Distrito prevê que em 10 anos fintechs brasileiras serão mais valiosas do que Vale e Petrobras juntas
Apenas 11 fintechs brasileiras foram responsáveis pela captação de mais de meio bilhão de dólares nos dois primeiros meses de 2021, revelou o balanço da Distrito. Vale destacar que dessas, a Stark Capital e a Mercado Bitcoin não divulgaram os valores e não entram no montante. O valor já representa 25% do total investido no setor no ano passado, e um recorde para o período.
Gustavo Araújo, CEO do Distrito, explica que o grande volume se deve aos aportes de US$ 400 milhões na Nubank, representando 80% do total; e de US$ 70 milhões de fundos estrangeiros na RecargaPay; além do aporte de US$ 18,5 milhões do Banco BV na Trademaster, fintech de crédito para pequenas e médias empresas.
“Duas startups tiveram uma maior representatividade; e sete finechs dividiram US$ 30 milhões. Hoje no Brasil, a média de mercado para um aporte Séria A é de em torno de US$ 4 milhões; a de um Série B já vai a cerca de US$ 15 milhões; e Série C, a US$ 30 milhões, mas, nesse caso, muitas empresas optam por fazer Oferta Inicial de Ações (IPO, da sigla em inglês)”, esclarece Araújo.
Ele destaca que quem queria investir em empresas de tecnologia tinha de aplicar fora do país. Nos últimos anos, cresceu o número de empresas de tecnologia com ações na B3 – Mosaico, Meliuz, Enjoei, Bimobi – e há muitas outras na fila. Mesmo assim, o mercado está muito carente, ao mesmo tempo em que todo mundo já entende o papel da tecnologia em todos os setores, que passam por uma grande transformação digital.
“As empresas de base tecnológica vão crescer, gerar empregos e ter um espaço cada vez maior. Isso já aconteceu na China – onde as duas maiores empresas em valor de mercado são a Allbaba e a Tencent – e nos EUA com as famosas big techs Apple, Amazon, Facebook. Isso também vai ocorrer na América Latina, onde a Mercado Livre já vale mais que a Vale do Rio Doce e a Petrobras. O país ainda tem outras grandes empresas como Itaú e Ambev, mas, em dez anos, as empresas de tecnologia é que vão liderar”, prevê Araújo.
Ele destaca que grandes fundos de venture capital de primeira linha como Sequoia, Andreessen Horowitz e Soft Bank estão vindo com mais interesse com o objetivo de ter participação societária nesta transformação digital, que já ocorreu nos exterior e da qual já participaram. A transformação digital atinge especialmente os setores financeiro, saúde, agro, mercado imobiliário e varejo.
“Os dois últimos unicórnios brasileiros são do varejo: a VTEX e a Madeira Madeira. O que até pouco tempo era um privilégio da indústria financeira, agora ocorre também em outros setores, que começam a ter cada vez mais unicórnios e novas promessas”, aposta Araújo.
Ele pondera que, apesar disso, o mercado financeiro continua sendo o principal drive de transformação. É, portanto, natural que empresas de diversos setores passem a agregar produtos financeiros à suas cadeias.
“É uma das maneiras mais fáceis de escalar o negócio. Todos acabam se transformando numa fintech ao logo do processo. Não é a toa que, dos US$ 3,5 bilhões investidos em venture capital II, em 2020, mais da metade foi alocada em fintechs. Este ano também começou bem com uma alta de 77% no volume de venture capital no Brasil. E fintechs lideram:. dos US$ 500 milhões captados, US$ 400 milhões foram para o Nubank, e o Recarga Pay, US$ 70 milhões”, analisa Araújo.
Ele destaca ainda as plataformas que viabilizam a entrada dos diferentes negócios verticais no setor financeiro. O setor que desperta maior interesse é o de bank as a service, em que as empresas de diferentes setores agregam serviços financeiros para adiantamento de recursos ao fornecedor, dar crédito ao cliente, ou oferecer uma wallet para transações.
“Há uma corrida das ferramentas que viabilizam as empresas virarem fintechs. São corporações de infraestrutura de processamento que fazem com que essa tecnologia seja oferecida em formato white label para que um varejista ofereça serviços financeiros, mas quem está provendo é uma fintech por trás”, diz Araújo.
Hoje há no país cerca de mil fintechs, das quais 166 são do segmento de meios de pagamentos – 16,3% do total. As fintechs mais antigas dentro da categoria são as de processamento. A subcategoria é formada por startups que começaram a ganhar espaço em 2011, muito em função do crescimento do e-commerce no Brasil. Não a toa, há uma correlação bastante forte entre o crescimento do faturamento do e-commerce com a fundação dessas fintechs, o que reforça sua importância para o setor. Para o CEO da Distrito, houve um amadurecimento, e a explosão de fintechs é fruto de dois movimentos.
“Um deles é o que chamamos de tempestade perfeita: em 2010 havia dois terços da população desbancarizada e totalmente insatisfeita; junto com um regulador como o Bacen incentivando novos modelos de negócio; com isso houve uma proliferação de fintechs e quem ganha é o consumidor”, diz Araújo O segundo fator é o fato de hoje o Brasil ter tecnologias no mercado financeiro que estão prontas para ajudar os movimentos disruptivos.
“O Open Banking e o pagamento instantâneo estão trazendo muita oportunidade para quem quer entender de serviços financeiros. E estamos apenas no começo dessa jornada. Essa portabilidade vai chacoalhar ainda mais o setor financeiro”, alerta.
Ele destaca ainda que o Brasil está muito bem posicionado no cenário global. São Paulo é a quinta melhor cidade do mundo para fintechs. E a Nubank já é um decacórnio (dez vezes mais que o valor de um unicórnio) e uma das principais fintechs do mundo pronta para disputar outros mercados
“Temos um dos mercados financeiros mais desenvolvidos do mundo e isso foi transportado para o segmento de fintechs: contamos com empreendedores preparados e com capital e mercado não atendido. As fintechs abraçaram os desbancarizados dando o primeiro cartão e o orgulho do pertencimento”, conclui Araújo.