Depois do sucesso em B2C, Guiabolso e Kinvo miram mercado B2B e Open Banking as a Service
Capitalizadas, Guiabolso e Kinvo, duas das principais finechs para educação financeira e consolidação de contas e de investimentos, estão se posicionando como players estratégicos no cenário de open banking. Desde 2012, o Guiabolso já captou US$ 80 milhões em cinco rodadas de investimento, de investidores como QED Investors, Kaszek Ventures, Endeavor Catalyst, Ribbit Capital e International Finance Corporation. O último aporte foi realizado no fim de 2017 e foi liderado pelo fundo sueco Vostok.
A Kinvo seguiu os passos da Fliper, fintech de consolidação de investimentos adquirida pela XP. Na semana passada, após meses de namoro, a Kinvo foi adquirida 100% pelo BTG por R$ 72 milhões, uma transação que ainda depende de aprovação do Banco Central.
“Com os R$ 72 milhões, nossa meta agora é investir”, diz Moacy Veiga, sócio-fundador e CEO da Kinvo. Ele explica porém, que continua à frente do negócio, pois, mesmo com a aquisição pelo BTG, será mantida a gestão independente, com os mesmos fundadores. A operação segue no formato original: consolidando investimentos de diferentes instituições financeiras mas agora com a oferta de novos produtos e serviços.
“Eu já tinha como meta fazer a jornada completa do cliente, consolidar apenas não é mais suficiente. Podemos mostrar para o cliente qual produto é ruim, o que pode melhorar e oferecer uma solução. Essa proposta nasce com o maior marketplace de investimentos da América Latina, o BTG, com presença em nove países, 650 fundos na plataforma e centenas de produtos. Juntamos o serviço que tínhamos de consolidação de investimentos e a possibilidade de alocação de recursos. Não há conflito de interesse, – as carteiras recomendadas nunca serão do Kinvo – o cliente poderá colocar recursos onde quiser, mas no BTG será mais fácil, pois teremos acesso a todas as APIs”, esclarece O CEO da Kinvo.
Depois de atuar como investidor no mercado financeiro, Veiga criou um agente autônomo que evoluiu para a DTVM Futura Invest, adquirida pelo grupo italiano Azimut. Em 2017, montou o projeto da Kinvo, que iniciou a operação em 2018, já começando a monetizar e com uma primeira e única rodada de investimento seed de R$ 50 mil da Bossa Nova. Hoje a ferramenta conta com mais de 700 mil usuários cadastrados, e mais de R$ 100 bilhões de investimentos. De 2020 até aqui, registrou um salto de 17 mil usuários pagantes para 48 mil. A equipe passou de cinco para 37 profissionais, e continua crescendo.
A proposta da Kinvo é colocar o usuário no controle do próprio dinheiro, por meio de ferramentas que oferecem projeções futuras da carteira, análises de desempenho, evolução do patrimônio. Os investimentos consolidados na plataforma podem ser originários de qualquer banco ou corretora do país e, mais recentemente, também de ativos internacionais. Hoje são mais de 30 mil usuários de fora do Brasil, em países como EUA, Portugal, Inglaterra, Japão, entre outros.
“As pessoas aplicavam nos bancos e não tinham a menor noção do resultado de seus investimentos. Era uma grande caixa preta. O Kinvo atua como um consolidador em que o usuário cadastra as aplicações e acompanha e compara a performance de seus investimentos versus o benchmark, conhecendo o resultado. Temos 48 crowlers (robôs) buscado informações do mercado e o histórico dos investimentos, além de estarmos conectados com o canal eletrônico da bolsa. É semelhante ao que o Guiabolso faz com as contas bancárias. Em breve, também vamos fazer isso”, sinaliza Veiga.
