Cortar impostos não reduz a inflação, diz Campos Neto

O presidente do BC ressaltou que diminuir impostos não ajuda na queda da inflação, pouco depois de Paulo Guedes anunciar queda de 25% no IPI.
Cortar impostos não reduz a inflação, diz Campos Neto - Crédito: evento do BTG Pactual
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central – Crédito: evento do BTG Pactual

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira, 22, que diminuir imposto, e consequentemente renunciar a receita, não auxilia na queda estrutural da inflação.

A afirmação do presidente do BC aconteceu no mesmo evento do BTG Pactual em que o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou que o governo deve reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em 25%.

“Se você abaixa o imposto ou faz alguma coisa que abre mão de receita para obter um preço de produto mais baixo naquele momento, estruturalmente você não está ajudando a inflação. Você pode ter uma queda no curto prazo, mas na parte de expectativa de inflação isso vai se incorporar e esse elemento tende a prevalecer estruturalmente falando no médio e longo prazo”, disse.

Campos Neto voltou a afirmar que tem havido uma subida consistente da inflação do núcleo IPC, que mede a evolução dos preços de bens e serviços e desconsidera alimentos e energia, e que esse movimento ocorre no Brasil e é acompanhado de perto por outros países. “A gente vê, de fato, uma tendência de inflação que é crescente”, ressaltou.

“Se o Brasil tivesse a mesma inflação de energia da média de vários países, a inflação também teria sido a média”, completou. Ele afirmou que o Banco Central considera em seus cálculos que a inflação industrial deve cair e a de serviços, subir. Campos Neto falou que há um olhar específico para a inflação de serviços, uma vez que o último número “surpreendeu negativamente”.

Mesmo assim, o presidente do BC disse esperar que a inflação ainda alta comece a acelerar sua queda entre abril e maio “quando se olha o acumulado de 12 meses”.

Federal Reserve

Apesar de dizer que não poderia comentar quais ações o Federal Reserve (FED) deveria tomar, o presidente do Banco Central afirmou que um movimento mais rápido de aperto monetário dos Estados Unidos ajudaria a combater a inflação em países emergentes.

Os EUA, disse, “vão conviver com inflação mais alta durante um tempo, que será persistente e tem prazo para acabar. O que a autoridade monetária americana tem feito “tem relevância” e é usado pelo Banco Central brasileiro como input para modelos no Brasil”, pontuou.

Campos Neto ressaltou o peso da inflação de energia, que inclui energia elétrica e combustíveis, no caso brasileiro. Em uma comparação com outros países, como Rússia, Chile e Espanha, o presidente do BC destacou o “nunca antes visto” choque de energia e o peso desses valores para a inflação brasileira.

Lei dos cripto

O presidente do Banco Central comentou também o projeto aprovado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado que regulamenta o mercado dos criptoativos como um passo importante para o setor.

“O tema de criptoativos ocupou mais de 50% da última reunião de banqueiros centrais”, contou. O chefe da autoridade monetária disse que os criptoativos “fomentam uma tecnologia importante para o sistema financeiro e as plataformas de criptoativos têm um valor enorme”, disse.

No entanto, ele afirmou que o crescimento muito alto de investimentos em criptoativos preocupa a autoridade monetária. As criptomoedas, como o bitcoin, têm uma volatilidade ainda mais alta do que a das ações em bolsa, o que pode prejudicar o equilíbrio monetário.

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Redação DMI

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