Desafios para levar internet de alta velocidade a escolas rurais
No ano passado, o Instituto Escola Conectada, organização não governamental que conecta gratuitamente escolas públicas à internet de alta velocidade com o apoio de provedores locais, viveu a experiência de levar internet de alta velocidade a 190 escolas públicas em áreas rurais e remotas na região Norte do país.
“Sequer havia a localização exatamente dessas escolas, estavam severamente desconectadas, longe da malha de fibra, o meio mais difundido para se levar conectividade hoje”, lembrou Marcos Pinheiro, membro do conselho de administração e um dos fundadores do Instituto Escola Conectada.
Pinheiro falou sobre a experiência de implementação do projeto nesta sexta-feira, 23 de agosto, em sua participação na 3ª edição do EdTechs e as Escolas Públicas, evento online e gratuito realizado pelo Tele.Síntese com o objetivo de debater alternativas para o avanço da qualidade do ensino público com o apoio de ferramentas da tecnologia digital.
O projeto do Instituto Escola Conectada se tornou possível a partir da doação de antenas de conectividade via satélite da Starlink. As 190 escolas selecionadas ficam nos municípios de Benjamin Constant, Itacoatiara, Manicoré e Presidente Figueiredo, no Amazonas, Moju, no Pará, e Tartarugalzinho, no Amapá. A execução do trabalho levou dez meses para ser concluída.
Desafios e aprendizado
Para Pinheiro, a importância da articulação com as secretarias de educação dos municípios, como driblar as questões logísticas e os cuidados para a manutenção da conectividade nas escolas foram os principais aprendizados tirados da experiência.
“Seria absolutamente impossível ter o resultado que a gente teve, na velocidade que teve, sem a intermediação, a articulação e a ajuda das secretarias de educação locais”, contou Pinheiro.
De acordo com ele, ao elaborar um projeto como esse, para levar internet a escolas em áreas rurais ou remotas, é preciso, antes de mais nada, conversar com as secretarias de educação responsáveis pelas unidades de ensino e entender se, do ponto de vista delas, faz sentido realizar a conexão.
Outro aspecto importante é que, como moradores da região, os integrantes das secretarias de educação podem dar informações valiosas sobre aspectos locais que afetam questões de logística.
No Norte do país, por exemplo, é preciso estar atento aos períodos de chuva ou de seca, pois ambos afetam a navegabilidade dos rios, muitas vezes, única forma de se chegar a algumas localidades. “Há um momento do ano em que é possível fazer a logística e você só entende isso conversando com as secretarias”, observou Pinheiro.
Ele contou um dos episódios em que a logística de entrega das antenas precisou ser repensada. Foi o caso da remessa para Manicoré. A cidade é acessível apenas por via fluvial ou aérea. Para viabilizar a instalação, foi necessário buscar um ponto de recebimento para as antenas em Manaus (AM) e, depois, alugar espaço em uma balsa para levar o material até a cidade. De lá, a prefeitura ainda precisou enviar as antenas por outro barco para as escolas.
Por fim, Pinheiro alertou sobre os cuidados com a manutenção das instalações para garantir que a conectividade, de fato, seja constante. Nas cidades mais remotas, houve a necessidade de reconfigurar as antenas por causa das frequentes quedas de energia elétrica, por exemplo.
As escolas ainda enfrentaram problemas com raios que atingiam os dispositivos ou até mesmo ratos que danificaram a viação das antenas. “Entendemos que precisava ter uma linha direta para que as escolas pudessem entrar em contato e resolver essas questões”, disse o representante do Instituto Escola Conectada.
De acordo com ele, o instituto pretende fazer, no próximo ano, um estudo para analisar o impacto da iniciativa na região.
Além das 190 escolas, a ONG leva a conexão à internet para outros colégios públicos. No total, atualmente garante conectividade a 577 escolas que atendem mais de 260 mil alunos.