“O 5G começará a entrar no Brasil profundo no próximo ano”, afirma Márcio Carvalho, CMO da Claro

Segundo o CMO da operadora, a empresa vislumbra levar o 5G para cidades acima de 100 mil habitantes com a rede de fibra terrestre junta, seja própria, seja de terceiros, mas ainda aguarda a killer application que irá rentabilizar os investimentos.
Marcio Carvalho fala do 5G da Claro
Márcio Carvalho, CMO da Claro

A Claro está liderando o número de adições líquidas de clientes com o 5G e antecipado o lançamento dessa tecnologia para novas cidades, além do que estava determinado no leilão do 5G. Mas sabe que a partir do próximo ano, o desafio será ainda maior, pois, conforme afirma Márcio Carvalho, CMO da operadora, nessa conversa com o Tele.Síntese, a nova tecnologia do celular começará a “entrar no Brasil profundo”. Segundo o executivo, a operadora entende que o 5G só pode avançar  levando a fibra óptica para alimentar as torres e, disse que, pelo menos nas cidades acima de  100 mil habitantes, a Claro irá sempre atuar também com a rede fixa de fibra, seja própria, seja de terceiros.

Leia aqui os principais trechos da entrevista:

Tele.Síntese: A Claro é líder em 5G em número de clientes. Ao que você atribui essa liderança? A marca, a rede?
Márcio Carvalho: A Claro, como um todo, está em um excelente momento. A gente vem liderando o crescimento no segmento móvel, líder de portabilidade histórica, desde que a gente investiu para transformar a qualidade da entrega no serviço, na rede 4.5G, que era uma preparação do caminho chegar hoje e ter o 5G com todas as torres e anéis de fibra. Não adianta  aumentar a capacidade de transmissão das torres se elas não tiverem bem conectadas ao nosso backhaul.

Tele.Síntese: E hoje todas as torres do 5G da Claro, obrigatoriamente, têm fibra?
Márcio: Tem que ter fibra. É tudo nosso, lembrando que por enquanto, o desafio ainda é menor do que vai ser para frente, porque estão nas cidades grandes, onde a gente tem rede de fibra pra fazer a banda larga. Mas, cada vez mais, o 5G vai andar junto com a fibra, não existe uma coisa sem a outra.

Tele.Síntese: E como está o FWA? A Claro foi a primeira a lançar…
Márcio:  Sim, fomos um dos pioneiros na entrega do serviço. É para cobrir situações específicas. Por exemplo, food truck, que anda pela cidade toda e quer dar wifi para seus clientes. Existem aplicações específicas que as pessoa topam pagar um pouco a mais para ter a internet móvel e por isso  estão usufruindo uma experiência de qualidade, porque a cobertura do 5G está ficando bastante robusta nas cidades em que a gente esta presente.

Tele.Síntese: E o que chama mais atenção nessa nova tecnologia? É a mobilidade? A tarifa é de celular ou fixo?

Márcio:  O que chama mais a atenção é a mobilidade, com certeza. A tarifa é de fixo, é um plano que custa R$199,00 ou R$299,00 a mensalidade, dependendo da capacidade. E o usuário tem que comprar também o  equipamento, o modem. Mas as pessoas estão aderindo e comprando. Falam em usar até como backup, porque querem ter uma segunda alternativa. E também para usar sua banda larga em qualquer lugar. São as duas propostas de valore  reconhecidas.

Tele.Síntese: Quando os preços dos equipamentos baratearem, o FWA se torna um instrumento importante para novas cidades?

Márcio: Quando a gente olha o footprint de banda larga, estamos bem estabelecidos, em quase quinhentas cidades. Aonde a gente está,  enxerga oportunidades para cobrir casos de prédios com tubulações antigas, que não se consegue nem passar os cabos de fibra. Nas cidades onde não temos a rede fixa de fibra, entendemos que é uma chance de vender acesso de banda larga, embora esteja competindo com players locais que provavelmente têm fibra também. Mas a gente sempre enxerga para o futuro o fato de que teremos que instalar fibra para instalar a torre do acesso ao 5G.

