Celio Mello: Desafios da IOT e investimentos no desenvolvimento de aplicações
*Por Celio Mello
Diante da aprovação da linha de crédito de R$ 1,5 bilhão pela FINEP – Empresa Brasileira de Inovação e Pesquisa – para iniciativas ligadas à Internet das Coisas, o mercado nacional de provedores de internet deve se preparar para um cenário positivamente desafiador nos próximos anos.
A maior parte dos recursos (R$ 1,1 bilhão) vem da própria financiadora, enquanto o restante (R$ 400 milhões) virá do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel). Para se encaixar no Finep IoT, as empresas precisam se adequar no conceito de Internet das Coisas e demais tecnologias para o desenvolvimento de aplicações nas áreas de Saúde, Indústria, Agronegócio e Desenvolvimento Urbano.
Além dos investimentos no desenvolvimento de aplicações, este mercado também irá movimentar no Brasil e no mundo, recursos em soluções de cibersegurança para Internet das Coisas (IoT), por exemplo. Estudo da Juniper Research constatou que os gastos nessa área devem atingir mais de US$ 6 bilhões em 2023. De acordo com a análise, esse volume apresentará crescimento rápido, com gastos de fornecedores de produtos e serviços (nos mercados de consumo) e nos clientes finais (nos mercados de serviços industriais e públicos) que vão subir quase 300% durante o período.
É neste ambiente fragmentado e em transformação que os provedores ISPs irão atuar, como elementos fundamentais de ligação entre essa variedade de dispositivos e a quantidade exponencial de dados gerados por eles. Esse é o grande desafio – extrapolar a tecnologia e transformar dados brutos em informações qualitativas e estratégicas, que ajudem na otimização dos negócios e na tomada de decisão. É dessa forma que conseguirão se posicionar e evoluir na cadeia de negócios de IoT.
Um exemplo interessante que podemos usar é o caso prático da lixeira pública inteligente. Em um cenário futuro ideal, todas essas lixeiras ou caçambas estarão em um grande ecossistema de tratamento de resíduos, e terão sensores, que emitirão alertas para uma unidade centralizada, avisando quando aquele repositório estiver cheio. A partir desse aviso ou conjunto de avisos diários, a empresa de coleta de lixo – que pode ser pública ou privada – poderá traçar as rotas para sua frota de caminhões naquele dia. As rotas serão diferentes a cada dia, utilizarão um número maior ou menor de veículos dependendo da demanda – em feriados ou eventos públicos, por exemplo – e assim, otimizarão combustível, simplificarão o trânsito e reduzirão custos.
Vale destacar que o conceito de IoT está conectado com tecnologias poderosas de tratamento de informações, como Big Data, computação cognitiva, machine learning e inteligência artificial, onde a riqueza estã nas conexões em rede dos elementos e na capacidade de evolução do tratamento analítico das informações. Neste aspecto, o Provedor ISP está em um posicionamento estratégico e diferenciado de proximidade com o ambiente onde estes dados e informações são geradas e na possibilidade de agregar valor nesta cadeia.
Neste modelo, o provedor pode se contentar em ser apenas um canal para o tráfego seguro das informações ou ele pode evoluir na cadeia atuando como o responsável pela qualidade e manutenção dos sensores, fazer a gestão do sistema e oferecer o serviço para múltiplas empresas em sua área de cobertura ou ainda trabalhar diretamente com as companhias frotistas de diversos segmentos. As possibilidades são inúmeras para agregar uma camada de valor real na tecnologia.
Vislumbramos nos próximos anos uma mudança no mercado, onde os players que hoje se sentem seguros podem desaparecer amanhã e, da mesma forma, um pequeno provedor pode desenvolver uma habilidade diferenciada para atuar de forma estratégica com novos clientes e parceiras. As decisões e planos feitos agora irão definir tudo isso em futuro próximo. Importante estar atento aos sinais!