Competição entre operadoras reduziu preços e promoveu melhora na qualidade dos serviços, mostra estudo
O estudo, intitulado “The Effect of Competition on the Price and Quality of Triple-Play Bundles: Evidence on the Brazilian Telecommunications Market”, busca estimar o efeito da concorrência no preço e na qualidade dos pacotes triple-play, que incluem serviços de telefonia fixa, banda larga e TV por assinatura. Para tanto, foi aplicado o modelo de difference-in-differences nos dados dos três maiores grupos de telecomunicações do Brasil (Oi, Net e Telefonica Vivo). A pesquisa foi realizada com dados de 2016, auge da disputa dos combos no país.
Tainá Leandro, autora do estudo, é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental (EPPGG); doutora e mestre em Economia pela Universidade de Brasília (UnB), com foco em Microeconomia e Organização Industrial. Atuou com a defesa da concorrência na Superintendência-Geral e no Departamento de Estudos Econômicos do Cade (DEE/Cade) e também na Agência Nacional de Cinema (Ancine). Atualmente, é assessora da Diretoria de Normas e Habilitação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
“O primeiro modelo avaliou o efeito da rivalidade nos preços, considerando a matriz de características dos serviços agregados nos combos como exógena. Nesse modelo, supõe-se que a empresa não altera o nível de qualidade dos produtos em resposta à presença de um rival, apenas o preço. Os resultados indicam que a pressão competitiva de empresas de porte nacional tem um efeito negativo nos preços das operadoras Oi e GVT, o que indica a existência de rivalidade entre essas empresas”, detalhou Tainá.
“Para a GVT, esse efeito é mais expressivo: há uma queda de cerca de 8% quando há dois concorrentes no mercado local, enquanto que para a Oi o impacto é inferior a 1%. Para a NET, a presença da Algar e da GVT tem um efeito negativo nos preços, mas inferior a 1%”, expôs.
Para a palestrante, “é interessante notar que o programa Internet Popular teve um efeito significativo nos preços da empresa: uma redução em torno de 15%, indicando que a participação em programas governamentais que reduzem custos é mais importante do que a concorrência, ao menos, para as velocidades menores (entre 0,5 e 2 Mpts).”
“Já a presença da Oi tem impacto positivo nos preços, um resultado pouco intuitivo, que indicaria a existência de rivalidade assimétrica entre as empresas”, acrescentou.
Um segundo modelo buscou estimar o efeito da pressão competitiva observada nos mercados locais tanto nos preços, como na qualidade dos serviços agregados no combo. Para isso, utilizou dados apenas da operadora NET, empresa que apresentou maior variação nos tipos de pacotes ofertados nos municípios.
“Os resultados indicam que apesar de a presença da GVT e da Oi ter um efeito negativo no número de canais pagos ofertados no pacote de entrada, identificou-se um efeito positivo no número de canais de TV aberta e cortesia incluídos em todos os pacotes da operadora. Apenas a Oi teve um efeito positivo quanto ao número de canais de TV aberta ofertados em HD”, falou Tainá.
“Esse resultado indica que a NET responde à rivalidade exercida pela Oi aumentando o número de canais abertos, incluídos em seus pacotes de TV por assinatura. Para banda larga, a presença da Oi tem um efeito negativo na velocidade, o que sugere que a NET oferece velocidades mais próximas às da Oi nos municípios onde apenas essa concorrente está presente.”
Tainá não tem um estudo mais recente sobre o que apresentou, mas mostra suas percepções. “Sinto que o principal efeito disso, atualmente, é que gerou pacotes não mais com três serviços, mas quatro e até mais”.
Sobre o cenário de competição atual, diz apenas que “a Oi está defasada, usa cabo de cobre, atende apenas a um nicho, enquanto as concorrentes buscam cada vez mais tecnologia.”