Diferente do Guiabolso, que teve de travar uma luta para ter acesso aos dados, a Kinvo teve uma trajetória mais tranquila porque os dados são públicos e disponíveis via B3, CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). “Só coletamos, organizamos e mostramos os resultados para o usuário. Nos grandes bancos, o usuário só vê o nome do fundo, em geral fictício, e o saldo bruto e o saldo líquido”, diz Veiga.
Agora a kinvo quer ira além do aplicativo B2C e está lançando o Kinvo2B, plataforma voltada para consultores de valores mobiliários, planejadores financeiros, Family officers, gestores de carteiras e assessores de investimentos. A plataforma 2B permite a consolidação de diversos ativos nacionais e internacionais (americanos), além do cadastro personalizado de outros ativos financeiros e não financeiros, como imóveis e participações em empresas. O profissional poderá fazer toda a gestão de forma automatizada.
“O papel de consolidação em breve vira commodity, os grandes bancos vão chegar e precisamos evoluir. O Brasil é dos poucos países do mundo em que 85% a 90% do dinheiro estão nas mãos de seis grandes bancos. Nos EUA, 10% estão em grandes bancos, e 90% em casas de investimento. Há dois grandes gatilhos que estão mudando isso: juros reais negativos, com a Selic abaixo da inflação; e, no final do ano, o lançamento do Open Banking”, analisa o CEO da Kinvo.
Já a Guiabolso criou um modelo de negócios que se confunde com o próprio conceito de open banking, praticando o conceito antes mesmo dele ser regulamentado. Thiago Alvarez, ex-Mckinsey, CEO e fundador, ao lado de Benjamin Gleason, da Guiabolso, diz que a empresa foi a percursora do open banking, criando a tecnologia em 2013. Em 2014, lançou o aplicativo que acessa as contas bancárias e faturas de cartões para ajudar a organizar as finanças dos usuários. Em 2016, o Bradesco entrou na Justiça contra a empresa, alegando falta de segurança, competição desleal, e quebra de propriedade intelectual.
“Logo após, o então Ministério da Fazenda entrou no processo como “amicus curiae” do Guia Bolso nos apoiando no processo. O CADE passou a investigar a postura anticompetitiva do Bradesco, que, para encerrar o processo no CADE, fez um acordo, pagando uma multa de R$ 23,9 milhões; encerrando o processo na Justiça e se comprometendo a abrir o acesso direto de suas APIs para o Guiabolso”, recorda Alvarez.
No início da operação, o Guiabolso não era monetizado. Numa segunda fase, passou a oferecer serviços financeiros como crédito, seguros, cartões de crédito e investimentos, num modelo de parcerias e de marketplace. Mas Alvarez destaca que tudo é integrado na plataforma e com o score de crédito da Guiabolso. Entre os parceiros estão BV, Creditas, Digio, Lendico, Focus Financeira.
Uma das novas inciativas é a publicação e criação de negócios em todas as quatro fases do open banking, iniciada semana passada com a publicação da relação das agências bancárias e canais de atendimento, puxando dados de todos os bancos. Na segunda fase, entrarão os dados de cadastro e movimentação financeira. Mas a mais importante é a terceira fase de iniciação de pagamentos.
“Com a iniciação de pagamentos o usuário poderá fazer uma transação no seu banco através da conta em outra instituição financeira. Hoje o Guia Bolso já permite fazer pagamentos e transferência, tudo de forma gratuita. Somos monetizados pelos serviços no Marketplace”, diz Alvarez.
Desde o ano passado, a empresa criou uma plataforma para oferecer serviços de open banking. O CEO da Guiabolso diz que uma coisa é ter acesso aos dados, outra é o que fazer com eles, criando aplicações e negócios, como a empresa criou modelos de crédito e de gestão financeira.
“O modelo é de “Open Banking as a Service”. Temos propostas com todos os grandes bancos à exceção do Bradesco. Já temos mais de dez contratos fechados com bancos como o BV. Também temos contratos com outras empresas que não são players financeiros, como empresas do ramo imobiliário”, conclui.