisar garantir aspectos de privacidade dos usuários, o BC resolveu fazer uma nova fase de testes da moeda e adiar seu lançamento para o próximo ano.
A expectativa em torno do Drex, no entanto, não diminuiu e especialistas acreditam que o correspondente digital do real trará benefícios para o mercado brasileiro. Atualmente, cerca de 50 países estão em fase de testes de suas moedas digitais ou desenvolvendo projetos para lançá-las.
“Quando você analisa blockchain e os últimos dez anos de criptos, observa maior eficiência nas transações e uma diminuição dos custos de infraestrutura. O custo de banco de dados é um dos grandes vilões quando a gente olha para infraestrutura em tecnologia”, avalia Márlyson Silva, CEO da Transfero.
Silva foi um dos participantes do painel que discutiu o DREX e a transformação dos pagamentos digitais na 4ª edição do Digital Money Meeting, promovido pelo Tele.Síntese, que contou com moderação de Luigi Iervolino, sócio da Bip Brasil.
“A gente fez alguns trabalhos de pesquisa na Sinqia, não só sobre o Drex, mas usando também recebíveis de cartão e tokenização de imóveis para ser usada como garantia, e todos os clientes foram unânimes em dizer que a perspectiva quanto a isso é a redução de custos”, contou Alexandre Machado, group product manager da Sinqia.
No ambiente de testes, o BC emitiu os primeiros tokens de títulos públicos, mas no futuro, a ideia é que a moeda seja utilizada em outras transações. Com isso, os especialistas em moedas digitais acreditam que haverá reduções de custos não só para as instituições financeiras ou de pagamentos, mas para quem realiza uma operação no dia a dia, como a compra de um imóvel.
A ideia do BC é que nas compras com o Drex haja um “contrato inteligente”, em que um imóvel, por exemplo, é transferido automaticamente para o comprador assim que ele realiza o pagamento. A eliminação ou diminuição dos altos custos de cartório seriam um dos benefícios.
Moeda digital com lastro
Além de enxergar reduções de custos e agilidade nas transações, inclusive, internacionais, os especialistas veem o Drex com bons olhos por ele ser o correspondente digital do real e seguir regulamentação do BC. “A principal diferença do Drex é o lastro. Por ser regulada pelo BC, ele será rastreável. Ou seja, será possível identificar a origem, por onde passou e todos nós, enquanto operadores do sistema financeiro, vamos ter a gestão disso”, afirmou Machado.
“Se você cria um projeto que utiliza a beleza das criptomoedas, trazendo aumento de eficiência, transações internacionais, dinheiro programável, e coloca isso dentro do poder regulamentado e organizado do BC, você empodera essa entidade a fazer mais e entregar mais para o seu próprio ecossistema”, disse Silva.
Isto é, a partir da liberação do Drex, grandes instituições financeiras e de pagamento devem se organizar e permitir que agentes ao seu redor se plugem a esse sistema e, assim, sejam oferecidos mais serviços para a população, o que deve acarretar os benefícios citados, como a redução de custos nas transações.
Transações financeiras com o Drex
“Não é o BC que vai criar algo novo a partir do Drex. Quem deve fazer isso é a iniciativa privada. O BC e os demais reguladores, como a CVM, vão criar as bases para que os empreendedores possam lançar modelos de negócios e explorem isso”, avalia Fabricio Tota, diretor de Novos Negócios no Mercado Bitcoin.
O executivo cita como exemplo a mudança no mercado financeiro a partir da Lei nº 12.865/13, que alterou o Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), permitindo a inovação do sistema financeiro com a abertura de espaço para fintechs e outras instituições de pagamentos.
Outro exemplo citado pelos especialistas são as mudanças causadas no sistema financeiro a partir da introdução do Pix. Com participação obrigatória de todas as instituições financeiras e de pagamento.
“A própria maquininha do cartão que teve de se atualizar e colocar a opção de Pix. O BC vai regular e falar que deve ter uma oferta mínima de transações com Drex. Essa regulação vai fazer com que o mercado se autogerencie e traga escabilidade”, acredita Machado.
Os executivos participam do Digital Money Meeting, evento promovido pelo Tele.Síntese, que debate hoje as possibilidades de novas transações financeiras com o Drex, educação digital e inovação no Open Finance.