Claro tv+ quer mais streamings, reduzir delay e ser “o Google da TV”

Alessandro Maluf, diretor de Produto Vídeo da Claro, diz que estratégia é se aproximar ainda mais de OTTs e estancar perda da base de clientes de TV por assinatura até o ano que vem; combo entre TV e streaming reduz taxa de cancelamentos e ataca o espalhamento de conteúdo por diversas plataformas
Claro quer mais parcerias com streamings, diz Alessandro Maluf, diretor de Produto de Vídeo
Claro quer enriquecer produto de TV com mais parcerias com streamings, indica Maluf (crédito: Divulgação)

Após agregar Netflix, Globoplay e Max em seu pacote de TV por assinatura, a Claro não deve parar por aí. A operadora busca firmar parcerias com outras plataformas de streaming para fortalecer a sua estratégia de “rebundle” – conceito que, segundo o diretor de Produto de Vídeo da Claro, Alessandro Maluf, trata-se de combinar canais de TV e acesso a serviços OTTs (over the top, isto é, conteúdo oferecido em cima de redes de banda larga) a um preço adequado ao consumidor.

Em entrevista ao TS, o executivo pontua que, enquanto o espalhamento de conteúdo é o calcanhar de Aquiles dos streamings, a integração é o trunfo da Claro tv+ para ampliar a base de assinantes, que já passa de 1 milhão de clientes apenas na modalidade de IPTV (via app ou box).

“Quando os OTTs estão com a operadora num mesmo pacote, o cliente não precisa cancelar um para adquirir outro. Todos estão inclusos na oferta, como se fosse um canal de TV no pacote”, diz Maluf, indicando que a união de forças contribui para reduzir o churn (taxa de cancelamento) das plataformas digitais.

O diretor conta que a empresa tem trabalhado para diminuir o atraso do sinal ao vivo (o famoso “delay”), alvo de críticas especialmente em transmissões esportivas, da modalidade via streaming. Segundo ele, para os Jogos Olímpicos de Paris, o atraso foi reduzido de 40 segundos para cerca de 10 segundos em relação à conexão a cabo.

Inclusive, o meio de acesso mais tradicional da TV paga, no qual a Claro ainda tem mais de 3,6 milhões de assinantes, não está com os dias contados, mas já não é mais o carro-chefe de vendas. De acordo com Maluf, ainda deve demorar para o streaming da Claro tv+ superar a carteira de clientes do cabo, mas, “naturalmente, a médio prazo, vai acontecer”.

Independentemente do meio de acesso, o foco da empresa é que, com a concentração de conteúdo, o cliente não faça mais a pergunta “onde está passando?”. “O que quero dizer é que, ao ir na busca da Claro tv+ e procurar ‘Cobra Kai’, não é preciso saber se está na Netflix ou no Max. O nosso objetivo é ser o Google da TV”, pontua.

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Tele.Síntese: Como está o negócio de TV por streaming atualmente?

Alessandro Maluf, diretor de Produto Vídeo da Claro: Já temos mais de 1 milhão de usuários nessa nova proposta de valor. A tecnologia streaming nos ajudou a chegar a um melhor custo-benefício. Isso porque, com o streaming, temos algumas economias operacionais, e repassamos tudo para o preço do produto. No cabo, temos obrigações regulatórias do SeAC [Serviço de Acesso Condicionado], desde imposto, canais obrigatórios e condições de atendimento – isso é custo. Sem contar o custo de instalação, pois o técnico tem que ir à casa do cliente.

Tele.Síntese: A maior parte dos assinantes já tinha relação com Claro ou estão captando novos clientes?

Maluf: Tem um pouco dos dois. Vendemos muito da nossa TV para a base de assinantes da Claro, mas também capturamos muito mercado novo. Não posso abrir percentual e números exatos, mas uma parte crescente vem de assinantes que estão em áreas em que não temos operação de banda larga. A maioria está com a nossa banda larga, mas também funciona e vende para quem não está na banda larga.

Tele.Síntese: Já está decidido que o futuro da TV por assinatura é o streaming?