Tele.Síntese: Então, onde vocês levarem o 5G, levam também o cabeamento por completo?

Márcio: Nas cidades acima de cem mil habitantes a gente provavelmente vai estar presente para as duas coisas. Estaremos presentes seja com rede própria, seja com rede de terceiros.

Tele.Síntese – Vocês fizeram acordo com quais empresas de rede neutra?

Márcio:  fizemos com a V.tal e com a ATC. Estamos fazendo alguns pilotos. Tudo é muito recente….

Tele.Síntese: E está dando certa essa equação?

Márcio:  A equação é complicada, porque é preciso remunerar esse terceiro, além da infraestrutura. Em contrapartida, não temos o Capex (investimentos) que teriam que ser feitos. É um modelo econômico diferente.

Tele.Síntese: Ainda esperam o killer application do 5G?
Márcio:  A nossa tendência em busca de uma nova killer application é constante. Já passou um ano e meio, desde que a rede 5G foi lançada, mas as aplicações que estão rodando em cima do 5G são as mesmas que rodavam em cima do 4G. Nada mudou, não está se fazendo nada diferente do que se fazia antes. Estamos prestando muita atenção nos lançamentos dos óculos de realidade virtual, aumentada e mista. Fora isso, o que mais que pode vir de aplicação que faça realmente uso potente dessas redes?

Tele.Síntese: De qualquer forma, você já percebe na rede da Claro 5G há um incremento no consumo de dados, não? 
Márcio: Aumentou muito, mas receita não aumentou. Ela vem crescendo, porque toda vez que você faz upgrade de plano, isso acontece, mas se eu fizesse um upgrade em venda de aparelho no 4G, ela já iria aumentar. O que a gente não está vendo é uma diferença de crescimento de receita por conta da chegada do 5G na Claro. E é um desafio importante para  os próximos anos.

Tele.Síntese: E como é que vocês estão analisando as redes privativas ? Elas vão emplacar? A Embratel está oferecendo um variado leque de serviços… 

Márcio:  O melhor seria ter alguém da Embratel para falar em detalhes sobre esse tema. Mas a gente enxerga que  redes privativas são uma das aplicações chaves para o 5G, que requer novas fontes de receitas. Por enquanto, é muita feira e muita demonstração….

Tele.Síntese: A questão do conteúdo audiovisual, no qual a Claro é líder de mercado. Mas os números dos clientes de TV paga caem mês a mês. Como vocês estão enfrentando essa questão?

Márcio: A gente tem hoje ofertas de TV paga tradicional, mas também tem streaming pelo box, uma plataforma de streaming que você utiliza acessando os canais lineares e também os aplicativos de Otts, Netflix, Prime Vídeo, HBO, todos eles. E também estamos comercializando uma oferta que pode estar em uma TV conectada, ou pode estar em um celular, ou pode estar em um site da web, em que a pessoa usa o seu
próprio device, sua própria conexão de internet para acessar conteúdo, assistir a um jogo… São vários modelos  que estão se complementando e  nos ajudando a retomar ou pelo menos diminuir o ritmo da perda de receita da TV paga tradicional. E esta dando certo.

Tele.Síntese: Mas ainda não substitui o SeAC, não é?

Márcio:  Não, não substitui. O SeAC é um modelo de margem alta e Capex alto, pois temos que oferecer a caixinha, e ainda acrescentar o custo de instalação, custo de atendimento. Mas estamos migrando para um modelo mais leve, mais digital, com menos custo operacional, para atender melhor.

Tele.Síntese: O Congresso esta renovando a lei do SeAC, que estabelece as cotas do conteúdo audiovisual, por mais quinze ou vinte anos. Até lá eu imagino que já acabou o SeAC. Para vocês, com essa migração, deixa de ser fundamental a alteração da lei? 

Márcio: Como o crescimento atual está vindo por serviço de streaming que não é pelo SeAC, esse debate é menos relevante. Seria relevante se melhorasse a vida de quem já tem a TV paga instalada, como retirar diversas obrigações do serviço.

