Data centers: com estudo inédito, MDIC defende que Brasil seja ‘hub exportador’
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) lançaram nesta terça-feira, 13, um estudo inédito sobre o desenvolvimento de data centers no país. De acordo com o governo federal, o diagnóstico será usado como base para discutir uma política nacional que incentive a ampliação da oferta interna e contribua para “transformar o país num hub exportador desse tipo de serviço para os vizinhos da América do Sul”.
O levantamento, realizado em parceria com as empresas Frost&Sullivan e Prospectiva, foi realizado por meio de entrevistas com os principais provedores de serviços de data centers do país, além de outros representantes da cadeia produtiva, como distribuidores e fabricantes. O resultado é uma série de recomendações ao governo para desenvolver uma estratégia que atraia investimentos (veja detalhes mais abaixo)
De acordo com o diagnóstico, o Brasil conta com 17 provedores e 44 instalações, sendo o principal mercado de data centers da América Latina. O setor de TI e telecom representa 5,9% da demanda de armazenamento. O maior tráfego identificado pelo estudo é do ramo de alimentos e bebidas, com 13,7%, seguido do comércio varejista e agropecuária (ambos com 9,8%).
Veja os principais pontos abaixo:
Custo
O estudo cita que os custos de hardware e software representam quase 62% do investimento de CAPEX de um data center no Brasil. O valor de CAPEX por MW é de R$ 53,2 milhões.
“O total de tributos que incide sobre o investimento para construção de um data center chega a 23%. Com o total gasto com impostos seria possível realizar inteiramente as etapas de espaço físico e infraestrutura de telecom”, consta no estudo.
O diagnóstico destaca que o consumo de energia para manter o data center operando representa a maior parte dos gastos mensais: 32% do OPEX. Junto ao custo para manutenção de equipamentos, esse valor totaliza quase 58,7% da despesa por mês.
Competitividade
Ao comparar o cenário brasileiro com o de outras potências econômicas, o levantamento aponta como vantagens competitivas do país a infraestrutura de energia e a demanda para o serviço.
A regulação do espaço digital também aparece como uma vantagem. “O Brasil se destaca sobre os benchmarks por contar com uma legislação específica para a proteção à privacidade de dados”, cita o estudo.
O diagnóstico ressalta que “os temas onde a performance do Brasil é boa – energia e regulação do espaço digital – não devem ser ignorados, mas ocupam uma terceira ordem de prioridade”.
Entre as “lacunas críticas” identificadas estão a infraestrutura de TI, o mercado de trabalho e o sistema tributário. A conclusão é de que o Brasil está defasado em relação aos outros países nestes quesitos e que estes são “pontos mais cruciais que devem ser abordados na estratégia de políticas públicas para data centers”.
Ainda na análise de competitividade, a estabilidade política e os custos burocráticos são citados entre os pontos de atenção, que devem ser discutidos “sem perder de vista a criticidade dos temas primários”.
Política nacional
O relatório lembra que apesar do Brasil não ter uma política especificamente voltada para data center, “possui um ecossistema de apoio à inovação e digitalização que pode ser alavancado para os fins da Estratégia”, omo linhas de crédito por meio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), além de programas desenvolvidos pela própria ABDI, pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e o sistema S.
“Em conclusão, a combinação entre um debate já existente, há anos, e sobre a criação de incentivos para o setor de data centers e os diversos instrumentos existentes, que podem ser direcionados a esse fim, cria uma base forte para a implementação das ações recomendadas neste trabalho”.
O estudo sugere uma matriz de priorização das ações possíveis para estimular o setor de data Centers, são elas:
Desoneração:
- Redução de impostos sobre a fabricação nacional de equipamentos;
- Redução de impostos sobre venda e importação de equipamentos;
- Isenção de IPTU para datacenters;
- Redução de impostos sobre a energia elétrica;
- Reembolso das despesas com energia;
- Desoneração da folha de pagamentos;
- Redução de impostos sobre internet e conectividade;
- Incentivos por meio de programas de eficiência energética;
- Subsídios para geração de energia renovável;
- Redução de impostos sobre serviços digitais;
- Concessão de crédito subsidiado ao setor; e
- Créditos tributários para investimentos em data centers.
Investimento:
- Investimento localizado na infraestrutura de apoio;
- Aumento do investimento total na infraestrutura de TI;
- Atração de investimentos na instalação de cabos submarinos;
- Concessão, aluguel ou venda de terrenos públicos;
- Construção de parques de data centers;
- Introdução de conteúdo de formação digital no ensino básico;
- Adaptação de currículos universitários;
- Oferta de cursos profissionalizantes;
- Capacitação do setor privado para adoção de cloud; e
- Incentivo para adoção de Cloud por governos locais.
Facilitação:
- Acordos com distribuidoras em prol do setor;
- Simplificação do pagamento de impostos;
- Harmonização de normas entre diferentes entes;
- Criação de janela única” para registros e licenças;
- Dispensa de licenças para projetos de baixo impacto;
- Instituição de prazos e mecanismos de aprovação tácita;
- Criação de regime aduaneiro especial; e
- Facilitação da entrada de mão de obra estrangeira.
Regulação:
- Regulamentação plena da LGPD (com definições para a transferência de dados para outros países) e
- Criação de política de cibersegurança favorável ao setor (preferencialmente, com instituição de um conselho nacional temático).
Acesse a íntegra do estudo sobre data centers no Brasil neste link.