Maluf: O futuro da TV está passando para uma transformação para o streaming. ‘Mas vai matar o cabo?’ Não, não vai matar o cabo. Ele não é o nosso carro-chefe hoje de vendas. Hoje, o carro-chefe é a solução por streaming, um pouco pelo custo-benefício que traz para o consumidor.

Tele.Síntese: Independentemente do meio – app, box ou cabo –, o conteúdo da Claro tv+ é o mesmo. Por que a TV por assinatura está voltando a dar certo?

Maluf: Trabalhamos para desenvolver o negócio em streaming que funcionasse em qualquer rede de internet e que tivesse a integração dos principais aplicativos do mercado. E integrar de uma forma que fosse melhor do que uma smart TV convencional. O que quero dizer é que, ao ir na busca da Claro tv+ e procurar “Cobra Kai”, não é preciso saber se está na Netflix ou no Max. O nosso objetivo é ser o Google da TV. O que queremos é que o conteúdo esteja na Claro tv+. Não quero que o consumidor faça a seguinte pergunta: ‘Onde está passando?’. Você não precisa fazer essa pergunta, a Claro tv+ vai te mostrar onde está.

Tele.Síntese: Qual foi a estratégia para fazer um produto de TV paga voltar a atrair o consumidor?

Maluf: O primeiro pilar é a tecnologia e o segundo, ter uma oferta comercial boa – uma boa relação custo-benefício. Então, estamos atuando no que chamamos de rebundle: é o bundle [pacote] da TV com os OTTs. Obviamente, os OTTs hoje têm uma forte aderência com o negócio de TV. E percebemos a dor do consumidor nesse pilar da oferta comercial, que é o custo. A fragmentação de conteúdo fica cara para o consumidor. Para se ter todos os principais OTTs, sai mais de R$ 150. Então, é mais caro do que a TV por assinatura. Assim, criamos uma oferta com Netflix, Globoplay, Max e todos os canais da TV por assinatura por R$ 120. O que acreditamos para o futuro é essa solução de streaming mais a estratégia de empacotamento rebundle.

Tele.Síntese: Como atraíram as plataformas para estarem com vocês na oferta?

Maluf: Se todo mundo tem Netflix, por que ela vai fazer parceria com a Claro? Primeiro, trazemos a sua conta da Netflix para a conta da Claro, e você tem uma economia. Essa é uma vantagem comercial que vimos com eles. Mas, no fundo, o mercado de streaming ficou tão fragmentado que gerou uma guerra por aquisição do consumidor. Então, um provedor de conteúdo vai vender a Netflix e, na sequência, vem alguém querendo vender o Max. E, se você ficar seduzido, cancela um e assina o outro. Isso gera um churn muito elevado e o custo de venda sobe.

Então, os provedores de conteúdo veem na operadora uma forma de reduzir o churn e o custo de venda. Assim, a atribuição de vender é da Claro. Temos uma máquina de vendas enorme e sinergia com outros produtos da Claro – a banda larga e o celular. Quando os OTTs estão com a operadora num mesmo pacote, o cliente não precisa cancelar um para adquirir outro. Todos estão inclusos na oferta, como se fosse um canal de TV no pacote.

Tele.Síntese: Nesse recorte mais recente no qual a Claro tv+ agregou Globoplay e Netflix e, há poucas semanas, o Max, isso deu um empurrão nas vendas?

Maluf: Com certeza. As pessoas estão considerando mais a Claro tv+. Além de mais considerados, somos reconhecidos como melhor custo-benefício e, naturalmente, vende mais. Outra coisa é que o cliente é mais fiel. Ele percebe o valor de ver tudo isso junto, e temos uma redução no churn. É uma combinação que estamos muito felizes em fazer.

Tele.Síntese: Planejam trazer outras plataformas para novos pacotes?

Maluf: Conversamos com todo mundo. Chegando numa boa equação – quero dizer, sendo bom para o consumidor, com custo adequado –, estamos abertos. Estamos falando com outros grandes provedores para compor. Sempre estamos abertos a essa conversa. É como você viu: começou com Globoplay, Netflix, Max – e seguimos nas conversas.