Tele.Síntese: Ainda valeria a pena tirar o peso das obrigações presentes hoje no  SeAC?

Márcio: Sem dúvida! as obrigações, os custos… Os próprios impostos são diferentes, streaming e SeAC pagam impostos diferentes. Um é ISS e o outro ICMS.

Tele.Síntese: Como vocês estão avaliando a reforma tributária, que tramita no Congresso?

Márcio:  Estamos tentando entender o que vai acontecer. Já se falou de diversos cenários. Mas o que a gente não pode perder de vista na reforma tributária, é que o serviço de telecomunicações virou essencial, como foi reconhecido e declarado durante a pandemia. É preciso resgatar esse conceito.

Tele.Síntese: E o ano que vem, como vocês estão avaliando? 

Márcio: Depende das  condições macroeconômicas. Mas estamos sendo surpreendidos. Este ano está um pouco melhor do que antes: uma inflação mais controlada, um desemprego menor, tudo isso é bom. Ano que vem, se rodar nessa perspectiva,  acho que também tem espaço para a gente continuar crescendo. Vai ser o ano de chegar com o 5G no Brasil mais profundo, pois vamos sair das grandes capitais.

Tele.Síntese: O 5G da Claro está antecipado em relação às metas do leilão, não?
Márcio:fizemos muito além do que estava previsto. No próximo ano,  temos metas de melhorar cobertura nas cidades que a gente já está, incrementar a capilaridade e chegar às cidades menores.

Tele.Síntese: Embora vocês contem com a Embratel com cinco satélites, como analisam o ingresso dos satélites de órbita baixa?
Márcio:  A Embratel é um player importante no mercado de satélites, a gente tem investido bastante e lançou um novo satélite recentemente, o que significa que  segue acreditando nesse mercado. Estamos acompanhando essas grandes constelações de baixa órbita, que são globais, e que acabam vindo com uma equação de custo e receita diferentes  do que a gente consegue compor aqui. Mas, pode ser que essas constelações  sejam competidores ou complementares a nossa solução.

Tele.Síntese: Este ano, não houve movimentos muito grandes de consolidação dos ISPs. O mais relevante foi o da Desktop e AmericaNet.  A Claro vai continuar assistindo 
Márcio:  Não posso dizer se a gente vai comprar ou não. Mas posso  dizer  que o mercado está dando sinais de que está mais difícil pescar um cliente novo. Quando se está em um mercado que se cresce menos, busca-se otimização em custos, que pode significar também M&A, que é uma forma de ganhar escala e otimizar ativo.  Enquanto estava todo mundo crescendo, estava todo mundo crescendo, mas o Brasil tem mais de nove mil provedores.  Estamos atentos ao que é melhor para o nosso negócio.

Tele.Síntese: A Anatel lançou uma consulta pública para desligamento do 2G e 3G. Vocês acham que isso é importante?
Márcio: A  gente quer ter  flexibilidade de gerenciar melhor o espectro que está locado. Não faz mais sentido homologar mais aparelhos 2G e 3G.

Tele.Síntese: E as maquininhas do cartão?
Márcio:  Maquininhas, cada vez mais precisam evoluir também para 4G. Ninguém esta falando de desligar de uma hora para outra o 2G.
Estamos defendendo um plano de transição de alguns anos e parar de habilitar novos terminais.

Tele.Síntese: Em relação à pirataria, as ações da Anatel, você acha que tem surgido efeito?
Márcio:  Acho que ainda não… A Anatel está fazendo um trabalho muito bem feito, mas a questão é o bloqueio das transmissões em real time, pois, ao bloquear o que tem muita gente querendo assistir, como um jogo, por exemplo, aí se tira valor da pirataria. Esses grandes marketplaces das big techs que vendem caixinhas que não podem vender, que não são homologadas, também precisam ser responsabilizados.
O problema não é simples, ele é complexo e não tem bala de prata.

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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