Tele.Síntese: Algum anúncio ainda este ano?

Maluf: É difícil dizer sim ou não. A nossa vontade é que sim, mas não quero queimar nada ou criar expectativas. Por enquanto, não posso garantir, mas estamos conversando.

Tele.Síntese: E como fica o produto tradicional da TV por assinatura, o cabo? Qual é o futuro dessa tecnologia na visão da Claro? A empresa ainda tem 3,6 milhões de acessos a cabo, que é o meio que gera o maior tíquete médio.

Maluf: É relevante, é a nossa maior base. O consumidor do cabo também pode adquirir o streaming. Não temos bloqueio sobre isso, é uma escolha do consumidor. O produto a cabo está funcionando, mas vemos que o crescimento não está no cabo, está no streaming. É uma base relevante, uma base premium. Estamos trabalhando para modernizar o cliente do cabo, para que ele tenha todas as atualizações da plataforma. Então, o cabo ainda é relevante no nosso negócio, mas o futuro está no streaming.

Tele.Síntese: O cabo ainda tem vantagens em comparação à TV por streaming, como a estabilidade, por não depender integralmente da banda larga, e a transmissão ao vivo ser mais próxima do tempo real do que o atraso no streaming. Os clientes ainda têm essa percepção? Existe receio com a TV por streaming por esses aspectos ainda não terem sido completamente solucionados?

Maluf: Essa é uma dor da tecnologia streaming – não só da Claro, mas para todos que ofertam o produto. A estabilidade, sim, depende da internet. A estabilidade está mudando bastante, porque a tecnologia vem ajudando. Modernizamos os codecs, os encodings de vídeo e o nosso data planning para suportar a demanda. Hoje, o produto já é mais robusto e resiliente. Também temos feito um trabalho com a banda larga, colocando WiFi mesh nos assinantes.

A relação do ao vivo é o delay. Para as Olimpíadas, tiramos um delay que estava na casa de uns 40 segundos e agora estamos na casa de 10 segundos, um pouco menos. Estamos reduzindo bastante essa condição e tentando diminuir ainda mais. Trabalhamos numa faixa de 7 a 10 segundos [de atraso]. Sabemos que isso faz diferença no esporte, em um pênalti para algum time. Melhorou bem, mas, comparando lado a lado com o cabo, ainda vemos essa diferenciação. O consumidor vai escolher. Hoje, o consumidor está optando pelo streaming.

Tele.Síntese: A redução do delay nas Olimpíadas é permanente ou temporário?

Maluf: Permanente. Corremos para fazer isso até as Olimpíadas e queremos avançar. Queremos ser ainda mais eficientes.

Tele.Síntese: Planos mais robustos de banda larga, WiFi 6, mais para frente o WiFi 7, essas tecnologias também vão ajudar a reduzir o delay na casa do cliente?

Maluf: Não, não faz diferença se você tem 50 Mbps ou 1 Gbps. O que muda o delay é a nossa eficiência. A empresa recebe o sinal via satélite, que entra numa máquina de encoding em tempo real. Temos que agir o mais rápido possível para transformar o conteúdo com uma excelente qualidade, colocar na plataforma, chegar ao setup box e abrir para o cliente sem lentidão.

Tele.Síntese: Já estão enxergando um ponto de virada, o momento em que a base do streaming vai superar a do cabo?

Maluf: Esperamos não falar mais em perdas de assinantes [de TV por assinatura como um todo] neste ano ou no próximo. Superar o cabo é um pouco mais longe, porque teríamos que triplicar a base do streaming. Hoje, o nosso foco é deixar de perder o assinante da TV a cabo, substituir essa base pelo streaming, estabilizar a base e crescer o negócio de TV da Claro como um todo, independentemente da tecnologia. Eu ainda vendo cabo e quero vender mais, mas o streaming é o que vende mais. Naturalmente, a médio prazo, vai acontecer isso que você está falando. A curto, não.

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Eduardo Vasconcelos

Jornalista e Economista

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